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Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


Impulsionado pelo fato de ser um ativo do Grupo City, o Bahia está entre os clubes que mais investiram para a temporada 2024. Contratou uma série de jogadores talentosos para mudar de vez de patamar na hierarquia do futebol brasileiro. Mas, como ainda é um projeto em transformação, há detalhes importantes para ajustar antes de alcançar os objetivos.

Um deles foi exposto publicamente pelo técnico Rogério Ceni após a derrota no primeiro jogo da final do Campeonato Baiano, diante do arquirrival Vitória. O Bahia tem muito talento e capacidade de controle do jogo através das suas peças de meio-campo, mas não há reposição em termos de características quando essas referências cansam.

Cauly e Everton Ribeiro comemoram gol do Bahia — Foto: Tiago Caldas / EC Bahia

Não se trata de duplicar Everton Ribeiro, Caio Alexandre, Cauly e Jean Lucas, mas de ter mais jogadores no banco com valências que sejam similares às desses titulares. De fato, o plantel não tem.

O Tricolor possui boas peças para o ataque entre os reservas: Biel, Ademir, Óscar Estupiñán, Rafael Ratão, Luciano Juba – que também joga de lateral -, mas pouca gente confiável para repor no meio-campo e manter o padrão.

Rogério Ceni, Jean Lucas e Caio Alexandre — Foto: Letícia Martins / EC Bahia

É verdade também que é papel do treinador desenvolver alternativas para fazer a equipe ter mais competitividade em cenários diferentes, e isso não aconteceu exatamente. A Série A será o grande teste. Não se espera que o Esquadrão fique abaixo da primeira página da tabela. O investimento permite tal expectativa.

Ceni tem desenvolvido uma equipe que busca a bola para controlar os jogos. Não se sabe como será diante de adversários mais poderosos tecnicamente longe de Salvador, mas até o momento não houve variação neste comportamento. Há qualidade para entregar um bom perfil propositivo.

A começar pelos zagueiros. Kanu e, principalmente Cuesta, participaram de vários gols do time na temporada. São encorajados a tentar passes que descubram os companheiros nas costas da linha de meio adversária. Por isso trabalham bem adiantados e têm apresentado alto índice de acerto nessa proposta.

O time-base do Bahia na maioria dos jogos em 2024 — Foto: Rodrigo Coutinho

Cauly, Everton Ribeiro, Jean Lucas e Thaciano se oferecem como opção neste espaço do campo frequentemente e depois de acionados imprimem a marca individual nas ações. Os dois primeiros servem os homens mais abertos em profundidade, visam Everaldo, ou finalizam para a meta.

Jean e Thaciano batem bastante de média distância, mas fazem movimentos de infiltração com e sem a bola na defesa adversária. Thaciano, inclusive, é o grande goleador do time em 2024. Tem jogado basicamente como um segundo atacante no momento ofensivo.

Aliás, a distribuição de peças do Bahia no campo de jogo é bem peculiar. Cauly, que no momento defensivo é o homem mais adiantado do time, trabalha como um meia-atacante em fase ofensiva. Sempre centralizado, à frente de Caio Alexandre, Jean Lucas e Everton Ribeiro.

O trio citado acima mantém a estrutura de posicionamento com e sem a bola quase sempre. A única variação envolve Thaciano. O camisa 16 dá amplitude ao time em vários momentos pela esquerda, mas, quando a bola se aproxima da área, ganha liberdade de infiltração para finalizar.

Ocupação de espaços do Bahia em fase ofensiva. Rezende alinhado aos zagueiros. Arias livre para avançar. Um losango no meio. — Foto: Rodrigo Coutinho

Quando Thaciano não está no setor, Jean Lucas abre para a esquerda para compensar e não deixar o espaço desocupado. Thaciano e Everaldo voltam fechando os lados do campo no momento defensivo, trabalho que exige bastante fisicamente do camisa 9. Poi,s quando o time tem a bola, ele busca a área ou o espaço entre o quarto-zagueiro e o lateral-esquerdo rival.

As funções ‘’híbridas’’ não param por aí. É importante entender também o comportamento dos laterais tricolores. Arias chegou bem ao clube e ganhou a posição de Gilberto. Tem liberdade de avanço e dá amplitude ao time no setor.

Pela esquerda, pelo menos antes da chegada de Iago Borduchi – ex-Inter -, Rezende tem atuado improvisado. Sem a bola, defende normalmente como um lateral-esquerdo em linha de quatro. Com ela, é o terceiro elemento da saída de bola com os zagueiros.

Caio Alexandre é mais um dos destaques do time. Entrega a conhecida dinâmica na circulação da bola e faz ótimos passes por elevação na área. Grande parte das jogadas se resolve na faixa central, através do talento e da capacidade de improviso do quarteto de meio-campo. O time ganha a área e finaliza através disso. E a produção tem sido alta.

Bahia em fase defensiva vira um 4-1-4-1. Everaldo e Thaciano retornam pelos lados para auxiliarem os laterais — Foto: Rodrigo Coutinho

Os maiores problemas do Bahia, além da já citada dificuldade de manutenção do estilo ao longo dos 90 minutos, são de ordem defensiva. Tem sido difícil ter segurança nas transições ao perde a bola. As pressões da equipe podem melhorar para que a última linha de defesa não fique tão exposta em contragolpes rápidos. Cuesta sofre bastante com isso.

O lado esquerdo da retaguarda é o mais vulnerável. Rezende cometeu alguns erros técnicos de marcação, e defender não é exatamente uma especialidade de Luciano Juba quando escalado por ali. Não são raros os momentos em que os adversários encontram combates permissivos e cruzam a uma área que precisa ser mais bem protegida pelos zagueiros.

Outro problema aparece ao marcar em bloco médio. Falta uma pressão mais efetiva ao homem da bola, e melhorar a coordenação da última linha ao correr para trás em passes de profundidade. As bolas paradas aéreas têm sido sinônimo de eficiência no ataque e na defesa. A quantidade de gols sofridos assim é baixo, e o percentual de triunfos na área adversária é alto.

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