Gargalos de produção
Um sistema produtivo é composto por diversas etapas, como: compra de matéria prima, manufatura, embalagem, estocagem, controle de qualidade e, finalmente, vendas.
Os extremos desse sistema são: a entrada dos recursos que serão transformados, iniciando pela compra das matérias primas, o que chamaremos de input. O outro extremo é o output, ou seja, a venda dos produtos acabados ao consumidor final.
Os “gargalos” são todos os pontos dentro de um sistema industrial que limitam a capacidade final de produção. E por capacidade final de produção devemos entender a quantidade de produtos disponibilizados ao consumidor final em um determinado intervalo de tempo.
Para exemplificar, imaginemos uma indústria cujo setor de manufatura tenha capacidade para produzir mil unidades por hora de um determinado produto. Se o setor de embalagem dessa mesma indústria for capaz de embalar apenas oitocentas unidades por hora, teremos aí um gargalo, uma vez que a linha de produção não poderá trabalhar com sua capacidade total, pois o setor seguinte não é capaz de embalar todas as peças. Ou então, caso a produção das mil unidades seja mantida, será necessário estocar produtos não embalados, o que significará custos para a empresa.
Da mesma forma, se o setor de embalagens fosse dimensionado para embalar duas mil unidades, mas a manufatura só tivesse capacidade para mil, teríamos aí outro gargalo, desta vez no setor anterior. Isso resultaria em ociosidade no setor seguinte, o que significa capital subutilizado e, consequentemente, aumento da parcela dos custos fixos diluída em cada produto.
Há ainda outro tipo de gargalo que nem sempre é identificado. Trata-se do gargalo no atendimento ao cliente. Este é o mais grave, pois está localizado na saída do sistema, justamente nas vendas.
Já vimos que um gargalo significa a geração de ociosidade de uma ou mais partes de um sistema, o que adiciona a cada unidade dos produtos maior parcela dos custos fixos.
O maior nível de ociosidade ocorre quando o gargalo se localiza próximo ao input, ou seja, no início da produção, pois todas as fases seguintes do sistema ficam comprometidas. Por outro lado a ociosidade do sistema pode não ser o mais grave. Na verdade, quanto mais próximo ao output (saída), mais prejudicial ela será. Isto porque, avançando dentro do sistema produtivo, teremos também a agregação dos custos variáveis, ou seja, aqueles que só existem com a produção. Neste caso, o bem foi produzido, houve gasto de matéria prima, adição de mão-de-obra e outros recursos, mas, devido ao gargalo na saída, não houve geração de receita com a venda.
Alguns autores não consideram o setor de vendas como integrante da produção e tão pouco classificam as falhas neste setor como gargalos.
O fato, porém, é que, se houver alguma restrição à saída dos produtos, consequentemente não haverá entrada de receita. Assim, de nada adiantará haver produção se não houver suficiente fluxo de saída desta. E isso é sim um gargalo.
Por outro lado, de nada adiantará uma enorme capacidade de vendas, se o setor produtivo não for capaz de suprir a demanda.
Tudo isso não está limitado apenas ao setor industrial. Na verdade, os estabelecimentos comerciais, embora apenas revendam bens, sem os produzir, costumam sofrer fortemente os efeitos dos gargalos. No caso os gargalos no atendimento.
Nem sempre é fácil localizar gargalos. E mais difícil ainda é eliminá-los. Ainda mais quando houver vários deles combinados dentro do sistema produtivo.
Solucionar o problema, no entanto, é crucial para manter a competitividade da empresa, uma vez que sua existência pode representar enormes custos, enquanto sua eliminação pode trazer grande economia e eficácia produtiva.
O auxílio de um consultor especializado nesse momento pode ajudar bastante. Esse profissional será capaz de olhar toda a estrutura com uma visão sistêmica de todo o processo, observando-o por uma ótica externa, o que evitará a utilização de soluções caseiras, que geralmente costumam se mostrar ineficazes e, por vezes, desastrosas.
Pense nisso!
COMPLEMENTAÇÃO DO ARTIGO: GARGALOS DE PRODUÇÃO
(PERGUNTA DE UM ALUNO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DA PRODUÇÃO)
"Caro professor,
Estou elaborando minha dissertação de mestrado e gostaria de contar com seu auxílio sobre a seguinte questão: qual é a relação existente entre a capacidade do gargalo e a capacidade final da empresa?
Obrigado!"
Att. Jesé Gonçalves Neri
RESPOSTA DO PROFESSOR:
Olá Jessé!
Antes de mais nada agradeço imensamente pela sua visita à nossa página e devo dizer que fico lisonjeado por poder contribuir com seu trabalho de pesquisa.
Bem, com relação à sua pergunta ("qual é a relação existente entre a " capacidade do gargalo" e a capacidade da empresa?"), creio que seria correto afirmar que existe sim uma relação direta entre o gargalo e a capacidade da empresa.
Para responder de forma bem simplificada: é mais ou menos como aquela expressão conhecida que diz que a resistência de uma corrente se mede em função da resistência do seu elo mais fraco. ("a força de uma corrente se mede pela força de seu elo mais fraco"). Mas isso, repito, é uma resposta bastante simplista, afinal há diversos fatores a serem considerados, como, por exemplo: se o "gargalo" é crônico (permanente) ou temporário. Se for temporário e de fácil resolução, obviamente o comprometimento da capacidade final da empresa será menor, ou seja, sua capacidade não será tão prejudicada.
Porém, se o "gargalo" for permanente, todo o sistema acabará se equilibrando ou se "adequando" em função dessa limitação, num processo de “homeostase”.
É preciso também verificar em que momento o gargalo ocorre, ou seja, em qual estágio da produção ele está localizado.
Há também casos onde existe um conjunto de gargalos, havendo vários deles espalhados por diversos pontos da empresa, ou em diversos estágios do sistema produtivo, podendo estar ou não combinados entre si.
O assunto "gargalos na produção" é bastante interessante e dá margem a bons estudos.
Visitando algumas empresas verifiquei o uso de várias “soluções” mirabolantes que procuram "resolver" o problema dos gargalos, porém nenhuma delas me pareceu muito sensata, pois, na maioria das vezes, aumentam absurdamente os custos operacionais, chegando, em alguns casos, a quase causar a inviabilização total do negócio.
A coisa acontece mais ou menos assim por aí a fora: Imagine que você tem uma caixa d'água, com uma capacidade de escoamento de 1000 (mil) litros por minuto. Só que você acaba colocando no cano de saída uma torneira inadequada, que só tem capacidade de vazão de 100 (cem) litros por minuto. Isso é um gargalo.
Qual seria a solução?
A lógica diz que seria trocar a torneira e colocar uma com capacidade maior de vazão, (eliminar o gargalo) para poder aproveitar todo o potencial da caixa d'água (empresa), certo?
Pois bem, só que tenho visto várias empresas se utilizando de fórmulas bem menos óbvias. Uma delas é instalar outras 9 torneiras de 100 l/h, para chegar à capacidade total de 1000 l/h.
Até aí poderíamos pensar: "mas isso também resolve o problema, não?".
Isso elimina o "gargalo", obviamente, porém a que preço?
Lembre-se que instalar mais 9 torneiras significa custos imediatos de instalação, além de aumento nos custos operacionais (a mão-de-obra para abrir e fechar as torneiras).
Enfim, quando o assunto é gargalo na produção é preciso pensar muito bem, pois não basta eliminá-los. É preciso eliminá-los de forma correta.
Espero poder ter ajudado você em seu trabalho.
Grande abraço!