Philip Glass escreveu seu primeiro quarteto em 1966 – a peça continha a semente do seu estilo minimalista único, que caracterizou boa parte da sua produção musical posterior. No entanto, foi só no início dos anos 80 que Glass retornou ao gênero, quando criou quatro vinhetas para uma dramatização de Company, poema em prosa de Samuel Beckett, um solilóquio sobre temas como isolamento, memória e a natureza da existência. A música de Glass muda rapidamente de sua abertura lírica e hesitante para uma intensidade pulsante, rumo a um segundo movimento que segue acelerado e implacável. A beleza hipnótica e incômoda do terceiro e do quarto movimentos é, talvez, uma representação perfeita de Glass: minimalista em seus motivos mais breves, mas capaz de expressar muita coisa em pouquíssimo tempo. “É uma daquelas raras obras que soam impecáveis”, diz David Harrington, primeiro violinista e fundador do Kronos Quartet, ao Apple Music Classical. Harrington recorda que o Kronos gravou o “Quarteto de Cordas Nº 2” em seu primeiro álbum pelo selo Nonesuch e o gravou novamente para este álbum de quartetos de Glass. O “Quarteto de Cordas Nº 3” foi extraído da música que Glass escreveu para o filme Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos, de 1985, sobre a vida e o trabalho do grande escritor japonês, em que cada movimento acompanha um momento na sua vida. “Um quarteto perfeito que saiu dessa trilha sonora”, diz Harrington. O “Quarteto Nº 4” foi encomendado em homenagem ao artista Brian Buczak, que faleceu em decorrência da AIDS em 1987. Seus acordes fúnebres de abertura se dissolvem nos arpejos característicos de Glass. O terceiro movimento, talvez o movimento de quarteto mais conhecido do compositor, apresenta uma beleza e uma introspecção Beethovenianas; seu tema glorioso sobe, desce e serpenteia, como se estivesse em busca de significado. O álbum começa com o “Quarteto de Cordas Nº 5”, composto por Glass para o Kronos Quartet em 1991. E a obra já parece mais livre, mais exploratória, menos confinada. Seus pequenos motivos repetidos, os ritmos insistentes e a energia intensa ainda caracterizam a música, mas Glass se soltou aqui – é lúdico, romântico e até cinematográfico. “Lembro-me de quando a esposa de Philip faleceu e ele deu um tempo”, diz Harrington. “Acho que ele foi para a Nova Escócia para poder ficar sozinho. E foi quando ele escreveu este quarteto. Há momentos nele que são muito bonitos e muito perfeitos.”
- 2017
Com participação em
- Bruckner Orchester Linz & Dennis Russell Davies
- Bruce Brubaker