"Fake hurts real", Adidas. Falsificações movimentam US$ 509 bi/ano.
O que leva alguém a cometer crimes como fraude no comércio e sonegação fiscal, com penas que variam de 2 a 5 anos, para estampar no peito ou no pé uma marca de luxo assinando um produto falsificado?
Para quem comercializa, é lucro alto X punições brandas + nenhuma moral e escrúpulos.
E para quem consome? Que também está sujeito às penalidades somado ao constrangimento de ter seu nome ligado à inquéritos policiais?
Fica comigo que vou desenhar o perfil do consumidor brasileiro de produtos falsificados de marcas de luxo.
O número de produtos fajutos comercializados (no mundo) aumentou significativamente. As empresas, especialmente as de marca de luxo, tentam combater a pirataria com campanhas que, ora apelam para a moral e honra, ora apelam - com humor - para o amor-próprio do sujeito que compra produto ilegal.
Uma frase e o ícone da marca Adidas em band-aids, simples, direto, limpo, elegante e eficaz (que baita campanha da Adidas, né?).
Uma frase que sintetiza um problema grave, de difícil solução, o mercado da falsificação.
O mercado da falsificação é um problema grave pra indústria produtora e também pra quem é consumidor que paga o preço de produtos originais das marcas de luxo, e não quer ser visto/ confundido com um "marginal" (= que vive à margem da sociedade {da alta sociedade}).
fonte: SPC Brasil, 2016.
Então, esses 45 milhões de brasileiros sabem que estão infringindo a lei, têm vergonha disso (dados do relatório SPC), têm medo de serem descobertos pelos pares (da classe C) e mesmo assim continuam comprando produtos falsificados ou pirateados. Por quê?
Para quem é do clube do marketing, branding e publicidade as respostas seriam estas: comportamento de consumo, compra aspiracional, status, segunda escala na pirâmide de Maslow etc
(Para quem não trabalha com gestão de marcas ou publicidade pode ser difícil entender alguns jargões que usamos, então explico o termo compra aspiracional, significa "aspiração", atingir uma meta, um sonho, então é comprar para atingir um patamar, não é necessidade: fome, sede ou proteção, é desejo!)
Quando você escolhe um produto, por exemplo, um tênis para passear, e escolhe não um tênis qualquer, mas um tênis da marca Adidas você não quer apenas um calçado. Quer mais do que um calçado, quer usar uma marca que tenha 70 anos de história, que garanta conforto e que seja sofisticado, com um design icônico, que o distinga dos outros mortais que não podem pagar r$ 499,99 por um tênis SUPERSTAR 80S RECON.
E não custa r$ 499,99 apenas pela tecnologia empregada ao longo do tempo para proporcionar conforto, nem apenas pelo material usado na confecção, mas sim e principalmente pela marca estampada na peça (e toda a simbologia e os significados que aquele signo carrega, o Brand Equity. ahhhhhh, é ou não é uma beleza essa "ciência" chamada branding).
Isso é a compra motivada não pela razão, pela necessidade, mas pelo desejo. Aspiração de pertencer àquele universo em que marca habita.
Porque ao usar um produto com uma marca, nesse exemplo uma marca de luxo, o consumidor está evocando - através do ritual da posse - todo o SIGNIFICADO CULTURAL que a MARCA CARREGA. (McCracken explica isso bem)
E o sujeito fará o que for preciso para ser visto como poderoso, rico, bem sucedido, e se uma marca lhe traz essa imagem (projeta essa aura de sucesso mais rapidamente do que trabalhar, muito, e enriquecer de fato) no uso de um produto é essa marca que ele desejará possuir. E se não puder pagar os r$ 499,99 vai comprar o produto fabricado clandestinamente e vendido de maneira ilegal.
Porque o produto falsificado de marca de luxo é seu passaporte pra esse universo.
O mundo da moda é um instrumento poderoso na transferência de significados culturais dos bens de consumo para o indivíduo. (McCraken).
Desde que o mundo é mundo desejamos ter mais do que temos ou somos, isso não é errado, ao contrário, aspirar crescer, possuir bens, melhorar de vida, espiritualmente, intelectualmente e materialmente é louvável, trágico é ver --- em números --- a quantidade de jovens brasileiros que desejam apenas a imagem projetada do sujeito bem sucedido.
O atalho para o sucesso, nesse caso, é o caminho para o fracasso.