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Imigração

Busca pela cidadania portuguesa fica mais sofisticada e encontra milhares de brasileiros com direito

Vista da Praça do Comércio e Rio Tejo, em Lisboa

A triagem da cidadania portuguesa para brasileiros ficou mais sofisticada. É um processo crucial para este lucrativo mercado, repleto de milhares de potenciais clientes e em ascensão.

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Todo brasileiro elegível e de posse dos documentos exigidos pode requerer a cidadania, garantida por lei na descendência direta. Terá que pagar as taxas em Portugal aos órgãos responsáveis. Mas há quem prefira o auxílio de um escritório especializado, que cobra pelo serviço de rastreamento genealógico, nem sempre tão simples.

A concorrência ficou acirrada e os especialistas têm se adiantado aos pedidos, pesquisando as origens de parte da população brasileira.

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O Clube do Passaporte, por exemplo, informa ter elaborado estudo com base nos descendentes dos judeus que foram obrigados à conversão ao cristianismo na Inquisição portuguesa e espanhola. 

Segundo o escritório e seu fundador, o advogado israelense Itay Mor, milhões de brasileiros sequer sabem que têm uma possível ligação com estes antepassados.

— São os chamados cristãos novos, famílias que foram obrigadas a se converter ao cristianismo no período da Inquisição. Alguns dados apontam que os judeus chegaram a representar 20% da totalidade da população portuguesa. Na época colonial, a maioria desses novos cristãos migraram para o Brasil — escreveu Mor em comunicado enviado ao Portugal Giro.

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Em 2015, Portugal ampliou a Lei da Nacionalidade aos judeus sefarditas, habitantes da Península Ibérica que se espalharam pelo mundo após ordem de expulsão em 1.496, durante o reinado de D.Manuel I. Mais tarde, a ordem virou obrigação à conversão ao cristianismo. Mesmo assim, a intolerância levou à morte mais de três mil pessoas no bairro judeu de Lisboa, em 1.502.

O escritório afirma que “qualquer descendente judeu da época da Inquisição, independentemente se este tenha se convertido ao cristianismo ou conseguido fugir, tem direito à cidadania”. Comprovar a ascendência pode ser problema para quem perdeu laços genealógicos.

— A nossa pesquisa é realizada por genealogistas especializados, de forma muito aprofundada e pode chegar até a 15ª geração. Além do direito à cidadania, gera um estudo genealógico familiar fantástico — afirmou Gabriel Ezra Mizrahi, cofundador da empresa.

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O escritório diz ter traçado uma estimativa a partir do livro “Os judeus que construíram o Brasil”, de Anita Novinsky, “que cita o número de famílias cristãs novas que vieram para o Brasil e suas respectivas cidades logo em sua chegada”. Depois, cruzaram dados do total de número de habitantes com os de cristãos novos.

“Famílias bem conhecidas das quais ascendem milhões de brasileiros foram obrigadas a conversão, como Castelo Branco, Barros, Nogueira da Gama, Antunes, Ribeiro, Do Vale, Fonseca, Pereira. Os dez sobrenomes mais típicos brasileiros (Silva, Santos, Oliveira, Rodrigues, Gomes e etc ), têm origem portuguesa e foram adotados por cristãos novos no batismo. Somado o número de brasileiros só com esses sobrenomes, chegamos ao número de 31 milhões”.

Depois de um ano de estudo, a consultoria internacional Martins Castro, com sede em Lisboa, informa ter descoberto “número expressivo de netos e bisnetos de portugueses em cidades das regiões sudeste e metropolitana do Rio Grande do Sul, fato desconhecido pela maioria das pessoas e que se deve ao fluxo migratório mais recente”.

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A empresa diz ter criado um banco de dados que assegura a cidadania portuguesa para gaúchos descendentes. Para chegar a este ponto, usou a tecnologia para cruzar informações e localizar documentos.

Gabriel Dias, genealogista da empresa, integrou a equipe de estudos que afirma ter verificado núcleos de entrada de portugueses no Brasil nas cidades gaúchas entre 1890 e 1920. Eram pontos, onde, de acordo com a equipe, realizavam quarentenas antes de seguirem para outras regiões. 

Esta situação era mais comum em São Paulo, Rio e Pará. Mas a consultoria afirma ter detectado  “hospedarias situadas em Charqueadas, Rio Grande e Ilha dos Marinheiros, que também promoviam a primeira recepção”. Por isso, segundo os genealogistas da Martins Castro, “possuem atualmente vários grupos de gaúchos descendentes”.

— Nossas estimativas iniciais, levando em consideração a região mapeada até o momento, apontam para cerca de 15 mil netos de portugueses. No entanto, são necessárias avaliações mais detalhadas e esses números podem aumentar consideravelmente se forem incluídos os bisnetos e outras cidades do Estado, que ainda precisam ser investigadas —  explicou Dias em comunicado.

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A falta de prova documental é um obstáculo. Para superar esta etapa, os pesquisadores contam ter usado “programas para o cruzamento das informações, que permitem o rastreio e a geração de dados” de uma mobilidade que deixou um rastro de anotações particulares, mas também nas administrações públicas brasileira e portuguesa e nos cartórios da época.

— Nosso trabalho é, primeiro, encontrar. Depois, fazer o cruzamento e transformar tudo em informação. Com essa análise das informações, conseguimos fazer previsões e criar estratégias mais certeiras para buscar novos documentos que possam ser necessários durante o processo de concessão da cidadania portuguesa — contou Dias.

 A análise prévia dos casos é gratuita, mas depois é preciso agendar reunião e pagar para dar continuidade ao processo. Os custos podem variar a cada caso.



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