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Por — Rio de Janeiro

Uma complexa combinação de fenômenos climáticos provocou o dilúvio sobre o Rio Grande do Sul. Eles estão, possivelmente, associados aos momentos finais do El Niño, que está em transição para uma La Niña, e às mudanças climáticas por trás do forte aquecimento dos oceanos.

O dilúvio é resultado da interação entre ventos do Pacífico, umidade da Amazônia, frentes frias da Patagônia, águas quentes no Atlântico e um domo quente no Centro-Oeste e no Sudeste. Todos se juntaram para que volumes sem precedentes de água estejam sendo despejados na maior parte do território gaúcho. Mas o que faz essas chuvas tão terríveis pela persistência é um bloqueio no Pacífico poderoso ao ponto de travar a atmosfera.

Entenda como se formou a chuva na região — Foto: Editoria de Arte
Entenda como se formou a chuva na região — Foto: Editoria de Arte

Os ventos canalizam nuvens carregadas de umidade Amazônia, de frentes frias da Patagônia e de vapor do Atlântico. Mas o domo que atinge parte do Brasil ao norte do RS funciona como um escudo de ar quente.

As nuvens encontram o domo e não conseguem avançar para outras áreas. Elas vão se acumulando, empurradas pelos ventos de oeste e ficam estacionadas, chovendo sem parar no estado. O meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), diz que só a partir do domingo a situação poderá melhorar.

— Há dois meses atrás eu diria que foi só o El Niño. Mas ele está se encerrando e os ventos naquela região do Oceano Pacífico estão praticamente normais. A situação tem a cara do El Niño, com calor no Centro-Oeste e no Sudeste e chuva incessante no Sul. Mas a umidade que alimenta as chuvas vem da Amazônia, nos rios voadores. E também de frentes frias. Já o Atlântico quente lança mais vapor no ar e isso é alimento de chuva. É uma combinação de fatores e é impossível dizer qual o peso de cada um — afirma Seluchi.

Segundo ele, a causa direta está longe da América do Sul, bem no meio do Pacífico. É um bloqueio na atmosfera, causado pela combinação de sistemas de alta e de baixa pressão. E é ele que fará com que as chuvas perdurem por vários dias com força sobre o Rio Grande do Sul. O bloqueio travou a atmosfera, literalmente parou o tempo.

Bloqueios são monstros atmosféricos capazes de influenciar o clima por milhares de quilômetros. Várias configurações podem bloquear a atmosfera e dependendo da localização, os efeitos são muito diferentes. Vão de chuva à seca e de calor a frio. Os bloqueios não estão necessariamente relacionados ao El Niño. E sempre têm longa duração.

Seluchi salienta que o termo técnico bloqueio tem sido usado erradamente para fenômenos diferentes. As pessoas também chamam equivocadamente de bloqueio os sistemas de alta pressão, como o domo quente que está estacionado neste momento sobre o Centro-Oeste e o Sudeste. Mas bloqueios meteorológicos são os sistemas que se desenvolvem na altura das latitudes subtropicais e barram as frentes frias, que precisam então desviar. Esta semana, todas as frentes têm sido desviadas para o Rio Grande do Sul.

A partir de domingo, o bloqueio no Pacífico e a alta pressão sobre o Centro Oeste e o Sudeste enfraquecem um pouco. Os ventos podem perder alguma força. Isso deve aliviar o calor nessas regiões e a chuva no RS, diz Seluchi.

A chuva não vai parar, mas reduzir de intensidade ao se espalhar por uma área maior. Parte das frentes frias deve se deslocar para o Uruguai e a Argentina e outra, subir, alcançando Santa Catarina.

— Mas enquanto o bloqueio persistir, choverá. Os bloqueios são silenciosos, mas terríveis porque podem prolongar extremos por muito tempo. São a causa primária de muitas ondas de frio e de calor — alerta Seluchi.

Além disso, toda a água que caiu ainda terá impacto sobre o estado, adverte Seluchi. Os rios devem permanecer muito acima do normal, o que fará o risco de inundações permanecer elevado ao longo da próxima semana.

Terra de extremos

O Rio Grande do Sul sofre desde o ano passado com chuvas torrenciais. Isso após passar por um período de três anos de seca severa. A explicação está no fato de o estado, assim como a Região Sul de forma geral, ser historicamente mais afetado tanto pelo El Niño, que acentua as chuvas, quanto pela La Niña, que causa seca.

Há também particularidades geográficas, explica Seluchi. A Região Sul sofre reflexos dos sistemas mais intensos, como ciclones, frentes frias. Mas também é impactada pelo calor e umidade, vindos do norte. Somado a isso, os Andes canalizam os rios voadores para o Sul do Brasil.

Quando esses elementos se encontram, o que costuma ser mais frequente no outono e na primavera, ocorrem as piores chuvas. Não à toa o Sul do Brasil, o Leste da Argentina e Paraguai constituem uma das regiões do mundo com a maior frequência de tempestades severas. Poucos lugares do planeta sofrem mais com granizo, por exemplo.

Porém, tanto a frequência quanto a intensidade de todos esses fenômenos têm sido influenciadas pelas mudanças climáticas. Como resultado, o sofrimento dos gaúchos que já era certo, ficou pior. O ano de 2023 e este início de 2024 têm registrado o clima mais extremo da História da Humanidade e os gaúchos estão entre os que mais sentem o impacto.

Novo tempo, velho problema

Mas tanto impacto não mudou a percepção de risco da sociedade, destaca a diretora substituta do Cemaden, Regina Alvalá.

— O Cemaden alertou com antecedência, como no ano passado. Essas chuvas de agora foram diferentes, ainda mais fortes. Mas uma série de problemas, além do tempo, fez com que o estado esteja com tantas pessoas em situação de perigo, isoladas e precisando de resgate. Enfrentamos velhos problemas — diz Alvalá.

Ela salienta que as pessoas ainda não têm a percepção de risco de desastre, não deixam locais de perigo após os alertas. Somado a isso, as cidades, em sua maioria, não têm planos de prevenção e contingência bem estabelecidos. As pessoas quase sempre não sabem para onde ir, mesmo que deixem suas casas.

— É crucial que os planos sejam customizados para cada cidade e que a população aprenda a se proteger. Qualquer plano de adaptação deve envolver governos federal, estadual, municipais e a própria população — enfatiza ela.

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