Artes visuais
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Há pelo menos uma década, a bagagem de Luiz Zerbini acomoda telas, tintas e pincéis em suas viagens. Além da câmera fotográfica e do celular, os momentos de lazer do pintor e sua família são registrados em pequenos quadros, com pinceladas rápidas de acrílica ou aquarela, capturando paisagens, a luz e algumas poucas referências da presença humana.

Por muito tempo, as obras foram guardadas ou presenteadas a amigos do artista paulistano radicado no Rio desde os anos 1980, sem nunca chegarem aos olhos do público. Agora, as telas, que raramente ultrapassam 50cm de comprimento, foram reunidas no livro “Sábados, domingos e feriados” (Cobogó), que Zerbini lançou semana passada na SP-Arte, em São Paulo, e que terá lançamento no próximo sábado na Carpintaria, galeria no Jardim Botânico, no Rio. A publicação deu origem ainda a um livro de colorir, o primeiro dele voltado ao público infantojuvenil, que também chega agora ao mercado.

De seu ateliê na Gávea, Zerbini coordena outros projetos, como a abertura de uma individual no CCBB do Rio, em junho, seguindo depois para o de Brasília, e a participação na 15ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba, em novembro.

— Essas telas são quase um diário de viagem, uma coisa que fazia para passar o tempo. Alguém ia cozinhar, as meninas brincando (as filhas Rita e Violeta, com a cineasta e produtora Mini Kerti), e eu sentava e ficava pintando. São pinturas rápidas, diferentes das que faço no ateliê. Têm o humor do momento, em algumas eu percebo que estava sem paciência nenhuma — comenta. — Quando voltava, essas pinturas iam para a gaveta ou eu dava para amigos. Até começar o livro, não fazia ideia de quantas eram, até colocá-las todas lado a lado. São umas 130 telas.

O título do livro vem justamente dos dias de lazer que propiciaram a produção das telas, ampliada durante a pandemia, quando o ateliê ficou fechado e a família passou parte da quarentena cumprindo suas funções remotamente, longe do Rio. Naquele período, Zerbini manteve por oito meses uma instalação viva, com várias espécies de plantas, no interior do antigo Oi Futuro (atual Futuros — Arte e Tecnologia), dentro da exposição “Campo expandido”, que seria inaugurada em março de 2020 e só pôde ser vista, por poucas semanas, no mês de novembro.

— Mesmo aqui no Rio, me lembro que na pandemia a gente via mais os animais, aumentou a quantidade de macacos, tucanos que chegavam perto, até gavião. Era um encontro com a natureza em um momento muito dramático para todos, acho que algumas telas têm um pouco desses silêncios — lembra o pintor. — Era um período estranho, parecia que o tempo não existia direito. Na época da exposição, ficavam aquelas plantas lá, sem que o público pudesse ver, era como se não existissem também. Aproveitei para fazer um vídeo com elas, o que não seria possível com o local aberto.

Capas dos livros 'Sábados, domingos e feriados' e 'pinturinhas para colorir' — Foto: Divulgação
Capas dos livros 'Sábados, domingos e feriados' e 'pinturinhas para colorir' — Foto: Divulgação

Responsável pela organização e pelo texto do livro, o crítico e professor de História da Arte Tiago Mesquita destaca como Zerbini consegue dialogar com o caráter histórico da pintura de paisagens, mas de forma despojada.

— Ele consegue trabalhá-las de forma não idealizada, tudo está muito disponível ali. Não são paisagens ordenadas, tem sempre um elemento ou outro que destoa, com um tom contemplativo de encantamento muito genuíno — enaltece Mesquita. — É um conjunto poderoso de pinturas. Ele lança mão de vários de seus recursos técnicos e poéticos para cada uma daquelas situações. Podemos ver as mesmas paisagens, ou semelhantes, pintadas de formas diversas.

Na parte posterior, o livro traz as telas reproduzidas em outline, apenas com o contorno das formas, para identificação das obras. O traçado monocromático das imagens levou à ideia do livro “Pinturinhas para colorir”, que, assim como “Sábados, domingos e feriados”, foi proposto por Isabel Diegues, sócia e diretora editorial da Cobogó:

— Quando vi as silhuetas no final do livro, fiquei com vontade de pintar de novo. Bel teve a ideia de transformar no livro de colorir e foi um processo rápido. Com meus livros acontece muito isso, depois de prontos eu volto, faço anotações. Poderia virar um caderno de anotações de novo.

Ruminação como método

A representação da natureza, em suas mais diversas abordagens, também estará presente na individual “Paisagens ruminantes”, que será inaugurada em junho no CCBB do Rio e, em setembro, seguirá para a mesma instituição, em Brasília. Em cinco núcleos, a mostra passa pela produção de Luiz Zerbini desde os anos 1980 até os dias atuais, em agrupamentos como alegorias históricas e paisagens sonoras.

— A mostra faz um recorte da paisagem na obra de Zerbini e a ruminação como método, de como ele retorna a alguns temas, elementos e estratégias de composição — adianta Clarissa Diniz, curadora da exposição. — Vamos de uma representação mais naturalista, canônica, caminhando para uma paisagem sem essa distinção entre natureza e cultura, retratante e retratado, figura e fundo.

A mirada sobre a própria carreira motivada pela individual dá ao artista a possibilidade de rever alguns marcos históricos, como os 40 anos da coletiva “Como vai você, Geração 80?”, montada na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage em julho de 1984, com curadoria de Marcus Lontra, Paulo Roberto Leal e Sandra Magger, da qual o pintor projetou-se como um dos nomes de referência de sua geração. Ou os 30 anos que o Chelpa Ferro, coletivo criado com o escultor Barrão e o editor de cinema Sergio Mekler, completa em 2025. Ou mesmo os seus 65 anos de idade, que serão celebrados no próximo dia 28.

— Vou falar a coisa mais clichê do mundo, mas a gente não sente a idade que tem. Eu não sei o que são 65 anos, o meu espírito é criança, é um erezinho — diverte-se Zerbini. — O Clint Eastwood, que está filmando aí com 93 anos, tem uma frase ótima sobre longevidade: “O segredo é não deixar o velho entrar.” Acho que vou ficar assim, um velhinho criança. E o tempo passa muito rápido, o que é outro clichê, mas é verdade. Outro dia a gente se tocou que o Chelpa vai completar 30 anos, e todo mundo: “Como assim? A gente estava conversando sobre fazer o grupo ontem.” O tempo está acelerado, mas a pintura te reconecta com ele. Ela exige um outro tempo, talvez seja a grande beleza dela.

'Sábados, domingos e feriados'
Autor
: Luiz Zerbini. Editora: Cobogó. Páginas: 224. Preço: R$ 145.

'Pinturinhas para colorir'
Autor: Luiz Zerbini. Editora: Cobogó. Páginas: 40. Preço: R$ 72.

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