Viticultura de Precisão: A Importância de Sensores na Propriedade
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Viticultura de Precisão: A Importância de Sensores na Propriedade

Nesta entrevista à Dra. Cynthia Junqueira e à Dra. Gabriela Cristina Salgado da Espectro Ltda. , o pesquisador Dr. Luis Henrique Bassoi conta sobre viticultura de precisão, as vantagens da adoção de tecnologias e os benefícios agronômicos e econômicos aliados à adequação do manejo com possibilidade de agregação de valor ao produto. Discute também as vantagens do monitoramento do meio ambiente e sobre as principais barreiras para o produtor aderir às novas tecnologias.

Engenheiro agrônomo (ESALQ / USP campus de Piracicaba - 1985). Mestre em Agronomia / Irrigação e Drenagem (FCA / UNESP campus de Botucatu   1990). Doutor em Ciências / Energia Nuclear na Agricultura (CENA / USP campus de Piracicaba - 1994). Pós-Doutorado (University of California, Davis, USA - 2000). Hoje é pesquisador na Embrapa Instrumentação, em São Carlos - SP. Membro do corpo docente e orientador de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), UNESP, campus de Botucatu.

Desenvolve pesquisas no contexto da agricultura irrigada e agricultura de precisão e digital. É líder do projeto de pesquisa “Vitivinicultura de Precisão na Região Sudeste” com apoio da FAPESP.

[Cynthia Junqueira] O que é Viticultura de Precisão?

[Luís Henrique Bassoi]  A viticultura de precisão refere-se à aplicação da agricultura de precisão no sistema de produção de uvas para mesa ou para vinho. Basicamente, tem como atributo o uso de procedimentos, equipamentos e sensores que permitem obter dados que caracterizam a variabilidade que um vinhedo apresenta ao longo de sua área, ou até mesmo a variabilidade que existe entre vinhedos (variabilidade espacial), e a variabilidade ao longo vários anos ou safras (variabilidade temporal).

Pesquisador Dr. Luis Henrique Bassoi (arquivo pessoal)


[Gabriela Salgado] Quais as vantagens da viticultura de precisão?

[LHB] Inicialmente, é preciso deixar claro que a aplicação da agricultura de precisão pode ser vantajosa quando uma área agrícola apresenta variabilidade de algo que interfira na sua produção. A viticultura de precisão pode permitir ao técnico ou produtor conhecer as diferenças dentro de um vinhedo ou entre vinhedos. Algumas dessas diferenças como vigor de plantas, a existência de manchas de solo, e a inclinação do terreno que influencia na incidência de luz solar sobre as plantas podem ser percebidas a olho nu. Porém, diferenças quanto à profundidade e o volume de água que um solo pode armazenar, os teores de argila, silte e areia e de nutrientes e matéria orgânica presentes no solo, a quantidade de nutrientes que a videira absorveu, a quantidade e peso de cachos, e as características enológicas das uvas podem não ser tão facilmente percebidas. Para isso, o uso de sensores e equipamentos, de acordo com procedimentos de agricultura de precisão, pode ajudar a conhecer essa variabilidade, o que pode permitir que algumas práticas agrícolas sejam realizadas de modo diferenciado, ou seja, o manejo possa variar de uma parte a outra do vinhedo ou entre vinhedos.  

[CJ] Como incentivar a adoção da viticultura de precisão?

[LHB] O maior incentivo que pode existir é que ao realizar um manejo diferenciado o viticultor pode, por exemplo, fazer a aplicação de maior ou menor quantidade de calcário, fertilizantes e compostos orgânicos caso tenha conhecimento onde há maior ou menor acidez do solo e onde a fertilidade do solo é maior ou menor; pode colher uvas de regiões do vinhedo que possuam plantas mais e menos vigorosas e que tenham uvas com algumas características enológicas diferentes, e assim serem vinificadas separadamente, o que pode permitir a obtenção de vinhos com características distintas. Pode haver, inclusive, agregação de valor ao produto.

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[GS] Como o monitoramento do meio ambiente auxilia a viticultura de precisão?

[LHB] O monitoramento do meio ambiente pode auxiliar a conhecer e registrar o clima em uma área produtora de uva quanto a determinadas variáveis que podem auxiliar no manejo de irrigação (evapotranspiração de referência), na previsão de incidência de doenças e pragas (chuva, temperatura e umidade do ar, insolação solar) e o acúmulo de graus dia à medida que a videira inicia o seu crescimento e desenvolvimento. A temperatura do ar de 10º C é considerada a mínima desejável, e especificamente no florescimento, temperaturas acima de 18º C podem ser favoráveis. A atividade fotossintética pode ser maior quanto os valores encontram-se entre 20º C e 25º C, enquanto que acima de 35º C a temperatura do ar pode ser excessiva. Chuvas e temperatura do ar estão relacionadas com a maior ou menor incidência de pragas em videiras. O monitoramento permite também um conhecimento sobre a variabilidade temporal do clima na área. Vale destacar também que, caso os vinhedos de uma fazenda ou vinícola apresentem diferenças em relação à posição no relevo (inclinação), diferenças quanto à temperatura e umidade do ar e insolação solar podem ocorrer, o que pode requerer a instalação de uma estação agrometeorológica em cada situação do terreno. Pode haver, nesse caso, uma variabilidade de fatores climáticos em razão das diferenças do relevo.

[CJ] O monitoramento do meio ambiente facilitaria a vida do viticultor?

[LHB] O conhecimento das variáveis climáticas pode trazer segurança para a adoção de medidas preventivas contra a incidência de doenças e pragas, para a aplicação de água conforme a evapotranspiração da cultura, e até para melhor estimativa com base no acúmulo de graus dias. Equipamentos e sensores utilizados corretamente podem trazer uma maior assertividade ao viticultor, que junto com o acompanhamento diário e a experiência adquirida ao longo dos anos, pode diminuir as chances de erros por causa de falta de informações confiáveis.

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[GS] Quais as principais barreiras para os viticultores aderirem às novas tecnologias?

[LHB] As barreiras podem existir se os equipamentos e sensores não apresentarem um custo acessível e facilidade de operação e manutenção, e se não houver capacitação de técnicos e produtores sobre como utilizar os dados para gerar uma informação que os oriente a realizar uma prática agrícola que dependa do conhecimento do clima.


[CJ e GS] Estamos muito gratas pela entrevista e pelas informações relevantes sobre a correlação entre viticultura de precisão, monitoramento do meio ambiente, pressão de pragas e doenças e o manejo diferenciado que pode ser realizado com adoção de tecnologias agregando valor ao produto.

Nós da PalmaFlex temos verificado que cada vez mais culturas de alto valor agregado dependem de tecnologia de sensoriamento in loco para aumento da rentabilidade do produto, especialmente quando se fala de produção de uvas de mesa e de produção de vinhos.

 

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Roberto Lyra Villas Bôas

Frequentou a UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"

6mo

Parabens Bassoi pela apresentação.

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