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Por André Ribas


Sete anos de Europa, Seleção Brasileira, Bola de Prata no sub-20, Copa América no currículo, Champions League e interesse do Real Madrid. Uma carreira dos sonhos de qualquer jogador. Dudu Cearense viveu tudo isso como atleta, mas é no mercado financeiro — nos números — que o ex-jogador se sente realizado.

— Hoje sou muito mais realizado no mercado financeiro. Sabe por quê? Se não existisse o Dudu jogador, esse cara aqui não seria realizado. O meu processo como atleta foi importante para fazer o que faço hoje. O lado de cá é menos difícil, porque é o mundo real.

Da Seleção ao mercado financeiro, Dudu Cearense se dedica a ajudar atletas

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O auge na carreira do meia-atacante veio quando estava na Rússia. No país, defendeu CSKA Moskva. Conquistou duas vezes a Supertaça, duas vezes o campeonato local e três vezes a taça da Rússia. Desempenho que gerou interesse do Real Madrid.

No Brasil, foi formado pelo Vitória, passou por Goiás, Atlético-MG, Fortaleza e aposentou-se no Botafogo, em 2018.

— Tinha data-fifa. Real Madrid, Machester City e Portsmouth queriam me contratar. Eu estava indo para Londres conhecer o Manchester. Quando desço no aeroporto, recebi uma ligação do meu agente: "Saia do táxi e venha para Madrid, o Real está te querendo. Eu disse: "Mentira". Falei que só acreditava se ele mandasse uma passagem para mim e para o meu amigo. Deu vinte minutos e ele mandou.

— Voltei para o aeroporto e viajei. No outro dia, chegou o diretor do Real Madrid. Fui lá, conheci o estádio. Eles me queriam para o ano que vem. Eu tinha uns 24 anos. Mas não fui para lugar nenhum. Tinha questão de visto de trabalho. Aí, chegou o outro ano e fui para a Grécia.

Dudu, com camisa 8: Daniel Carvalho, Nilmar, Jefferson e Kléber como parceiros — Foto: Arquivo pessoal

O interesse por finanças veio ainda quando jogava, em 2014, no Goiás. A preocupação com o patrimônio fez com que ele se dedicasse aos estudos e criasse gosto pelo mercado financeiro. Depois, precisou lidar com o preconceito por ser ex-atleta para entrar em um meio bastante fechado.

— Quando atleta começa a carreira com pouco conhecimento, ele escuta os mais velhos. Na época, tinha amigos que trabalhavam na parte de imóveis e sempre falavam: “Compre um imóvel, aluga e constrói. Em 2014, na época do Goiás, eu me incomodava que eu tinha um bom patrimônio, mas sem ter liquidez".

— Comecei a estudar, fiz o curso de finanças e me apaixonei. Ali, eu entendi o mercado financeiro. Resolvi me profissionalizar e ajudar minha classe. É um mercado apaixonante, você não para de estudar.

Dudu Cearense foi Bola de Prata e artilheiro do Mundial Sub-20 (Chuteira de bronze - dividiu o posto com outros três atletas) — Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, Dudu Cearense é sócio e CEO da OKTO Investimentos — uma empresa de finanças. Ajuda os atletas no planejamento financeiro e de patrimônio. Atende atletas de várias divisões, vários salários, mas com um objetivo: ter um pós-carreira sem sustos e mantendo uma realidade de vida próxima de que tinha quando atuava. Confira a entrevista.

Dudu Cearense revela como quase acertou com o Real Madrid

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A sua aposentadoria foi planejada?

— Ninguém se planeja para encerrar. Poucos planejam. Mas tinha na cabeça que não iria demorar, mas antecipei meu pós. Tentei encerrar no Vitória. Até brinco: não encerrei, me encerraram.

Mercado financeiro costuma ser um meio fechado. Como foi para um jogador entrar?

— O atleta já tem um preconceito. Quando você fala que é um jogador, já olham meio assim. Costumo dizer, eu vim lá de Fortaleza e nunca foi fácil. Muitos duvidavam que eu conseguiria aprender e trabalhar no mercado financeiro, quando consegui duas certificações, eu vi que eu consigo. Quando você é atleta, você depende de uma equipe, do treinador, da torcida, do momento, estádio, campo. Tem muitas variantes. Neste caso, meu trabalho, só dependia de mim.

No pós, não apareceu nenhum convite para ir para o campo?

— No Botafogo, o diretor era o Anderson Barros. Comecei a fazer essa parceria com ele, mas eu era jovem, não estava pronto. Acabei não ficando. Também tinha um projeto como Vitória, mas não deu certo. E engraçado que eu tinha esse perfil. Eu ficava bastante no banco e ditava o jogo. Eles falavam: “Tem que ser treinador”. Apesar de ter perfil, eu queria encerrar este ciclo. O atleta é muito crucificado. Você passa 20 anos nessa pressão, aí, volta tudo novamente. Eu decidi que queria estar no futebol de uma forma diferente.

Dudu Cearense Botafogo — Foto: Satiro Sodré / SS Press / Botafogo

Que tipo de assessoria você presta aos atletas?

— É uma assessoria de vida. Sou sócio parceiro de uma empresa de investimentos. Faço um planejamento financeiro e patrimonial. O atleta é o pilar da família. Eu não preocupo com quanto ele ganha hoje e sim quanto ele consegue poupar ao longo da vida como atleta. Entro nesse processo e falo: “Será que daqui a 15 anos você consegue manter o padrão de quanto você ganha hoje?” Às vezes, não. No futebol, você não tem certeza de nada. Existe um escuro no futuro, mas é possível precificar isso.

— Essas questões são preocupantes (jogadores com dívidas, esquema de pirâmide). O que aconteceu com alguns atletas, em casos de pirâmides, atrapalhou o meu processo. Imagina, um ex-atleta acontecer isso em nosso meio e um e um ex-jogador ser profissional dessa área, existe uma desconfiança daí.

— Estou com dez atletas, eles estão protegidos hoje e ninguém pode enganá-los. Querendo ou não, é uma carreira curta. Ele é o pilar financeiro da família. Se acontecer algum imprevisto, ele acaba esquecendo. O jogador tem etapas: construção da carreira (15 aos 20), o crescimento dela (21 aos 25), depois, a consolidação (dos 25 ao 30). Mas, aos 30, se não tiver um planejamento, já começa a cair.

Como é processo de entendimento?

— Se alguém, chegar para você, e prometer rentabilidade maior do que o mercado, pule fora. Se alguém oferecer algo que coloque o seu capital em nome de terceiros, pule fora. O medo vem pela falta de conhecimento. Ele não precisa ser especialista, mas precisa entender o que está sendo feito. Tem muitos que têm essa desconfiança por falta de desconfiança. Aí que eu entro. Quando eles entendem, é muito legal. Alguns buscam o primeiro milhão, depois querem o segundo.

Estamos vendo casos de jogadores na Série A, como Dudu, Scarpa....

— Estamos falando de atletas de alto nível, imagina o restante que está lá atrás. É preocupante, afeta nossa classe. Não consigo atender todo mundo. Mas, quando atleta me procura, ele chegará pronto para ouvir o que ele precisa. Tem muita oportunidade que chegam para eles. Às vezes, são pessoas a redor que prejudicam eles. É difícil controlar isso.

O caso do Scarpa ficou muito famoso. E ele citou como afetou nele dentro de campo, de como pode atrapalhar o rendimento…

— Esse caso me atrapalhou, eu fui afetado de alguma forma. São atletas envolvidos. O que aconteceu com o Scarpa, mostra que eles começaram a entender que não existe dinheiro fácil. Os atletas foram usados. O jogador precisa buscar informação, isso é para ontem. Nossa classe tem pouca informação.

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Você usa uma frase: “Você já foi enganado no futebol? Eu já”. O que aconteceu?

— Já fui enganado por empresários, assessores. Por empresário, um agente falava que pagava meus impostos. Aí, você descobre que ele não pagava. Tive que pagar uma dívida com a receita.

Futebol a cada dia envolve mais dinheiro. Um menino na base já tem um salário alto. Isso facilita para ser enganado?

— Quando eu jogava no Vitória, eu ganhava cinco mil reais. Depois, tive que ir ao Japão. O exemplo básico: se o atleta não começa desde cedo o planejamento, imagina saindo de cinco mil para 100 mil. Você fica sem saber o que fazer. Terá um amigo indicando para comprar um imóvel. E ele compra, é natural. Você fica sem capital para proteger. É uma linha perigosa. E tudo isso muito rapidamente. É preciso ter uma estrutura que pense no atleta.

Os clubes possuem um papel importante nessa parte?

— É difícil falar. O clube ficará preocupado com a parte mental, mas a financeira é sensível. Ele pode implementar ensinando o básico. Mas, se o atleta irá fazer, é outra coisa.

Dudu Cearense - ex-jogador - que atua no mercado financeiro. — Foto: Reprodução

O que é o pós-carreira de um jogador?

— Existe vida pós-carreira. Eu vou te falar, é maravilhoso. O atleta, que está vendo essa entrevista, não espere chegar aos 35 para pensar. Aproveita e estuda para manter o que conquistou. Esse lado de cá é maravilhoso.

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