Ódio ao elogio I
“Suportam melhor a censura os que merecem elogio.” - ALEXANDER POPE
Lápides são os lugares onde eles estão. Epitáfios são pequenas odes escritas para louvar aqueles que ali jazem, sob um amontoado de terra, concreto e mármore. Todos — ou pelo menos a grande maioria — são bons depois de abraçar a morte. O que há de tão especial em não mais existir? Diante das câmeras, os que morreram são descritos como alegres, mães e pais dedicados, pessoas cheias de vida, e com sonhos ainda por serem realizados.
Por que o elogio é tão poderoso?
Os estereótipos, tanto positivos quanto negativos, perturbam a mente. Quando você recebe um rótulo positivo, receia perdê-lo; ao receber um negativo, receia merecê-lo. Carol Dweck, uma das maiores especialistas nos campos da personalidade, nos ajuda a compreender como nos tornamos contumazes amantes da mentira. “No mindset fixo, as imperfeições são vergonhosas, especialmente para talentosos, e por isso eles preferem escondê-las”, afirma. O que é alarmante, diz Dweck, é que trabalhamos com crianças normais e as transformamos em mentirosas, simplesmente porque lhes dissemos que eram inteligentes.
Em um de seus estudos, ficou provado que o simples ato de elogiar interrompeu o desenvolvimento dos participantes. Voluntários que receberam elogios comuns, cumprimentando a sua “inteligência”, tiveram dificuldades em prosseguir com o teste, mesmo depois de terem obtido bons resultados. Por outro lado, a turma que recebeu feedback sobre o valor de seus esforços continuou bem nos testes seguintes. Dweck concluiu que é perigoso exaltar a inteligência das pessoas como um talento permanente. Quem recebe elogios grátis se viciam rápido no prazer de ser exaltado, teme perder esse status, e passa a proteger uma situação que inevitavelmente vai fugir por entre seus dedos. Segundo a professora, a dedicação permanente sobre o nosso aprendizado é o melhor caminho. “Como esse estudo era uma espécie de teste de QI, é possível dizer que elogiar a capacidade reduziu o QI dos alunos, e elogiar o esforço elevou-o”, defende.
Enfim, por mais difícil e trabalhoso, o mindset de crescimento é a solução; e está ao alcance de todos, basta um desejo desvinculado dos falsos elogios. O mindsetfixo limita as realizações. Enche a mente das pessoas com pensamentos perturbadores, “torna desagradável o esforço e leva a estratégias de aprendizado inferiores”, diz Carol Dweck. Para ela, essa mentalidade fixa transforma as outras pessoas em juízes, em vez de aliados.
O elogio desmedido, mesmo que bem intencionado, de acordo com a ciência, pode ser o veneno que mata o espírito criativo das pessoas. Depois de atingir um determinado patamar, primeiro sentimos medo de sair dali e não chegar a um lugar tão bom ou melhor que o anterior; e a segunda metade do desespero é voltar ao antigo local de glória e ele já estiver ocupado. Resultado: colamos os pés no lugar que consideramos o mais seguro do mundo. Novas experiências, jamais!
A sociedade parece viciada em palavras adocicadas, como numa fantástica fábrica de chocolates — O que acham do meu cabelo… da minha sandália… do meu prato… do meu vinho… do meu carro… da minha casa… da minha piscina… do meu marido… mulher… cachorro… filhos… cachorro… do meu candidato… de mim?! — Quanto mais curtidas, e “lindos” e “lindas”, melhor; mesmo que não sejam sinceros.
A nova moeda é o Like; “se ela não curte as minhas coisas, então eu não curto as dela também”. A cada 5 minutos a gente abre o celular para tomar mais uma dose de endorfina. O problema é que os elogios vazios não nos emancipam, eles tendem a nos manter algemados às certezas que não nos emocionam.
Continua…