A revisão dos padrões de consumo: impactos positivos para o meio ambiente e a sociedade
por Lucio Vicente

A revisão dos padrões de consumo: impactos positivos para o meio ambiente e a sociedade


Um dos temas mais polêmicos quando falamos de sustentabilidade é a revisão dos estilos de vida e padrões de consumo. Muitas vezes, ao iniciarmos uma conversa sobre o tema, as pessoas deduzem naturalmente que revisitar hábitos e consumo significa parar de consumir, o que não é verdade.

Meu pensamento sobre consumo sempre foi muito ligado à prática - calma, não vou soltar a famosa frase do “quem me conhece sabe...” -, mas o ponto é que a coerência de estilos de vida e padrões de consumo resvalam diretamente em posicionamentos e direcionamento para quem estuda, trabalha e convive com sustentabilidade. Um ponto importante neste diálogo é conseguirmos separar a diferença entre consumo e consumismo. A partir disso, é possível estabelecer uma diferença crucial entre os dois movimentos: necessidade e excedência.

O consumo é o uso de bens e serviços para atender às necessidades essenciais e melhorar a qualidade de vida. O consumismo, por outro lado, é o excesso e o desperdício, impulsionados pelo desejo de status e satisfação imediata, passageira, sem considerar as consequências econômicas, ambientais e sociais no longo prazo.

Um dos fatores históricos que mais acentuaram o desenvolvimento do consumismo e do consumo não consciente está na publicidade. Apesar de o pensamento contemporâneo nos remeter que a publicidade se iniciou no século XX, com o advento dos meios de comunicação de massa, o ato de publicizar vem de muitos séculos, desde o surgimento do comércio e, consequentemente, dos vendedores que gritavam nos polos comerciais e ruas das cidades. Aprimorados com o surgimento da escrita e evoluindo ao longo dos séculos, alcançamos movimentos que levaram a publicidade a movimentar o que chamamos de consumo de massa.

A estratégia de consumo de massa no Brasil

No Brasil, a estratégia de consumo de massa foi fortemente promovida durante os períodos de crescimento econômico, com políticas de crédito facilitado e campanhas publicitárias massivas. O surgimento do rádio e da TV potencializou o uso dos primeiros influenciadores. Personalidades famosas passaram a recomendar e associar suas imagens a produtos, utilizando sua popularidade e contribuindo para que seus fãs (nos dias de hoje chamados seguidores) passassem a consumir os produtos e serviços pelos quais eram patrocinados. Estabelecido por uma relação de confiança e associando produtos a fatores ligados à autoestima, o consumismo passou a dar seus primeiros passos.

O consumo pela influência passou a criar uma mentalidade onde o valor das pessoas é medido pelo que possuem, transformando o consumo no principal objetivo de vida.

“Quem somos nós, pessoas comuns aos olhos de qualquer um, para dizer que comprar em excesso não é saudável, se uma celebridade, com sucesso e prestígio, diz o contrário?”.

Citando a teoria da sociedade líquida defendida por Zygmunt Bauman, na qual os indivíduos tendem a considerar racional a atitude em que não haja comprometimento com nada, o consumismo ganha espaço em relações de consumo superficiais, pautadas pelas necessidades de aceitação coletiva.

O efeito rebote ao impacto na criação de dependência de consumo se transforma em consumismo. As pessoas passam a tentar suprir questões emocionais construindo necessidades e comprando produtos e serviços supérfluos em um modelo de produção em escala, que exige aumento significativo na extração de recursos naturais, na utilidade passageira, na constante movimentação logística, no desperdício, entre outros impactos econômicos, ambientais e sociais.

Atuando na liderança do Instituto Akatu , tenho reforçada a necessidade e o ativismo coletivo para revisitarmos constantemente nossa relação com o consumo. Não excluindo o fato de sempre considerarmos condições socioeconômicas em assuntos complexos, da democratização do acesso e da liberdade de escolha, no âmbito das discussões sobre mudanças climáticas e das necessidades planetárias, não há como termos mudanças estruturais na sociedade se não colocarmos na mesa o diálogo sobre como estamos influenciando pessoas a existirem para consumir o que não precisam e não dando a elas as informações necessárias de como os produtos que consomem afetam positiva e negativamente o planeta.

Esta é uma chamada para que o conceitual presente nos discursos faça parte da prática. Não há como mudar comportamentos sem envolver a revisão das decisões sob esta ótica no dia a dia das empresas, o que inclui a participação de lideranças empresariais, influenciadores, áreas de marketing e comerciais, agências de publicidade e comunicação, suprimentos, sociedade civil organizada, governos e demais partes interessadas.

Vocês venderão mais e melhor, com um consumidor mais consciente e seguro de suas decisões.


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João F.

CEO na JFX Global Trading | Negociação Internacional

5mo

Economia linear > Economia circular. Belo artigo e reflexão, Lucio!

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