Momento de atenção com os jovens
Vou começar este texto de forma positiva para não parecer tão negativo. Existem na nossa sociedade jovens de extremo valor assim como instituições exemplares que se dedicam à preparação deles para os desafios da vida. Muitos estudam, se esforçam com o objetivo não só de prosperarem na vida material, mas também para terem relacionamentos estáveis, constituírem família, ajudarem de alguma forma no meio em que vivem, enfim, procuram ter uma vida equilibrada dentro daquilo que imaginamos serem fatores para se alcançar a felicidade, independentemente de classe social.
Dizem que no passado ou num passado não tão distante as pessoas eram reprimidas e, assim, não exteriorizavam suas angústias; hoje, a liberdade que se imagina ter leva as gerações mais novas a se expressarem das mais diversas formas imaginando-se que vivem uma felicidade plena, muitas vezes e tão somente, exteriorizada através das tão faladas redes sociais, entre uma selfie e outra, aguardando a quantidade de curtidas ou os comentários típicos de “linda, linda”, “poderosa” ou coisas do tipo, que valem para todos os gêneros.
Mas dentro deste mundo imaginário de felicidade e excitação permanente, chama-me a atenção o número de artigos publicados analisando certos comportamentos que ajudam a desvendar o que há por trás do palco, na realidade dos bastidores.
A revista Piauí, de fevereiro (2019) publicou um artigo de autoria da jornalista Mônica Manir intitulado “Em nome do nada” onde retrata a dura realidade dos índices de suicídio entre jovens. Relata que já existem até grupos de mães de jovens suicidas, informa também que o suicídio já é a quarta causa de morte no Brasil (dados de 2016) na faixa etária de 15 a 29 anos e que os números só crescem, sendo que em 2016 foram 281 a mais que em 2010 e 955 a mais que em 2000. Diz ainda que este drama atinge famílias de todas as etnias e classes sociais, ou seja, mais uma vez provando que dinheiro não é tudo.
Alguns comportamentos que parecem ser aglutinadores, através de grupos virtuais, provavelmente escondem uma tremenda solidão que pode se exteriorizar de diversas formas, seja nos adereços e pinturas no próprio corpo, ou até mesmo na automutilação - que foi artigo da jornalista Júlia Marques publicado no Estadão em maio (2019). Neste artigo, segundo a Professora do Instituto de Psicologia da USP, Leila Tardivo, as mutilações são fruto da frustração e da depressão, além da participação do mundo virtual onde os jovens publicam suas automutilações - que podem ser “turbinadas” por páginas na internet que até incentivam tal prática. Estamos falando de frustrações e depressão em crianças de 12, 13, 14 anos, fase da vida em que deveriam estar brincando... Pelo menos, era assim.
Um pai, numa matéria da revista Veja de janeiro (2019), relata que não consegue tirar seu filho do tablet e dos jogos eletrônicos e que só conseguiu ter um contato mais próximo quando faltou luz e foram brincar juntos; um jovem de 14 anos relata que é raro ver e ter contato visual com os amigos; afinal, as conversas são através dos aplicativos...Ou da jovem de 16 anos que declara ser tomada por um sentimento de tristeza quando suas postagens não atingem o número de curtidas que ela imaginou. A reportagem traz dados e números que são muito reveladores. Seu lar, seus filhos e você, leitor, podem estar fazendo parte desta estatística.
Isso me faz refletir sobre o que era e o que é brincar; por exemplo, não se canta mais “atirei o pau no gato”. Ao final, o gato, vítima da sociedade, não morreu e Dona Chica se revelou ser uma senhora cruel pois não foi em defesa do animal. Mocinho e bandido, então, nem pensar! Dependendo de que lado você estiver, cabe até um processo de assédio...Hoje, as brincadeiras são jogos eletrônicos, onde há luta e perseguição por todos os lados, onde o sangue jorra dentro de uma pancadaria generalizada. Tudo normal... Deve ter sido o revólver plástico do cowboy infantil e o desenho animado do Pica-Pau que forjaram a sociedade perversa de hoje. Se for assim, podemos imaginar o amanhã.
Nesta mesma linha de análise, chegamos às drogas, sejam elas legais ou ilegais; é só passear pela região da Avenida Paulista nas noites de sábado, para ver jovens, meninos ou meninas, das mais variadas idades, carregando - para qualquer um ver - garrafas de bebida alcoólica, que bebem no gargalo até caírem pelas sarjetas da vida. Isso, sem contar as drogas mais pesadas, ilícitas, que, como bem diz o Prof. Carlos Alberto Di Franco em artigo publicado no Estadão em maio (2019) “...Não existe consumidor ocasional. Existe, sim, usuário iniciante que, frequentemente, engrossa as fileiras dos dependentes crônicos. Afinal, a compulsão é a marca do usuário de drogas. Um cigarro de maconha pode ser o começo de um itinerário rumo ao desespero.” Não, estes jovens não são vítimas , pessoas que vivem à margem da sociedade; se vestem com acessórios da moda, que foram pagos por alguém ou até por eles mesmos e vai saber como...
Falando em renda, trabalho e sustento, pesquisa recente publicada no Estadão em maio (2019) mostra que 40% dos jovens estão ou já estiveram com o nome sujo. Bela forma de encaminhar uma vida que promete ultrapassar os cem anos. Revelador é outro dado trazido pela Veja (janeiro 2019) onde a falta de interesse pela independência financeira fica clara quando “...pela primeira vez na história, menos da metade (43%) dos jovens americanos tenta procurar algum tipo de rendimento próprio ao longo das férias escolares. Além disso, em comparação com os anos 1980, dobrou o número daqueles que nem cogitam trabalhar logo.”
Minhas questões recorrentes, às quais não tenho encontrado resposta: onde estão os pais destes jovens? Qual a estrutura familiar que os cerca? Mais uma vez, dinheiro não é o fator preponderante no relacionamento entre pais e filhos.
Notem que todos os artigos mencionados foram publicados em 2019 e que o assunto já está sendo motivo de estudos científicos e discussão mais frequente, porém, a velocidade destas análises não está sendo suficientemente rápida para nos permitir preparar um futuro que possa ser mais humano.
Termino citando outro artigo, publicado no Estadão em maio (2019), onde um estudo da Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a Microsoft, revela que a alta (e inevitável) adoção da inteligência artificial poderá reduzir a taxa de ocupação nos postos de trabalho em até 4 pontos percentuais nos próximos 15 anos, atingindo, em cheio, os trabalhadores menos qualificados apesar de que tais sistemas podem aumentar a renda e o bem estar da população em geral. Mas, o que chama a atenção aqui, é a importância cada vez maior do fator educação.
Tristemente, ao final desta leitura, podemos concluir que não é apenas a educação formal que é fundamental, mas também está faltando educação dentro de casa.
Correspondente Bancário na ANTONIO CARLOS AMENDOLA FILHO - ME
5yabraço.
Correspondente Bancário na ANTONIO CARLOS AMENDOLA FILHO - ME
5yMuito bom, Vignoli. braço.
Diretor de Expansão na Cacau Show, Professor convidado MBA na FIA, Membro da Comissão de Expansão ABF e do Comitê de Expansão do IDV, autor de "Empreendedores de Coração" e "Franquias: tudo o que você precisa saber"
5yJosé A. Penteado Vignoli meu caro, muito obrigado por esta tão importante e coerente contribuição (como pai em início de carreira - Maria de 6 anos e Alice com 4 anos - me interesso muito pelo tema). Forte abraço, Arlan Roque