Míriam Leitão
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Míriam Leitão

O olhar único que há 50 anos acompanha o que é notícia no Brasil e no mundo

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Um dos assuntos do momento é a transição energética e no BNDES quem cuida do assunto é Luciana Costa, diretora nas áreas de Infraestrutura, Transição Energética e Energias Renováveis. Em meu programa da Globonews, a executiva disse que se abre uma janela inédita que o Brasil, que tem vantagens naturais em relação a outras grandes economias do mundo.

E, com essas vantagens competitivas, ela defende que sejam utilizada para reindustrializar o país em bases verdes para que o país consiga produzir produtos com alto conteúdo energético. Por outro lado, Luciana defende a exploração do petróleo na margem equatorial, no mar da Amazônia, salientando que Noruega, que é um país que é um exemplo na transição energética, está abrindo novos postos de petróleo.

Confira os principais trechos da entrevista.

O que exatamente acontecerá no Brasil na transição energética?

Luciana Costa: A transição energética é um dos maiores desafios do nosso tempo. O mundo, desde a Revolução Industrial, construiu infraestrutura energética baseada no óleo e gás e em eletricidade, mas muitas vezes gerada a partir do gás. Nós temos que mudar a produção, o armazenamento e o transporte de toda a energia do mundo. Na prática, o combustível fóssil emite gases do efeito estufa, que está provocando um aquecimento global e nós temos que conter o aquecimento global.

O Brasil tem vantagens comparativas, estruturais. que outras grandes economias do mundo não tem. Nós podemos nos beneficiar, primeiro, porque já temos a matriz elétrica e a matriz energética mais renovável do G20.

No resto do mundo, só para você ter uma ideia, na média da OCDE, 14% das matrizes energéticas dos países são renováveis. Então, quando o mundo precisa investir massivamente e escalar energia solar, energia eólica, nós já fizemos isso. Nós já temos um sistema elétrico integrado e o mundo também está construindo linha de transmissão. Porque a energia solar e eólica é produzida com um custo mais competitivo onde tem só o evento, mas ela precisa ser transportada para o centro de carga, para o consumo. A mesma coisa acontece com a energia hidrelétrica.

Nesse processo, você está falando não só do uso da energia como produto, mas como forma de transformar a maneira de produzir, a maneira de transportar. É nesse processo que a transição se faz?

Luciana Costa: Isso, exatamente. Hoje, por exemplo, a descarbonização tem que acontecer em toda a sociedade, nos processos industriais e nos processos de produção de energia. O Brasil já produz energia renovável. A nossa energia renovável está entre as mais competitivas do mundo. A gente tem as hidrelétricas que funcionam como uma grande bateria, os grandes reservatórios são uma grande bateria que complementam solar e a eólica, porque solar e eólica são intermitentes. Então com isso a gente consegue entregar energia firme e renovável em qualquer ponto do país. Mas nos processos industriais, muitas indústrias ainda são consideradas de difícil abatimento. Produção de aço, produção de alumínio, transporte de inovação.

Um alto forno, por exemplo, ele é alimentado por gás e carvão, porque são formas de energia que têm alto conteúdo energético. A gente não consegue ligar um alto forno na tomada. Então, essa energia com alto conteúdo energético, ela vai ter que ser substituída, porque hoje ela é a base de gás e de petróleo e de carvão. Isso emite muitos gases do efeito estufa.

Descarbonizar transporte marítimo, transporte aéreo, substituir o diesel da frota de caminhão é um dos nossos grandes desafios. Hoje 17% das emissões de gás de efeito estufa no Brasil vêm do setor energético e aí está muito ligado a transporte e processos industriais.

Eu já vi muitas etapas do processo de inovação da economia, mas que sempre beneficiavam os mesmos. Alguns empresários, alguns industriais, não beneficiavam a sociedade como um todo. Por quê? Meu temor é quando aparece assim, aço verde, energia verde, transição energética, descarbonização, é ser mais uma onda que vai ser capturada pelos lobbies de sempre e a sociedade brasileira não vá se beneficiar.

Luciana Costa: Acho muito importante a gente ter claro que a transição energética precisa ser justa e não pode deixar ninguém para trás. A gente tem que utilizar essas vantagens comparativas que o Brasil tem em relação ao resto do mundo e o mundo já entendeu isso, a gente tem atraído a atenção de investidores internacionais, eles perceberam a janela de oportunidade que se abre para o Brasil.

Mas a gente tem que usar esse momento para diminuir desigualdades regionais e desigualdades sociais. Eu concordo contigo que não é uma tarefa fácil, mas eu tenho certeza que a gente consegue superar isso se a gente utilizar as nossas vantagens comparativas para reindustrializar o país em bases verdes, para que o Brasil consiga produzir de fato produtos com alto conteúdo energético e esses produtos aqui no Brasil eles vão ter necessariamente um conteúdo de carbono menor por conta da nossa matriz elétrica e energética.

Se a gente conseguir capturar valor integrado às cadeias globais, se a gente conseguir ser mais competitivo globalmente, a gente vai gerar empregos mais complexos, que são os empregos da indústria, e que remuneram melhor as pessoas.

Então, essa é uma grande oportunidade para a gente diminuir, criar empregos complexos, que transfiram renda para o trabalhador. E também, 80% da nossa energia renovável é produzida no Nordeste, por conta do fator de capacidade de eólico e solar no Nordeste e Norte de Minas. Produzir eólica e solar no Nordeste é interessante por conta do fator de capacidade e porque é mais barato produzir lá.

E a gente pode utilizar essa vantagem do Nordeste para reindustrializar o Nordeste. Uma das novas formas de energia aqui, hidrogênio é utilizado há muito tempo, mas o hidrogênio como fonte de energia é produzido a partir do gás. Agora a gente vai produzir hidrogênio a partir de eólico e solar.

Então a gente pode criar grandes hubs de produção de hidrogênio verde no Nordeste, produzir fertilizante verde a partir desse hidrogênio fertilizante . É uma indústria de difícil abatimento porque hoje ele é feito a partir do gás e a gente pode produzir HBI verde, aço verde no Nordeste. Então a gente tem que utilizar esse momento para ter a ambição de não repetir o modelo primário exportador.

A gente pode exportar esses produtos intensivos em energia.

O potencial remanescente de hidrelétrica está na Amazônia. Belo Monte foi uma tragédia. Então, quer dizer, chama de energia renovável uma hidrelétrica que fez agressões ambientais. Você defende novas hidrelétricas na Amazônia e que garantias a gente tem para a proteção da Amazônia?

Luciana Costa: Hoje, a gente já tem um parque de hidrelétricas instalado que atende o país. A gente não precisa construir grandes hidrelétricas. A gente pode, por exemplo, optar por PCHs. A proteção da Amazônia e a proteção ambiental são pontos pacificados para esse governo. O Brasil tem 13% da água do mundo e mais de 50% da água está na Amazônia. Mas o que a gente tem de hidrelétrica já é suficiente para funcionar como uma grande bateria para o sistema. A gente não precisa construir novas hidrelétricas e nem ter isso nos planos.

E a proteção da Amazônia, sim, ela é uma questão pacificada. Mesmo as novas tecnologias, eólica, por exemplo, está tendo uma grande discussão sobre o barulho das eólicas, o impacto nas comunidades. Quando a gente introduz uma nova tecnologia, surgem novos problemas e a gente tem que endereçar.

Não nos conformamos em colocar novas tecnologias e criar novos problemas, a gente tem que endereçá-los da melhor maneira possível, protegendo o meio ambiente.

Você defende a exploração do petróleo na margem equatorial, no mar da Amazônia. Há países que decidiram abrir mão, como a Colômbia. Como é que você é uma pessoa da transição energética, das energias renováveis e defende uma energia fóssil?

Luciana Costa: Esse é um ótimo ponto, eu acho que a gente precisa debater com a sociedade, sim. Primeiro, a proteção da Amazônia e potencial exploração tem que ser feita com toda a segurança que a gente precisa ter para esse tipo de atividade de alto risco. O que eu defendo é a pesquisa exploratória na margem equatorial, que é o que está na mesa hoje. O mundo, ele vai descarbonizar, ele vai sair do combustível fóssil para novas fontes de energia renovável, só que é uma transição, não vai haver ruptura.

E o Brasil hoje, a gente produz no pré-sal. No pré-sal tem mais ou menos 14 bilhões de barris de óleo equivalente de reservas provadas. O pré-sal entra em declínio na próxima década.

Como a gente sai do petróleo, não através de uma ruptura, mas vai demorar um tempo, a transição, pelo cenário- base da Agência Internacional de Energia, a gente vai consumir, em 2050, um pouco mais da metade do petróleo e do gás que o mundo consome hoje.

Então, é um processo complexo. Porque a gente ficou 150 anos ou mais construindo a infraestrutura de óleo e gás. A gente precisa construir a infraestrutura de renovável.

Mas quando você cava mais o buraco, você produz mais petróleo, você oferta mais petróleo, tem menos chance de aparecer. O mundo é menos desafiado para procurar novas fontes. E aqui os climatologistas estão dizendo que a gente não tem esse tempo.

Luciana Costa: O que acontece é o seguinte: o mundo investiu US$ 1,8 trilhões em energias renováveis em 2023. Só que o mundo também está abrindo novos poços de petróleo porque a gente já identificou, por exemplo, a Noruega, que é um país que é um exemplo na transição energética, está abrindo novos postos de petróleo. Pensando no Brasil, a gente tem o petróleo do pré-sal que entra em declínio, a gente já sabe, e entra em declínio antes do consumo de petróleo decair muito abruptamente.

Então, se a gente abrir mão de estudar e de entender o que tem na Amazônia, que riqueza que tem lá, quais os números. Algumas consultorias apontam que pode ter mais de US$ 2 trilhões lá. A gente precisa confirmar esses números. Apontam que pode ter de 10 a 25 bilhões de barris de óleo equivalente em toda margem.

Se a gente não pesquisou ainda, como é que a gente sabe?

Luciana Costa: Já tem pesquisas iniciais. A gente precisa confirmar esses números. Existem indícios que precisam ser confirmados. É um processo complexo de pesquisa que precisa ser feito agora, mas existem fortes indícios que isso existe. Caso exista, a gente vai ter que partir para a próxima discussão que é vamos ou não explorar esse petróleo.

Tem um outro detalhe, o petróleo do pré-sal é menos intensivo em carbono no escopo 1 e 2, no processo de exploração e produção. E é um petróleo muito competitivo.

O custo de exploração da Petrobras é um dos mais competitivos do mundo.

O mais barato é do Oriente Médio. Alguns campos do Mar do Norte também tem campos com preço muito competitivo, mas o nosso é de fato muito competitivo.

Então a gente desloca petróleo de outros poços que produzem com um custo pior. E uma discussão complexa. Eu acho que a gente tem que fazer com toda calma e olhando dados e fatos. E, sim, ouvindo o que os climatologistas estão falando.

Se um órgão como o BNDES, você como diretora desse setor, defende essa exploração do petróleo na Amazônia, a Amazônia vai, quer dizer, forma-se essa coalizão do fóssil.

Luciana Costa: Esse é um bom ponto que você tocou. A gente vai ter que ter um bom arcabouço regulatório dessa nova economia verde. A gente tem que incentivar, retirar incentivos de carvão, por exemplo, o Brasil não precisa disso.

Acabou de ser renovado até 2040 no Congresso.

Luciana Costa: Esse tipo de coisa que não pode acontecer. A gente precisa usar a reforma tributária para estimular o investimento em novas formas de energia, não em carvão ou em petróleo e gás. A gente tem que usar a reforma tributária para isso. Temos que criar um arcabouço regulatório verde no Brasil.

Aprovar o PL do hidrogênio verde por criar o arcabouço regulatório dessa nova economia verde não tem custo para o Tesouro e atrai investimento, dá segurança para o investimento. Precisamos debater o PL da eólica offshore sem jabuti

A sociedade tem que se organizar e a gente tem que ser muito sério na aprovação do PL de eólico offshore, PL de combustível de baixo carbono.

O avião é um setor de difícil abatimento, os aviões não vão ser elétricos no curto prazo, eles vão precisar de combustível sustentável de avião.

Dado o nosso potencial de biomassa, o Brasil já escalou o etanol. O Brasil tem condições de produzir combustível sustentável de avião em larga escala e num preço muito competitivo, mas a gente precisa ter a regulação correta. Nós, como sociedade, precisamos criar os incentivos para que o dinheiro vá para os projetos de baixo carbono.

Vi também em entrevistas suas você anunciando até um aumento dos desembolsos do BNDES em 2023, um ano bom. Mas quando você vê a taxa de investimento no PIB, ela está muito baixa, ficou em 16%. Como é que tem mais desembolso, mas tem menos investimento, taxa de investimento?

Luciana Costa: Não, é que essa taxa de investimento que você olha considera a indústria também. Quando a gente olha só infraestrutura e energia, cresceu 20% em 2023. No BNDES, nosso desembolso aumentou, a aprovação aumentou entre 25% e 30%. Por que a gente conseguiu, de fato, destravar projetos. E assim, 82% do nosso funding não tem subsídio. Então foi com o nosso recurso normal mesmo. A gente conseguiu. crescer investimento em saneamento.

A gente aprovou R$ 20 bi para a transição energética para energia renovável.

Essa nossa matriz é mais renovável porque o BNDES ele é o maior financiador de energia renovável do mundo. Saiu um ranking da Bloomberg e as pessoas não sabem disso. mas o BNDES está à frente de grandes bancos internacionais.

A gente inovou porque a gente começou trabalhar complementando o mercado de capitais e bancos privados, então a gente aumentou aprovação e desembolso e ainda mobilizou capital, porque a gente precisa olhar quanto que a gente consegue mobilizar de capital do setor privado para complementar o nosso e conseguir deslanchar com investimento em infraestrutura.

Esse é um momento que para o país é de grande desafio oportunidades e o desafio também vem do nosso grande hiato de infraestrutura.

O Brasil precisa dobrar. A gente conseguiu, o ano passado foi investido um pouco mais de 200 bilhões, 213 bilhões, mas esse número tem que dobrar para que a gente feche o nosso gap.

O Brasil sempre se promete um desenvolvimento, se promete um futuro melhor Você acha que essa onda, de fato, ela é boa pra gente pegar e surfar?

Luciana Costa: Essa é a onda do Brasil. Faz muito tempo que eu não vejo uma janela de oportunidade aberta com tanta vantagem comparativa. A gente tem biogás, a gente tem biometano. O Brasil pode ser o quinto maior produtor de biometano. Tem muita coisa pra gente falar, mas temos minerais críticos.

O Brasil está entre os quatro países mais bem posicionados do ponto de vista de reserva de minerais críticos. A gente tem que surfar essa onda e a gente pode. A gente tem desafios, mas.a gente pode e vai sim. E esse progresso tem que chegar na ponta. A transição tem que ser justa.

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