Estratégia: além da definição (parte 4/11 - Indústrias para o Desenvolvimento de Estratégias)
Conforme Porter, existem quatro meios industriais para o desenvolvimento de estratégia: indústrias fragmentadas, emergentes, em transição para a maturidade e indústrias em declínio. Neste artigo da série, abordaremos os quatro modelos.
Indústrias Fragmentadas
Indústrias Fragmentadas são ambientes com diversas organizações, sendo que nenhuma possui parcela significativa do mercado que possa influenciar o setor e geralmente são constituídas por pequenas e médias empresas (PMEs). Os principais fatores que contribuem para a fragmentação da indústria são as reduzidas barreiras de entrada e falta de economias de escala ou curva de experiências expressivas, que contribuem para a existência das PMEs.
Outros fatores que explicam as características desta indústria são os custos elevados de transporte e de estoque que limitam possíveis economias de escala e inibem a vantagem de porte da organização em transações com clientes e fornecedores, necessidades variadas de mercado que acarretam a diferenciação do produto e barreiras de saída elevadas. Além disso, há as regulamentações do governo que podem impedir a concentração de mercado ou a imaturidade da indústria que conta com organizações novas e sem condições de assumir a liderança do setor.
Para superar a fragmentação, é preciso gerar economias de escala ou curva de aprendizagem, padronizar as necessidades dos consumidores, neutralizar as características que propiciam a fragmentação, tal como realizar fusões ou aquisições. Caso não for possível superar a fragmentação, deve-se buscar o maior valor agregado dos produtos, especialização em determinado segmento, tais como atender um perfil de cliente, especializar-se em encomendas ou em alguma área geográfica. Com o intuito de formular estratégias para atuação em uma indústria fragmentada deve-se analisar a estrutura da indústria, os motivos da fragmentação, identificar as possibilidades de superação e se é lucrativo a busca de liderança.
Indústrias Emergentes
Indústrias emergentes são aquelas que sofreram inovações tecnológicas ou mudanças nas relações entre produto e consumidores que possuem como características estruturais comuns incertezas tecnológica e estratégica oriundas das experimentações das empresas. Essas incertezas acarretam altos custos iniciais, mas com considerada redução no custo, ou seja, acentuada curva de aprendizagem. Quando a indústria está nesta fase de desenvolvimento, é bastante comum a presença de empresas novas, tanto start-ups quanto spin-offs, comercializando produtos para compradores com pouca familiaridade com os bens ofertados e com horizonte de atuação reduzido, em relação a outras indústrias em outras fases.
Os principais problemas encontrados em empresas emergentes são a incapacidade na obtenção de matérias-primas e escala de preços de insumos, falta de infraestrutura, ausência de padronização e irregularidade na qualidade do produto. Alguns parâmetros para a definição de estratégias em indústrias emergentes é a busca de conformação da estrutura industrial, atenção às exterioridades no desenvolvimento industrial, tais como a mudança de papel de canais, fornecedores e barreiras de mercado.
Indústrias em Transição para a Maturidade
A transição para a maturidade industrial é percebida quando o crescimento se torna mais moderado com mudanças importantes na dinâmica competitiva tais como a comercialização dos produtos para compradores experientes, concorrência com foco no custo e oferta de serviços. A maturidade industrial proporciona problemas para a expansão de mercado, tendo em vista a quantidade limitada de compradores, para o desenvolvimento de novos produtos e é geralmente acompanhada pelo aumento da concorrência internacional, pela diminuição dos lucros e aumento do poder de possíveis revendedores, mas com margens reduzidas.
Nesta fase, crescem a importância do mix de produtos ofertados ao mercado, sua respectiva fixação correta de preços e os desafios estratégicos relacionados com maior coordenação entre as áreas, expectativas reduzidas de lucros e aumento da importância dos recursos humanos. Os desafios estão relacionados com a auto percepção equivocada da empresa e do mercado, reações irracionais na disputa de preços e demasiada ênfase em lançamentos de novos produtos.
Indústrias em Declínio
Indústrias em declínio são caracterizadas pelas condições de demanda incertas causadas por substituição de tecnologia, alterações demográficas e mudanças nas necessidades dos consumidores. Corroboram para o declínio as barreiras de saída materializadas nos ativos especializados e duráveis da organização, custos fixos da saída, barreira impostas pela estratégia do conglomerado e até mesmo barreiras emocionais dos gestores. As alternativas existentes são a busca pela liderança na participação no mercado, explorar um nicho ou realizar a colheita, ou seja, aproveitar os pontos fortes durante o desinvestimento e a desativação rápida que se resume em liquidar o investimento antes do declínio.
No próximo artigo da série, abordaremos a Mudança de Paradigma em Planejamento Estratégico.
Mais artigos da série sobre Estratégia:
Estratégia: além da definição (parte 1/11)
Estratégia: além da definição (parte 2/11 - Estruturas de Mercado)
Estratégia: além da definição (parte 3/11 - Estratégias Genéricas de Porter)
Autor: Mardem Feitosa - Graduado em Administração pela Universidade de São Paulo (FEA/USP), com extensão na Chonnam National University, Coréia do Sul. Atua desde 2005 com gestão de empresas, trabalhando com estratégia, controladoria, inovação e implementação de fluxo de processos em empresas de médio e pequeno porte (inclusive startups), em diversos segmentos de mercado, tais como energia e saúde.
Referências Bibliográficas:
BESANKO, David et al. A Economia da Estratégia. Tradução Bazán Tecnologia e Linguistica. – 3. Ed. – Porto Alegre, Bookman, 2006. 608p.
PORTER, Michael E. Estratégia Competitiva: Técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Tradução Elizabeth Maria de Pinho Braga. Rio de Janeiro, Campus, 1986. 362p.
PORTER, Michael E. Vantagem Competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro, Elsevier, 1989. 512p.
PORTER, Michael E. A Vantagem Competitiva das nações. Rio Janeiro, Campus, 1989