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'The morning show' volta muito melhor do que antes

Patrícia Kogut

Jennifer Aniston, Billy Crudup e Reese Witherspoon em 'The morning show' (Foto: Karen Ballard/Apple TV+)Jennifer Aniston, Billy Crudup e Reese Witherspoon em 'The morning show' (Foto: Karen Ballard/Apple TV+)

 

A segunda temporada de “The morning show” acaba de chegar à Apple TV+, e os novos episódios estão muito mais promissores do que os de 2019. A trama abandonou os dramas bobinhos, se complicou e abraçou as guerras identitárias. Os diálogos escorregam no festival de clichês, verdade. Aqui e ali nem os melhores atores escapam das armadilhas e parecem estar recitando termos de algum almanaque do ativismo. Entretanto, noves fora, o resultado é bom. A série ganhou musculatura.

A produção foi bem lançada em 2019 porque a Apple não brinca em serviço e esse era o carro-chefe do seu (então) novo serviço premium. Ela também foi finalista em várias categorias do Emmy, um aval e tanto. As presenças de Jennifer Aniston, Reese Witherspoon e Steve Carell são atrativos inegáveis. Mas, claro, isso não basta. Mesmo com todas essas “condecorações”, a dramaturgia não satisfez o espectador mais exigente, que busca uma trama sem truques e anabolizada por um elenco estelar. O enredo ambientado nos bastidores de uma atração de variedades da TV pegava carona no #MeToo. Era o programa dentro do programa, um pretexto para impulsionar um novelão — sem querer desmerecer o gênero. Salvo um episódio muito interessante e perturbador em que o âncora Mitch Kessler (Carell) assediava a jovem produtora Hannah (Gugu Mbatha-Raw), a temporada foi bem banal.

Agora, houve uma passagem de tempo. A dupla Alex Levy (Jennifer) e Bradley (Reese), que dividia a bancada do programa matinal, se desfez. Alex deixou a emissora. A disputa por um posto no horário nobre se acirrou. A morte de Hannah por overdose levanta suspeitas morais, é motivo de processos e mancha a reputação de executivos. Cory (Billy Crudup) quase foi demitido, mas acabou promovido. As audiências despencaram. Mitch caiu no degredo e está na Itália, instalado num palazzo de frente para o Lago Como.

As tramas envolvendo assuntos contemporâneos se multiplicam. A nova diretora de jornalismo da UBA é uma mulher asiática. O jornalista que apresenta a meteorologia, Yanko (Nestor Carbonell), é cancelado nas redes por citar uma expressão do léxico dos povos originários. Não tem lugar de fala, alegam. Yanko não consegue entender, afinal, ele próprio é de uma família cubana. Em meio a essa fogueira, “The morning show” levanta temas corajosos.

A cronologia se fragmenta um pouco.

Parte da ação se desenrola no réveillon que precede a ação da Covid-19 nos EUA. Sabe-se que há um vírus fazendo milhares de vítimas na Ásia. No entanto, os chefes do jornalismo acreditam que isso não merece espaço no noticiário. A iminência do impeachment de Donald Trump interessa muito mais. Um repórter vai à China e fica preso numa quarentena no hotel. Ele tenta entrar ao vivo no noticiário, mas ninguém dá bola. É aflitivo ver Mitch passeando livremente pela Itália, onde a doença está prestes a fazer milhares de mortos. Mais chocante ainda é uma longa sequência de drone sobre Nova York deserta na primavera de 2020. Times Square às moscas parece obra de um efeito de computador. O coronavírus é uma sombra que se projeta, sorrateira, sobre tudo. Inadvertidamente, antes de chegar, ele confere alguma inocência àqueles personagens sem caráter. Eles não sabem o que os espera. Vale conferir.

 

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