Em decisão unânime o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil, manteve a taxa de juros básico da economia, a Selic, em 10,50%, sem perspectiva de novos cortes. Se o encerramento do ciclo corte de juros era dado praticamente como certo pelo mercado, a aposta nos últimos dias, como mostrou Ana Carolina Diniz, era saber qual seria o placar. O 9 a zero, dizem os analistas, é importante para mostrar que não há um "racha" no comitê e também que a tecnicidade se sobrepõe as questões políticas.
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No comunicado, o comitê destaca o ambiente externo ainda adverso, citando a política monetária americana e destaca o aumento das estimativas para a inflação no cenário nacional.
"Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes."
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O comunicado destaca ainda o monitoramento da política fiscal pelo Copom:
"O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária. "
As declarações de Lula sobre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista à Rádio CBN, nesta terça-feira, aumentou a pressão sob a reunião. Lula questionou a autonomia de Campos Neto e disse inclusive que ele fazia "mal ao país". O presidente disse ainda que era preciso que o juros fosse compatível à inflação, que o país vive um bom momento na economia. "Vamos trabalhar em cima do real", convocou.
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A mudança no ritmo de corte em decisão dividida do colegiado Copom, na reunião de maio - na qual os quatros indicados do presidente Lula votaram pelo corte de 0,50 ponto percentual e os 5 representantes nomeados na gestão Bolsonaro, inclusive o presidente da autoridade monetária votaram pelo 0,25 ponto percentual - criou uma narrativa no mercado de que isso indicaria que ao fim do mandato de Campos Neto, o BC adotaria uma política de menor controle da inflação.
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Apesar da ata da reunião de maio indicar que a divergência entre os membros do Copom não estava nos conceitos econômicos, mas em como um corte menor do que o guidance dado pela instituição na reunião anterior , que indicava redução de 0,50, teria na reputação do BC, a discussão sobre uma decisão política foi arrastada até a reunião de hoje. E ganhou tons mais fortes, após as declarações do presidente Lula questionando a autonomia de Roberto Campos Neto.
A decisão desta quarta-feira, no entanto, tende a dar uma nova perspectiva ao mercado, mostrando que houve uma decisão técnica, apesar da pressão feita pelo presidente da República.