Joaquim Ferreira dos Santos
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Joaquim Ferreira dos Santos

Tudo que for notícia - mas escrita de outro jeito, como se não fosse.

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Joaquim Ferreira dos Santos

Nasceu no Rio e é jornalista há 50 anos, tendo trabalhado nos principais veículos do país. Publicou dez livros, entre eles a biografia de Leila Diniz.

Por Joaquim Ferreira dos Santos

Pode ser que Luana Piovani mais uma vez rode a baiana, pode ser que ela nem dê bola a este mané de Copacabana, ela que até no todo-poderoso Caetano Veloso cravou um acachapante “banana de pijama”. O fato é que ao botar o país contra o projeto de praias particulares da extrema direita e dar uns piparotes no Neymar, a atriz se transformou na personagem da semana passada. Em homenagem ao 12 de junho de quarta-feira eu sugiro agora que ela seja a namorada desta. Já fomos apresentados. Temos um passado de tapas e nenhum beijo, mas sou otimista. Já tenho metade do bolero.

Tempos atrás Luana Piovani apresentava o “Superbonita”, no GNT, um programa preocupado em encaixar as mulheres em certos padrões estéticos. Este cronista lembrou do poema “Receita de Mulher”, de Vinicius de Moraes, aquele da beleza é fundamental, da necessidade de saboneteiras profundas e seios em expressão greco-romana. Sugeri que Luana fizesse um especial na contramão, sobre a tirania de se reprimir uns centímetros a mais nos culotes, e que liderasse uma campanha para ajudar as mulheres a se desobrigarem de detalhes que o mundo macho tacha de feios. Luana, como já lhe era de glorioso hábito, criticou. Pelo então twitter, mandou nas minhas orelhas o mesmo tapa que na semana passada o jogador sentiu nas dele:

“Sugestão declinada”, escreveu. “Teremos sim programa para como se livrar deles. Precisamos de audiência e ninguém vai assistir a um pgm que incentive a inércia no duvidoso. Incentivamos a sua melhor versão. Todos temos! Agora, você me diz onde estão esses homens que curtem bunda mole com furinhos, a testa giga, barriguinha e cabelos crespos polvorosos pq no planeta q moro, homem tá mais vaidoso q a gente.”

Retruquei, fofo, nada ter contra a valorização da mulher bonita. Pelo contrário. Desde a primeira que vi, aquela com dois baldinhos na lata do Leite Moça, dedicava boa parte do tempo a trazê-las para dentro das retinas jamais fatigadas com tamanho espetáculo. Contrapus que alguns homens têm padrão mais elástico do que a pauta do programa. Olham as linhas do corpo, mas são capazes de ler nas entrelinhas. Qual, diante daquele sorriso maliciosamente desengonçado, pediria, antes de se apaixonar, para avaliar, se duro ou com estrias, se pera outonal ou calipígio infernal, o bumbum da Diane Keaton?

A Piovani que se move hoje nas redes sociais parece distante dessas questões da década passada. Está mais preocupada em acionar seus posts contra as injustiças e os alecrins dourados da lacração. Faz bem. Certamente, preferiria ficar fora de uma crônica leve, de bombons Sonho de Valsa espalhados entre os parágrafos, e que toma a liberdade de usar sua brava, bela figura beligerante, para saudar as mulheres e as paixões neste 12 de junho.

O verbo namorar tem sido conjugado de maneira acanhada, um bambolê de nostalgia romântica de que se deve rir numa festa onde o normal agora é beijar cinco pessoas de cada sexo e, entre esses 15, 20 sabores, escolher o de melhor pegada para, até a próxima festa, ficar. São os novos verbos, conjugados em suas formas multitransitivas. Quem vem de um planeta amoroso mais lento, de aproximações negociadas centímetro a centímetro, estranha. Eu não critico. Acho que dessa vez a Luana vai concordar comigo.

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