Você tem tempo pra pensar?
A paisagem da minha semana de pensamento

Você tem tempo pra pensar?

Foi no documentário “O Código Bill Gates" que tive contato pela primeira vez com a ideia das "think weeks", ou semanas de pensamento. O fundador da Microsoft se isola duas vezes por ano – uma em cada semestre – em uma casa no meio de um parque. Leva consigo livros, artigos e seu cérebro. O objetivo é pensar.

Conta-se que muitas das inovações que foram implantadas na Microsoft tiveram seu embrião nessas semanas. Na realidade, esse foi um aprimoramento de uma rotina da infância: desde criança, Bill Gates se refugiava na casa da vó com seus livros. 

Achei aquilo maravilhoso e decidi que queria as minhas próprias semanas de pensamento. No momento escrevo pra você de frente a um jardim projetado por Burle Marx, em Petrópolis, ao som de passarinhos. Acabaram de passar borboletas amarelas voando em dupla – juro.

Fiz do meu jeito. Não me isolei tanto quanto Bill Gates: vim acompanhada de uma amiga, escritora, para o que apelidamos de “retiro de escrita”. E já recomendo a experiência.

Percebi de fato o poder de criar um tempo pro cérebro pensar no segundo semestre do ano passado, quando deixei a empresa que fundei em nome dos meus princípios. Na semana seguinte ao anúncio da saída, fugi – ia trocar a palavra, mas é essa mesmo – pra Amazônia. Dessa vez fui sozinha.

Nunca tinha ido e não sou exatamente uma pessoa adaptada ao mato, mas uma amiga indicou o lugar perfeito: Anavilhanas. Não, não tem mosquito – muita gente me pergunta isso. O Rio Negro é ácido demais, o que afasta os insetos. Paisagens absurdas de lindas, gastronomia impecável, livros na bagagem e uma promessa: não vou pensar em trabalho.

Não teve jeito. As ideias começaram a brotar do nada. Eu estava em um barco, navegando em meio aos igapós, e veio o nome da empresa nova na cabeça: Independência, Pendência, Indie, Indepe, In… Indê! Eu tive que pegar o celular, abrir o bloco de notas e guardar ali. 

Na hora nem amei tanto o nome Indê quanto amo hoje. Aprendi que as ideias realmente boas parecem bobas na origem. Às vezes simples demais. Com frequência são as melhores.

Esse bloco de notas me acompanhou durante os seis meses de intervalo entre a empresa antiga e a nova. Em nenhum momento tive a intenção de preenchê-lo, mas, quando as ideias boas vêm, elas ocupam 100% da minha mente até serem anotadas. Elas são teimosas.

A página do bloco de notas se chama “Empresa nova”. São tópicos aleatórios. Vou listar alguns só pra você ter uma ideia do caos (íntimo isso, hein?): “estabelecer metas de faturamento baixas", “mexido da minha mãe", "vamos entregar o que os clientes querem", "amor ao aprendizado", “propósito", "questionário depois pra ter certeza de que melhoramos a vida das pessoas", “gostamos de investir e de viajar: como fazer os dois?", “reserva de emergência tem que ser conteúdo grátis", “dar nome às caixas no método”, “investimento pra quem tem mais o que fazer”, “a pessoa deveria ir preenchendo a carteira enquanto faz o curso”, “comece pelo por quê”, “algo divertido”… 

Fui rever agora e me assustou como ali está a origem de tudo, a semente da Indê. Tudo escrito enquanto eu navegava na Amazônia, atravessava a costa californiana com minha irmã, explorava os encantos de Diamantina com minha mãe, lia literatura e estudava de forma despretensiosa sobre investimentos, marketing e principalmente felicidade.

Pra quem via de fora, talvez eu estivesse apenas viajando, fazendo uma parada, um intervalo improdutivo. “Ih, coitada, se perdeu…". 

O fato é que, sem querer, dei tempo pro meu cérebro pensar. E a Indê nasceu seis meses depois muito mais saudável do que eu poderia sonhar àquela altura.

Posso dizer pra você com convicção que as melhores ideias estão naquele bloco de notas. E que o tempo que dei pro meu cérebro pensar foi um investimento com retornos excepcionais.

Ali fiz um compromisso comigo mesma de aceitar que preciso desse tempo.

Não lotar a agenda de compromissos (uma amiga me ensinou a agendar também horários comigo mesma), fazer pausas, viajar, mesclar trabalho com prazer… hoje fazem parte pra mim do plano de ser mais inovadora, criativa e produtiva. Na verdade sempre fizeram, mas hoje tenho mais consciência disso.

Como construir patrimônio passa por investir, mas também, é claro, pelos resultados do seu próprio trabalho, achei que valia a pena trazer essa reflexão aqui pra você: Quanto tempo tem que você não para pra pensar?

Um abraço,

Luciana Seabra.

Murillo Eduardo Valim Rodrigues

Head Transformação Operacional | Customer Experience | Executivo Sistema Financeiro | Multiplicador Academia Santander

1y

Fantástico e mega inspirador!!!!!!

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Diogo Patriota

SAP Financial Expert e Arquiteto de Soluções na Capgemini

1y

A cabeça fica cheia, sem tempo para descansar, pensando em tudo que temos de pendente, mas e aquilo que queremos realmente? O descanso, o tempo a mais com a família, as brincadeiras com os filhos, um tempo nosso também? Esse artigo demonstra que temos que parar para não surtar e dar importância às coisas boas que temos na vida. Obrigado Luciana Seabra!

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Márcia Antunes

Gestão Financeira | Consultoria e Educação Financeira | Assessoria Financeira | BPO Financeiro | Ajudo Pessoas e Empresas no controle e na condução da sua Gestão Financeira

1y

Que reflexão! Vc sempre com seus artigos inspiradores! ❤️ Não costumo fazer pausas... na verdade nunca tinha passado pela minha cabeça... mas nos últimos meses, venho pensando muito nisso, na importância que essas pausas tem em nossas vidas, para fazer brotar novas ideias. O ócio criativo! Aprendi e continuo aprendendo muito com vc Luciana Seabra. À propósito, ainda estou ansiosa na fila de espera por uma nova abertura da Indê. Parabéns! 👏

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José M. Antunes

Advogado/PQO Compliance

1y

Original. Parabéns.

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