"Começar de novo"
"O cenário global de saúde vem passando por uma extraordinária mudança tendo a atual pandemia como seu principal propulsor.
As análises globais e regionais indicam que os sistemas de saúde tem se esforçado ao máximo na facilitação do acesso e na cobertura dos casos de COVID-19. Entretanto, por conta da situação inusitada ainda não demonstram um equilíbrio na promoção e preservação da saúde pública no seu sentido mais amplo. Os 213 países afetados não conseguiram, até esse momento, equilibrar a cobertura da demanda pela COVID-19 com as outras demandas de saúde, sem perda na eficiência e na qualidade da atenção regular. Um recente levantamento sobre doenças não transmissíveis da OMS mostra que mais da metade de 155 países estudados interrompeu total ou parcialmente a prestação de serviços de tratamento de várias doenças crônicas. Especificamente em relação ao câncer, 42% desses países apresentam indicadores de redução no acesso, tratamento e rastreamento. São, de fato, impactos sem precedentes, mas não se pode negar a imensa dificuldade que tem sido enfrentar os casos graves da virose inesperada e, ao mesmo tempo manter a integridade e o pleno funcionamento da estrutura de atenção ao câncer, hipertensão, diabetes, também da hanseníase, tuberculose, dos casos de demência, dos distúrbios mentais, dentre tantas outras patologias preocupantes. O dilema é maior quando vemos que forças econômicas, demográficas e sociais têm pressionado cada vez mais os sistemas de saúde não apenas para a prestação de cuidados de saúde universalmente acessíveis, eficazes e cientificamente sólidos, mas também para assegurar que os serviços sejam planejados e prestados de forma a respeitar os direitos dos pacientes e familiares, e a se adequar às suas necessidades de informação, apoio psicossocial e participação na tomada de decisões para os seus próprios cuidados. Portanto, num momento como este, a qualidade e a resposta às necessidades multidimensionais, as exigências legítimas e as expectativas dos pacientes e de seus familiares projetam-se não só no âmbito dos direitos individuais, mas, sobretudo no profundo respeito à dignidade humana que todo sistema deve ter por princípio. Assim, é de se esperar que a partir do processo de abrandamento da pandemia surjam abordagens inovadoras, equilibradas, holísticas e centradas nas pessoas para o cuidado com a saúde como propostas para uma “neo-reforma” dos sistemas nacionais, regionais, estaduais e municipais de saúde em todo o mundo. Que venham redesenhos da saúde pública e das redes assistenciais no sentido de contemplar toda estrutura de educação, prevenção, promoção e cuidados, sem perder de vista a convergência das políticas públicas que garantam a lógica de que a saúde é um catalisador transversal da qualidade de vida cidadã. Portanto, um direito universal e um compromisso social de quem governa. E ainda que esperemos o período pós-pandemia, pensar em rever padrões de planejamento, gestão e prestação dos sistemas e serviços de saúde, será um sinal de que começar de novo vai valer à pena."
medico
4yMuito boa análise. Estamos preparando uma pesquisa RINC/SLACON para avaliar o impacto da COVID19 na atenção em Câncer na A Latina.