Redpill, Thalis, Teologia da Dominação, Marçal e Teocracia - uma análise.
Após a polêmica envolvendo Thalis Gomes e a conturbada eleição paulista, resolvi me aprofundar um pouco mais no assunto, uma vez que ambos os influenciadores são apenas a ponta de um iceberg muito, mas muito mais profundo do que podemos imaginar. Em uma análise isenta e sem cunho religioso, abordarei a profundidade desse tipo de pensamento, tanto de Thalis quanto do próprio Marçal, entre outros atores políticos e influenciadores em voga na esfera 'cristã-redpill'.
Para quem acompanha a evolução neopentecostal no Brasil, nota-se um crescimento populacional significativo, principalmente após a década de 80. De acordo com uma pesquisa do Datafolha de 2019, cerca de 31% dos brasileiros se identificavam como evangélicos, incluindo os neopentecostais. É evidente que há uma enorme segmentação entre os 'cristãos' ditos evangélicos, mas os neopentecostais, em termos percentuais, são a maioria. Assim como houve o crescimento evangélico, a sociedade brasileira também evoluiu, principalmente após a década de 70.
As mulheres passaram a ter um novo papel social, e a taxa de fecundidade sofreu quedas gradativas no Brasil. Em 1960, a taxa de fecundidade era, em média, de 6,3 filhos por mulher. A partir da década de 60, foi sendo gradativamente reduzida: 1970 (5,8), 1980 (4,4), 1991 (2,9), 2000 (2,3) e, em 2006, para 2 filhos por mulher. Mais recentemente, já deve estar inferior a 2 filhos, o que contribui para a previsão de um declínio populacional nas próximas décadas. Além disso, as mulheres passaram a ter um papel ativo em novas frentes de emprego, no mercado de trabalho, e deixaram de ser coadjuvantes para se tornarem protagonistas.
Essa ascensão ainda incomoda muita gente e muitos segmentos sociais, sendo o mais relevante, talvez, o evangélico. Isso se deve, principalmente, a alguns aspectos defendidos por certos segmentos neopentecostais, especialmente pelos adeptos da 'Teologia da Dominação'. Mas afinal, o que é essa teologia? Em suma, é:"
A teologia do domínio, também denominada dominionismo, é um conjunto de ideologias políticas que buscam submeter a vida pública ao domínio religioso dos cristãos (notadamente neopentecostais), e da interpretação que estes fazem da lei bíblica.
A principal corrente, e talvez a que mais interesse neste artigo, é a Teologia Pentecostal Kingdom Now, um ramo teológico do dominionismo, com seguidores, como já mencionado, no pentecostalismo. De forma bem resumida, essa corrente aborda a disputa de poder entre Satanás e Deus pelo domínio da humanidade. Nessa batalha espiritual, os 'profetas de Deus' serão os reis e controladores deste mundo. Para os defensores, a 'Guerra Espiritual' ocorrerá em todos os campos sociais, como Educação, Política, Artes, Ciência, entre outros.
Principalmente após 2010, um dos ramos mais prevalentes do Kingdom Now e do dominionismo moderno tem nome e sobrenome: Mandato dos Sete Montes! A síntese dos sete montes propõe que os 'cristãos' estabeleçam uma TEOCRACIA, com foco no retorno de Jesus. Para isso, precisam dominar:
O mandato se baseia em duas passagens bíblicas: Isaías 2:2-3 que diz: "E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros", e Apocalipse 17:1–18, que descreve "uma besta escarlate... [com] sete cabeças e dez chifres"
E aqui cabe uma ressalva: outras religiões, em seus aspectos mais ortodoxos, igualmente buscam a dominação pela fé, como o Talibã, os judeus ortodoxos com suas interpretações radicalizadas da Sharia ou mesmo do Talmude. São minorias que buscam uma fé radicalizada e que destoam da maioria de muçulmanos, judeus, budistas, etc.
O Brasil herdou muito desse pensamento conservador e reacionário dos EUA, onde a representatividade dessas ideias teológicas e políticas afirma ser um dever cristão 'controlar uma sociedade secular pecaminosa'. Em 2005, foram enumerados alguns alicerces a serem defendidos, que abaixo citamos!
Daí, quando passamos a ver nos noticiários a destruição de imagens sacras, o vandalismo de túmulos, terrenos de umbanda e, mais recentemente, até a expulsão e fechamento de igrejas católicas, bem como a perseguição a muçulmanos, judeus e outras religiões destoantes da visão dominionista pentecostal, ocorre uma normalização progressiva e aceita por muitos dessa nova 'visão de mundo'.
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É aí que Thalis, com sua visão machista sobre mulheres CEOs, a ideia de salvação por meio da política defendida por Marçal, e movimentos 'masculinos' como 'redpills', 'bluepills', 'blackpills' e cia. convergem para a normalização de certas ações.
George Grant escreveu em seu livro de 1987, The Changing of the Guard: Biblical Principles for Political Action:
Os cristãos têm uma obrigação, um mandato, uma incumbência, uma santa responsabilidade de recuperar a terra para Jesus Cristo – de ter domínio nas estruturas civis, tal como em todos os outros aspectos da vida e da religiosidade... mas é o domínio que buscamos. Não apenas uma voz... a política cristã tem como objetivo principal a conquista da terra – dos homens, das famílias, das instituições, das burocracias, dos tribunais e dos governos, para o Reino de Cristo.
Sob essa ótica, bandeiras como o aborto, a laicidade do Estado, o casamento homoafetivo e outras modernidades tornam-se questões que unem, sob o mesmo teto, movimentos, pessoas e o dominionismo. Um aspecto que chama a atenção, especialmente no que tange ao novo papel feminino na sociedade, é justamente a queda na fecundidade. Isso se coloca como um contraponto ao Gênesis 1:28, onde Deus concede à humanidade o 'domínio' sobre a Terra:
E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: "Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra".
Aqui está a versão corrigida do texto, com ajustes na concordância e pontuação:
"Como assim contraponto? Na visão dominionista, é inerente o papel da mulher na multiplicação, frutificando a cristandade. Ao alçarem novos papéis, os filhos se tornam secundários, ficando atrás do bacharelado, da carreira e da independência financeira. Inclusive, um pastor muito famoso chegou a pregar que as universidades são terreno fértil para desvios satânicos/luciferianos e seculares, defendendo que pais 'zelosos' não devem enviar ou permitir que seus filhos estudem nessas instituições.
E onde tudo isso converte? Numa teocracia cristã, num 'evangelistão' tão obscuro quanto o Afeganistão do Talibã. Passamos a ter 'mentores' religiosos, pastores e líderes que defenderão a submissão à 'lei cristã', que regerá usos, costumes e o afastamento de seculares da sociedade. Esse é um perigo que, desde a década de 80, tem ganhado espaço.
Não é uma crítica aos cristãos, mas há uma parcela deles que, sem escrúpulos, de dentro de seus jatinhos, de seus mega templos e com o discurso da prosperidade, anseiam por um povo submisso, servil, sem criticidade e cegamente temente a Deus. Contudo, essa 'temência' só será válida se for validada por interpretações torpes das escrituras. Recentemente, o Papa Francisco declarou que 'todas as religiões são um caminho para Deus', que religiões diferentes são como 'idiomas diferentes' para se chegar a Deus, e concluiu: 'Se você começar a afirmar: "Minha religião é mais importante que a sua, a minha é verdadeira e a sua não". Onde isso nos levará?'
De fato, essa é a evolução natural das coisas, e diante dessa afirmativa, que não interessa à Teologia da Dominação, aos Pablos e aos Redpills, soa como uma agenda woke, liberalismo e libertinagem secular. Quando se tenta impor essa agenda 'conservadora' goela abaixo, abrem-se inúmeros precedentes de perseguição, submissão e escravização dogmática."
Rosaldo Bonnet
Administrador, Livre Pensador, Escritor dos livros "As Cruzadas, os Templários e a Maçonaria", e "A Prosperidadade, através das 07 Leis Universais".
Data Science | Gestão de Projetos | Logística | Autor e Escritor dos livros "Prosperidade através das 07 Leis Universais" e "As Cruzadas, os Templários e a Maçonaria".
3moEduardo Moreira