Joaquim Ferreira dos Santos
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Joaquim Ferreira dos Santos

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Joaquim Ferreira dos Santos

Nasceu no Rio e é jornalista há 50 anos, tendo trabalhado nos principais veículos do país. Publicou dez livros, entre eles a biografia de Leila Diniz.

Por Joaquim Ferreira dos Santos


RESUMO

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GERADO EM: 24/06/2024 - 00:02

De stripper a taxista: memórias picantes do Rio

O antigo stripper Stefan Perli se tornou taxista após a internet acabar com seu show. Agora ele vende um livro contando suas histórias picantes e nostálgicas da época em que era o mais famoso do Rio. Ele relembra suas aventuras eróticas e a decadência da profissão, enquanto é convidado a voltar para o palco pela nostalgia comercial de uma pousada liberal.

Você acha que entrou num táxi? Achou errado, passageiro. Se for o Spin 2014 de placa KXP7H68, você está entrando também num show erótico, numa boate safadinha de duas décadas atrás, e o primeiro sinal disso é uma pilha de livros sobre o painel do carro, todos com a mesma capa em vermelho escandaloso, o título mais ainda de “Bastidores da luxúria, a autobiografia de um stripper”. A pilha é a isca para o passageiro perguntar “meu amigo, do que se trata?” e o taxista Stefan Perli responder “É a minha história, o stripper sou eu”.

Quando ele liga o taxímetro está começando o que seria um espetáculo de stand up, não fosse o fato de o artista estar sentado ao volante. É um show de histórias picantes narradas na primeira pessoa, sem cobrança de couvert. Aconteceu com Stefan, e a temporada que realizou numa boate de Macau, na China, fazendo sexo ao vivo com uma modelo russa é apenas um capítulo (as 300 pessoas na plateia assistiam como se fosse uma ópera, e o “final feliz” devia espocar com o último acorde da canção, “Erotica”, da Madonna).

Stefan era o stripper mais famoso do Rio. Estrelava o show Clube das Mulheres, e toda noite, usando uma fantasia de médico, com direito ao estetoscópio enrolado no pescoço, levava centenas de fãs à loucura numa boate da Praça 15. Mandava subir ao palco uma felizarda, besuntava de leite Moça a parte de frente da sunga branca do médico e, aí, fosse o que Deus-Zéfiro quisesse que fosse. Mil e duzentos exemplares com essas histórias, e as fotos com a confirmação delas, já foram vendidos (R$ 50). A assinatura na capa traz o nome artístico dos velhos tempos, Tony Prado.

Era uma das mais antigas profissões masculinas, a de se pôr em pelo diante de uma plateia feminina que pagou pelo espetáculo. A internet acabou com a farra. Ninguém paga mais para ver homem nu, um evento agora grátis, ao apertar de uma tecla. O sripper brochou. Foi aí que Tony Prado precisou trocar o jaleco e, sem fantasia, segurar o volante de taxista.

Foi uma temporada divertida, de acontecências que agora conta no livro e no táxi, ao passageiro que se interessar. Pode ser aquela festa de despedida de solteira no Grajaú. O show precisou ser interrompido para o stripper fugir, pois já se aproximava, furioso, o noivo faixa-preta de judô.

“Bastidores da luxúria” tem 191 páginas e um número incontável de mulheres, algumas casadas, algumas internas de um asilo para idosas (achavam estar diante de um médico de verdade) e também aquela doida por doce que cravou os dentes no leite Moça, levando o artista do palco para o Miguel Couto. Era dureza. O corpo precisava estar malhado, a alma vivia carente. Que mulher quer apresentar à família o namorado stripper?

“Tony Prado tirou, junto com as roupas, as esperanças e a ingenuidade de Stefan Perli”, filosofa ao volante, “e o que sobrou foi uma visão cínica e fatalista do mundo”.

Uma “pousada liberal” na Barra tem convidado Stefan/Tony para voltar. Aposta na nostalgia comercial de apresentar a lenda ainda viva de uma profissão que enchia boates e hoje é uma espécie de bambolê do sexo. “Estou fora de forma”, desconversa o último stripper, 49 anos.

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