Educação Irrelevante
Será tão difícil perceber o quanto estamos sendo ineficazes no nosso modo de ensinar? Ineficazes, por que ineficiente não me parece ser um aspecto válido para discutir. Até porquê ser eficiente num projeto ineficaz é só potencializar a doença em vez de curá-la.
É jogar gasolina no incêndio afinal a ignorância faz jogar qualquer líquido para extinguir qualquer fogo.
Segundo dizem - e vai saber como se calcula isto - já em 2010 foi produzida a mesma quantidade de informação que em toda a História, portanto 6 mil anos em 1. De causar inveja até em Juscelino Kubitschek.
Pensam os assim chamados educadores, vão conseguir compactar tudo isto é inserir nas caixas cranianas de seus pupilos? Pensam ser isto possível? Creio que não. Pensam isto ser necessário? Tenho certeza, pensam que sim.
E como pretendem fazê-lo – querendo dizer, já o fazem? Transformando tudo em uma fila indiana de dados e datas, números e fórmulas, entrouxados goela abaixo, ouvidos a dentro, ticos e tecos derretidos por overload. Apagão intelectual.
Repostas certas. Perguntas pré-fabricadas. Tudo aprendido e geneticamente transmitido nas mesmas cadeiras das mesmas escolas dos mesmos padrões de ensino. Ignorantes letrados, informados de irrelevância transmitindo o vírus da profundidade de poças d'águas às gerações futuras.
Escritores eruditos e leitores ávidos de obras literárias de até 140 carácteres, mensagens cifradas em línguas mais estranhas e intelectualmente limitantes e antropologicamente regressivas em que kd1 fala comu ké.
Ensinamos (como está difícil usar o termo nestes termos) os detalhes da guerra do Peloponeso, mas ninguém, (exceto 2 extraterrestres ainda não dissecados que viraram picolé de geladeiras em Roswell) sabe dizer mais do que 5 frases a respeito da Guerra do Vietnam. Nem eu.
Afinal sou bacharel em Feudalismo. Tive 3 anos seguidos do estudo aprofundado neste importante assunto como aqueles que como eu já há 45 anos aprendia quase tudo a respeito de quase nada que sirva para alguma coisa.
Se não os assombrará o tamanho de minha ignorante erudição, informo que das aulas de Química lembro de assuntos marcantes na minha jornada existencial como oxirredução, decoração da tabela Periódica (que nem útil foi quando decidimos usar algo semelhante para nosso planejamento familiar) e de um tal de H3PO4.
De Física ficou a ansiedade de saber onde colocar os resistores e outros ores naqueles esqueminhas legais nos quais, pelo menos no papel nunca me deram choque.
De matemática, lembro bem da luta interior para tentar entender como e porquê eu tinha de encher um tanque com 2 torneiras e 3 ralos. Causou-me também profunda iluminação os números complexos (Freud os explicaria melhor?), logaritmos, e calcular se a parábolas (acabei preferindo às de Jesus) teria a vulgarmente chamada boca, para cima ou para baixo.
Em geografia me perdi pintando mapas, mas não sei exatamente onde fica Pequim, quiçá aquelas outras cidades chinesas que estão mudando o mapa econômico do mundo. Mas aprendi que a vegetação da África Setentrional é a tundra. Só fiquei sem saber o que era Setentrional e se tundra era de comer ou de passar na cara.
Mas não parei por aí.
Quis expandir minhas oportunidades profissionais e me engaram (na boa, eles também tinha sido enganados antes de mim) que eu tinha de ir pra faculdade. Convenceram-me a passar mais um tantão de anos preso em cárcere privado até confessar todos os outros segredos que eles mesmo haviam deixado guardados a sete chaves no recôndito da Academia.
Aprendi a fazer balanço e a mulher dele. Algo que hoje, tenho a impressão, que um bom ERP faz sozinho e imprime, se eu apertar o botão certo e se o cara que programou aquilo tiver estudado numa faculdade melhor que a minha.
Aprendi a programar em Formol e em Contran, ou algo assim, para não usá-los nunca mais depois da faculdade. Aprendi também o Pascal, que também já tinha sido monte no descobrimento. A propósito que me quiseram fazer acreditar tinha acontecido porque a Escola de Sagres, a NASA da época, errou o chute e acertou por acaso o Brasil. O que seria a mesma coisa se uns 461 anos depois os outros nautas acertassem a Lua por terem ficado numa prisão de vento. Prisão externa a eles assim espero.
Aprendi como mover e adicionar e mover em Assembler para ter um diploma de especialista em Processamento de Dados. Fosse ainda em processo do Código Civil e Penal eu teria tido a chance de prestar para a OAB, e talvez já estivesse no Ministério Público e tentando mudar a cara de Gerson deste país.
Imagino não desejarem mais eu continue este samba do branquelo doido. Até porque podem colocar na cabeça que eu coloquei na minha alguma erva daninha de um relacionamento com uma tal de Maria Joana enquanto frequentava aulas peripatéticas de botecologia.
Sendo bem sincero fugi delas. Coisa de menino comportado. Mas queria mesmo é ter podido fugir de todas as outras e ficar mergulhado em aulas de verdade, de relevância de verdade, até porque nelas eu escolher tanto as matérias quanto os professores.
Aprendi que mais de Administração numa cadeira com um Drucker (ah, sim, que na faculdade – se sabiam – nenhum professor me disse que existia) do que em todas as cadeiras que me esquentaram e achataram os glúteos nas penitenciarias de 3o. grau.
Aprende-se mais ouvindo tapando os ouvidos a ladainha das frases feitas e ouvindo as vozes de defuntos como o Jean Paul, o Ernest, o Machado, o Sommerst, o mais querido dos Jorge ou as músicas do imortal mesmo que ainda vivo, Chico.
Aprende-se mais fora, lançando fora as fórmulas e construindo nosso saber saboreando. Se lambuzando todo sem precisar lavar a cara. Mergulhando de roupa e tudo e sem snorkel nas nas mesmas profundezas em que uns poucos deixaram seus marcos existenciais para iluminar um pouco o caminho de cada novo mergulhador.
Gente que já tinham passado pela Idade da Razão, e não eram mais uns big babys que comem tortinha de maçã só porque a moça, robotizada por processos educacionais para fazer totó dar a pata, te sugere qualquer coisa para acompanhar um número qualquer.
Pra mim chega.
Sonho a recriação de um admirável mundo novo. Um em que as pessoas geneticamente não-selecionadas, e de cores, tamanhos e jeitões diferentes, pensem antes de responder e respondam mais não sei, do que sei o que o outro me disse que sabia e me forçou a saber se não eu não passava nem no Enem que dizer do vestibular na pública.
Clamo, clamo mesmo para voltarmos ao básico, para um tempo em que as fábulas e aquelas parábolas faziam as pessoas se perderem até se acharem. Um mundo onde não esvaziemos as cabeças cheias de possibilidades das crianças e jovens e as transformemos em um microzinho Pentium que mal serve para rodar um joguinho. Mentes mais pobres do que a do HAL9000, que pelo menos participou de uma odisseia.
No lugar de um mundo de big brothers voyeurs psicopatas, haja irmãos mais velhos de verdade ensinando o que for relevante aos seus irmãos mais novos. Conduzindo-os com carinho e atenção individual respeitando-os como indivíduos não como produtos em série e com tags e códigos de barras para facilitar o levantamento do estoque.
Mundo de gente disposta a um passeio onde a bússola seja mais importante que os mapas. Onde a companhia de viagem e a aventura do viver reine. Onde detalhes da Regência Trina Provisória e não desperdice o tempo para entender melhor os efeitos do Estado Novo no nosso tempo.
Anseio pelo novo estado, onde se promulgue a lei áurea do espírito. Anseio pelo despertar de uma era fora do aquário. Onde se jorne pelas estrelas e audaciosamente se vá, até aonde gente nenhuma jamais esteve.
E se ninguém quiser nada disso, penso que a alternativa não seja nem pneumotórax nem esperar por um dia em que se queira. Sugiro reunirmos o pequeno remanescente do homo sapiens, bater um fio pro Mr. Scoth e pedir um tele transporte pois já não terá sobrado muita vida inteligente neste planeta.
No final, se verá numa tela de um azul profundo e a nave se afastando. Os créditos subindo, subindo, subindo, com uma música incidental intencional em versão Yanni:
Segura o tchan, agarra o tchan, segura o tchan... tchan-ran-tchan-tchan, tchan-tchan, tchan-tchan...
Segura o tchan, agarra o tchan, segura o tchan... tchan-ran-tchan-tchan, tchan-tchan, tchan-tchan...
Os créditos irão subindo. Subindo. Subindo, cada vez mais rápido. A nave irá se afastando, afastando, afastando, até virar um pontinho no espaço e desaparecer por completo.
Aí a música desaparecerá.
Haverá então, um longo silêncio. As portas de saída serão fechadas. Dos autofalantes surgirá primeiro uma vozinha doce, aos poucos transmutada numa voz forte, pesada, ditatorial, que numa cadência cada vez mais marcada, anunciará o mantra da mesmice da mesma velha nova era:
Repeat after me: “Segura o tchan, agarra o tchan”
Repeat after me: “Segura o tchan, agarra o tchan”
Repeat after me: “Segura o tchan, agarra o tchan”
The End.
Sou Eduardo Cupaiolo, penso e repenso a experiência do ser humano, na vida pessoal e no mundo corporativo. Quer falar comigo cupaiolo@peopleside.com.br
Em breve, Liderando e Administrando segundo a Bíblia lançamento nacional em novembro. Saiba mais.
Organizational Transformation Mogul @ DBD | Design Thinking Specialist I Fintech Savvy I Attorney at Law
1moA 2a alternativa sem qualquer dúvida e medo de estar errado, mesmo que o gabarito feito por quem queira me convencer do contrário 😂😂😂😂
Gerente de Supply Chain na Alibra Ingredientes S.A. | Gestão Estratégica de Negócios
1moExcelente reflexão Eduardo Cupaiolo. Verdade isso... "aqueles que como eu já há 45 anos aprendia quase tudo a respeito de quase nada que sirva para alguma coisa.", concluindo, como diz a música, ainda somos os mesmos e vivemos (quase) como os nossos pais, na educação.