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Por , Em The New York Times

RESUMO

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GERADO EM: 28/06/2024 - 03:00

Problemas do turismo no Japão

O aumento do turismo no Japão tem causado problemas, como superlotação, falta de respeito às tradições locais e impacto negativo nas cidades. Autoridades estão buscando soluções para lidar com os efeitos do excesso de visitantes.

Não faz muito tempo, em duas ocasiões diferentes, um turista estrangeiro entrou na barbearia de Shoji Matsumoto, pela porta que range alto quando escancarada, querendo um corte. Um era italiano; o outro, britânico. Matsumoto, de 75 anos, que não fala nem uma língua nem a outra, não soube o que lhes dizer. Pegou a tesoura e começou o trabalho, na esperança de que as décadas de experiência adquirida o safassem das situações constrangedoras.

Animados em parte pelo iene fraco, que ajuda o dinheiro a "esticar" mais, os visitantes estão chegando aos montes ao Japão desde que o país afrouxou as restrições de entrada impostas pela pandemia, em 2022. Mais de 60% são da Coreia do Sul, de Taiwan e da China. Em março, foram mais de três milhões de chegadas internacionais, recorde para o mês e um salto de 10% em relação ao mesmo período em 2019. No ano passado, os valores gastos por eles representaram 9% do PIB nacional.

O fenômeno levou algumas autoridades, inclusive o primeiro-ministro Fumio Kishida, a manifestar preocupação em relação aos excessos. As atrações mais populares em cidades como Kyoto, a antiga capital real, estão cada vez mais impraticáveis. É tanta gente que os visitantes estão se espalhando em locais nada turísticos, como as cidadezinhas nas proximidades do Monte Fuji, ou o bairro comercial onde Matsumoto corta cabelo.

— Antes era normal vê-los em certas regiões, mas agora estão se espalhando aleatoriamente nos lugares mais improváveis — disse ele, sentado em uma das cadeiras de seu estabelecimento em um sábado.

Turistas lotam o Templo Kiyomizu-dera em Kyoto, no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times
Turistas lotam o Templo Kiyomizu-dera em Kyoto, no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times

Esse influxo já começou a testar a paciência de uma sociedade famosa pela polidez. Em Kyoto e outras cidades muito concorridas, alguns moradores lamentam os altos preços das diárias dos hotéis e dos ônibus e restaurantes lotados; outros reclamam da falta de respeito aos costumes locais — como sair correndo atrás das gueixas para fotografá-las ou comer andando, comportamento considerado grosseiro no Japão.

Em maio, Hiroshi Ban, organizador de eventos de 65 anos, levou seis horas — o dobro do normal — para visitar o templo Heian Jingu, em Kyoto. Atribuiu a demora, em parte, aos turistas que "seguraram" os ônibus contando moedas para a passagem.

— Agora todo dia parece que estamos em um parque de diversões. Não dá mais para viver em paz.

Uma guia lidera um grupo de visitantes no Templo de Kiyomizu-dera, em Kyoto, no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times
Uma guia lidera um grupo de visitantes no Templo de Kiyomizu-dera, em Kyoto, no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times

Mesmo aqueles que se beneficiam diretamente temem que a situação esteja ficando insustentável. Para Hisashi Kobayashi, taxista de 56 anos de Kyoto, o movimento anda tão bom que, ao tirar um dia de folga, fica com a sensação de estar desperdiçando uma oportunidade fácil de faturar.

— Mas tem muito setor que está penando para suprir a demanda porque ainda está se recuperando da falta de mão de obra causada pela pandemia. Os japoneses de outras cidades chegam aqui e acham que estão no estrangeiro por causa dos turistas. Kyoto está muito diferente — afirmou enquanto seu táxi se aproximava do engarrafamento próximo a um templo popular.

Até algumas cidadezinhas no interior começaram a sentir os efeitos do excesso de visitantes: uma delas é Fuji, 320 quilômetros a leste de Kyoto, em Shizuoka. Depois que uma ponte com vista direta para o monte de mesmo nome se popularizou nas redes sociais, no fim do ano passado, o departamento de turismo da província disse no Instagram que era um lugar bom para "tirar fotos bonitas, coisa de sonho". Nem é preciso dizer que a estrutura fica em uma área residencial sem estacionamento, banheiros públicos ou latas de lixo, e que os visitantes começaram a emporcalhar as ruas e a estacionar na frente das garagens. Em alguns casos, saem até zanzando entre os carros para tirar fotos da faixa do meio, como contaram os moradores.

Uma rua lotada de turistas em Kyoto, no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times
Uma rua lotada de turistas em Kyoto, no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times

No feriado nacional de quatro dias, em maio, cerca de 300 turistas passaram por ali diariamente, tendo de esperar para tirar fotos em uma fila que se estendia pela rua.

— Simplesmente param aqui; por isso, tivemos de colocar cartazes — reclamou Mitsuo Kato, de 86 anos, que vive do lado da ponte, à porta de casa, enquanto grupos e mais grupos de sul-coreanos registravam as nuvens que escondiam o Monte Fuji.

Pelo país, as autoridades vêm lidando com o turismo excessivo com graus diferentes de eficiência: em Fuji, por exemplo, criaram um estacionamento improvisado com seis vagas e começaram a construir outro, maior, para 15 carros e com banheiro, segundo Motohiro Sano, da secretaria local.

Em Fujikawaguchiko, na província vizinha de Yamanashi, a solução foi erguer uma tela imensa, do tamanho de um outdoor, para encobrir a loja de conveniência Lawson, cujo toldo parece alinhado com a montanha e se tornou pose obrigatória nas postagens das redes sociais — mas, segundo a imprensa local, já ganhou vários buracos para caber a lente do celular.

Ônibus de turistas estacionam perto de atrações populares em Kyoto, no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times
Ônibus de turistas estacionam perto de atrações populares em Kyoto, no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times

Em Shibuya, região muito popular de Tóquio, a intenção é proibir o consumo de bebidas alcoólicas à noite, na tentativa de reduzir o mau comportamento dos jovens e dos turistas; e nas estações de trem de Kyoto, onde as placas pedem aos visitantes que "tenham modos", o governo criou uma linha especial de ônibus para seu transporte.

Ali, mais especificamente no mercado de Nishiki, onde alguns moradores chegaram a reclamar de encontrar manchas de gordura nas roupas depois de ter de se espremer entre as hordas de turistas, Yoshino Yamaoka, de 63 anos, apontou para as duas placas que colocou na porta de seu restaurante, especializado em enguia grelhada. Em inglês, ambas pediam: "Não coma enquanto caminha". Uma tinha letras maiores, sublinhadas em vermelho.

— Como o pessoal estava simplesmente ignorando a primeira, resolvi fazer outra, mais incisiva, mas não sei se exagerei. Nós aqui dependemos dos turistas — explicou ela.

Cartazes no mercado de Nishiki, em Kyoto, pedem aos visitantes que não comam enquanto caminham, o que é considerado um mau comportamento no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times
Cartazes no mercado de Nishiki, em Kyoto, pedem aos visitantes que não comam enquanto caminham, o que é considerado um mau comportamento no Japão — Foto: Shoko Takayasu/The New York Times

Em um fim de semana recente, para driblar o movimento excessivo, alguns turistas saíram para visitar as atrações de Kyoto no raiar do dia, ou tendo de esperar 40 minutos na fila para comer em uma casa popular de ramen às 23h. Alguns reclamaram do congestionamento que ajudaram a criar.

— Que desastre — desabafou Paul Oostveen, holandês de 70 anos, depois de sair do famoso Templo Kiyomizu-dera.

Na barbearia vazia, Matsumoto contou que os cortes que fez foram aprovados pelos dois estrangeiros, e que não vai se recusar a receber os outros que por acaso aparecerem:

— Mas, na verdade, minha preocupação é não oferecer um serviço de qualidade por não entender o cliente; seria melhor que quem não é japonês, ou não fala o idioma, fosse a outro lugar. Sei que o turismo é bom para o país, mas uma parte de mim não fica lá muito satisfeita com esse movimento todo.

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