Malu Gaspar
PUBLICIDADE
Malu Gaspar

Análises e informações exclusivas sobre política e economia

Informações da coluna

Por Johanns Eller e Rafael Moraes Moura — Rio e Brasília

Na véspera do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que poderá tornar Jair Bolsonaro inelegível, o filho mais velho do ex-presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), aproveitou a sabatina de Cristiano Zanin no Senado na tarde da última quarta-feira (21) para provocar o advogado com uma “armadilha” sobre um dos principais pontos contestados na ação que será julgada pela corte eleitoral nesta manhã.

Ao inquirir o indicado do presidente Lula para o Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio questionou Zanin se, na sua avaliação jurídica, a ação de investigação judicial eleitoral que será julgada pelo TSE pode ser anulada em função da inclusão de provas após a ampliação do escopo da ação.

O senador fluminense relembrou a absolvição da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer pelo TSE em 2017 por quatro votos a três. Na ocasião, o tribunal decidiu não considerar as evidências de caixa 2 na campanha do PT reveladas nas delações da Odebrecht e do marqueteiro João Santana após o ajuizamento da ação pelo PSDB. As delações, que confirmaram as acusações levantadas pela sigla do candidato derrotado, Aécio Neves, não constavam inicialmente na ação.

Nas entrelinhas, Flávio Bolsonaro quis explorar a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, incluída em janeiro na ação que pede a inelegibilidade do ex-presidente, ou seja, cinco meses após a abertura do processo. O mesmo questionamento foi feito pelo pai nesta quarta-feira durante uma aparição relâmpago no Senado.

“A partir desse entendimento, foram retiradas aquelas provas [delações] que não cabiam ao processo e serviram de base para a manutenção de Michel Temer na presidência”, disse Flávio. “Olha que ironia do destino… Hoje o processo contra Bolsonaro no TSE inclui fatos posteriores às eleições. Logo, não estão na peça inicial”.

Apesar da provocação, Zanin procurou não entrar em detalhes, mas sugeriu que há exceções cabíveis em processos eleitorais.

“Não conheço o caso concreto. Se conhecesse, não poderia falar sobre nenhum caso concreto”, respondeu Zanin. “De forma geral, os processos têm um rito e cada fase encerrada não deve ser reaberta. Excepcionalmente, desde que não haja prejuízo, o juiz ou o relator pode entender que é possível a juntada de algum material.”

O argumento do indicado de Lula para o STF está em linha com a jurisprudência eleitoral.

Em janeiro, o relator das 16 ações que pedem a inelegibilidade de Jair Bolsonaro no TSE, ministro Benedito Gonçalves, aceitou o pedido do PDT e incluiu a minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres na ação que será julgada na próxima quinta-feira. O partido, que lançou Ciro Gomes na disputa presidencial de 2022, acusa o ex-ocupante do Palácio do Planalto de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação social.

Na ocasião, Gonçalves defendeu a admissibilidade de informações que indicassem os “desdobramentos dos fatos originariamente narrados” no processo e no julgamento da ação, incluindo “circunstâncias relevantes ao contexto dos fatos, reveladas em outros procedimentos policiais, investigativos ou jurisdicionais ou, ainda, que sejam de conhecimento público e notório”.

Em fevereiro, a decisão de Benedito Gonçalves foi confirmada pelo plenário do TSE por unanimidade. Na ocasião, os ministros também aprovaram uma proposta do ministro para a fixação de um parâmetro para que o TSE trate, em todas as Aijes sob sua competência relativas às eleições presidenciais de 2022, a inclusão de fatos e documentos específicos.

Os ministros autorizaram que sejam incluídos no processo fatos revelados em outros procedimentos policiais e investigativos que tenham relação com desdobramentos do caso, como é o caso da minuta golpista.

Na prática, o TSE criou uma espécie de vacina que reduz a margem de manobra para Bolsonaro tentar derrubar a ação.

Mesmo assim, a fala de Flávio antecipa uma possível narrativa a ser adotada pelos apoiadores de Jair Bolsonaro, se confirmada sua condenação no TSE. Antes de dirigir a pergunta a Zanin – a quem elogiou pelo perfil garantista –, o senador alfinetou o presidente da corte eleitoral, Alexandre de Moraes.

O filho mais velho de Bolsonaro repetiu diversas vezes ao longo da fala que a absolvição da chapa Dilma-Temer em 2017 abriu caminho para a indicação de Moraes, indicado pelo emedebista, para o Supremo. O julgamento, no entanto, foi concluído em maio de 2017, quatro meses após a escolha do magistrado pelo então presidente, em decorrência da morte de Teori Zavascki em um acidente aéreo.

“As pessoas apontam o cisco no olho do outro, mas não enxergam o tronco no seu próprio olho”, disse Flávio Bolsonaro, enquanto Zanin buscava fugir da armadilha lançada pelo filho do ex-presidente da República.

Mais recente Próxima Zanin só fica atrás de Fux e Barroso nos votos 'sim' recebidos no Senado
  翻译: