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Por Rafael Lopes

Comentarista de automobilismo do Grupo Globo

Voando Baixo — Rio de Janeiro

Williams Racing

Existe vida no automobilismo fora da Fórmula 1. Talvez não exista uma frase mais verdadeira no automobilismo internacional. Já há alguns anos, apenas 20 vagas estão disponíveis na categoria. E nem sempre os melhores pilotos, os maiores vencedores nas categorias de base, os prodígios serão os donos delas. Por problemas financeiros das equipes, principalmente as menores, algumas delas são ocupadas pelos famosos pagantes, uma onda que se intensificou recentemente, com milionários comprando a ida de seus filhos com cheques recheados de muitos zeros. Com isso, vários pilotos muito talentosos não conseguiram disputar uma temporada sequer. E acabaram se firmando em outras categorias. Mas o sonho da F1 permanece lá, latente, esperando uma oportunidade de se concretizar.

Ainda dentro do carro, Nyck de Vries comemora a vitória no ePrix de Berlim da Fórmula E — Foto: Stefan Matyba/vi/DeFodi Images via Getty Images

A sexta-feira do GP da Espanha, em Barcelona, terá um momento desses. Aos 27 anos, Nyck de Vries terá sua primeira chance de participar de um fim de semana de corridas na Fórmula 1. O holandês pilotará o carro do tailandês Alexander Albon no primeiro treino livre, como forma de cumprir um novo item do regulamento, a obrigação de cada equipe testar novatos em ao menos dois TLs em 2022. No caso do campeão mundial da Fórmula E, sua presença na Williams também serve para pressionar o titular Nicholas Latifi, que vive um inferno astral desde o infame acidente com Mick Schumacher no GP de Abu Dhabi de 2021, que mudou os rumos do campeonato. De lá para cá, o canadense de 26 anos, muito pressionado, cometeu erros em profusão, principalmente em 2022.

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De Vries já esteve cotado para vagas na Fórmula 1 algumas vezes ao longo dos últimos anos, mas sempre sem sucesso. Além de titular na Mercedes na Fórmula E e atual campeão mundial, ele é um dos reservas das flechas de prata na Fórmula 1. E vem de uma grande corrida no último domingo, no ePrix de Berlim, na Alemanha. O holandês fez uma grande largada, ultrapassou o pole position Edoardo Mortara, da Venturi, na primeira curva e depois administrou a vantagem para vencer pela segunda vez em 2022. A consistência do piloto foi uma aula de gestão do equipamento, algo essencial na Fórmula E. De Vries hoje é um piloto maduro: conservador quando exigido e agressivo quando necessário.

Com a saída da Mercedes da Fórmula E no fim da temporada atual, De Vries vive um momento de incerteza. Enquanto busca uma vaga para permanecer na categoria elétrica, o holandês busca equilibrar seu tempo com o Mundial de Endurance (WEC) - ele é cotado para uma das vagas da Toyota nos hipercarros. Outra possibilidade é correr na Fórmula Indy: fez um teste no início do ano em Sebring com a equipe Meyer-Shank e deixou uma excelente impressão. É nesta encruzilhada que a Fórmula 1 aparece novamente na vida de De Vries com o treino livre na Williams, tornando qualquer decisão para o futuro ainda mais complicada.

Nyck de Vries comemora a vitória no ePrix de Berlim da Fórmula E, no último domingo — Foto: Fabian Sommer/picture alliance via Getty Images

E o holandês já esteve muito perto do sonho. Ex-piloto júnior da McLaren, De Vries tem uma carreira laureada. Era a principal esperança de futuro da equipe inglesa, inclusive. Foi campeão da Fórmula Renault em 2014, mas depois entrou em um período de vacas magras primeiro na finada World Series, depois na GP3. Sua reputação foi afetada, mas ele deu a volta por cima em 2017, quando se destacou pela fraca Rapax na Fórmula 2. Mas deu mais um passo atrás em 2018, ao correr em um ano complicado para a Prema e enfrentar uma geração forte, com George Russell, Lando Norris e Alexander Albon no grid. Uma aposta de Ron Dennis, que estava em baixa neste período, De Vries perdeu espaço também no lado político de uma McLaren já comandada por Zak Brown.

Nyck de Vries recebe o troféu de campeão mundial da Fórmula E da temporada 2020/2021 — Foto: Andreas Gora/picture alliance via Getty Images

Nem mesmo o título de 2019 na Fórmula 2 foi capaz de recuperar o status interno de De Vries, que foi superado pelo inglês Norris no cargo de promessa da McLaren. E viu Latifi, vice daquele ano, conseguir a vaga na Williams. Sem patrocinadores fortes, o holandês teve de recomeçar. Veio, então, o convite da Mercedes para correr na Fórmula E na temporada 2019/2020. Só que o ano de adaptação foi atrapalhado diretamente pela pandemia da Covid-19. No campeonato seguinte, contudo, o título veio pelas flechas de prata com duas vitórias e quatro pódios.

O TL1 com a Williams em Barcelona, contudo, não será a primeira experiência do holandês com um carro de Fórmula 1. No fim de 2021, De Vries andou no W12 da Mercedes durante os testes para jovens pilotos em Abu Dhabi. Só que 2022 apresenta um grande desafio: a maior mudança do regulamento técnico em 40 anos, com a volta do efeito solo. O início da sessão de uma hora com o Williams-Mercedes FW44 será de adaptação, portanto. Na pista, o ideal é não cometer erros ou sofrer um acidente. Mas o mais importante para o holandês será o trabalho nos bastidores. Ele é um piloto conhecido por ser cerebral e com um bom feedback para os engenheiros - algo essencial na Fórmula E, por exemplo. O importante é deixar uma boa impressão. Marcar presença na F1.

Nyck de Vries andou com o W12 da temporada 2021 da Mercedes nos testes de jovens pilotos em Abu Dhabi — Foto: Hasan Bratic/DeFodi Images via Getty Images

É uma grande oportunidade para De Vries. De minha parte, sei da capacidade dele. Comento corridas do holandês desde a GP3, estive nos títulos dele na Fórmula 2 e na Fórmula E. É um piloto muito talentoso e que amadureceu demais com os percalços que teve na carreira. E a tão esperada chance na Fórmula 1 finalmente chegou. E pilotos talentosos, como ele, merecem ter pelo menos umazinha. Que tudo dê certo. Confesso que estou na torcida por isso. De Vries merece.

Nyck de Vries nos boxes da Williams: ele vai usar o número #45 no carro no treino livre em Barcelona — Foto: Williams Racing

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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