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Por — São Paulo

“Mulher espera por prova de que o mundo ainda existirá em 2050 antes de começar a batalhar por seus objetivos”. A americana Jenny Odell cita a manchete do site de paródias Reductress para indicar como “a ideia de correr contra o relógio no fim dos tempos é absurda”. O modo como o apocalipse climático tem colocado em xeque nossa crença no tempo linear, que corre sempre em frente, é apenas um dos temas abordados no livro “Em defesa do tempo”. Odell, que é artista multidisciplinar, localiza na Revolução Industrial e no colonialismo europeu a origem da noção de tempo e da linguagem que usamos para falar dele: um recurso finito, que pode ser dividido, vendido e comprado.

Essa linguagem foi levada ao extremo pelos “caras da produtividade”, como Odell chama os gurus de gestão do tempo — que já estavam otimizando cronogramas no início do século XX, quando surgiram as linhas de montagem.

Odell, que já havia abordado a economia do tempo em seu livro de estreia, “Resista! Não faça nada”, falou com o GLOBO por videoconferência. Ela compartilhou o pior conselho de produtividade que já ouviu e explicou por que este é o pior momento para desistir, embora o tempo esteja acabando.

Por que investigar a linguagem que usamos para falar do tempo?

Nosso conceito de tempo não é natural. A linguagem que usamos para falar do tempo, a do relógio, da produtividade capitalista, tem determinados propósitos e é só uma entre várias possíveis. Ao olharmos para dentro, descobrimos que sentimos o tempo de maneiras subjetivas e não lineares. Para uma criança que fará aniversário amanhã, esperar um dia parece uma eternidade; à medida que envelhecemos, o tempo parece passar mais rápido. Nós achamos que podemos ter o que quisermos quando quisermos, mas ainda há coisas que só acontecem sob certas condições. Ainda compramos frutas de acordo com a estação, por exemplo.

Mas as estações já não são mais as mesmas.

De fato, não dá para não pensar nisso. Meus amigos que moram na Costa Leste dos EUA reclamam da falta de neve e as plantas na minha vizinhança claramente estão obviamente confusas. Uso um exemplo para explicar por que calendários são abstrações e as horas não existem: nas colinas perto de casa há um tipo de flor, a Iris douglasiana, que é a primeira a desabrochar na primavera, um mês antes das outras flores. Mas ela tem desabrochado mais cedo. A Iris douglasiana não sabe que estamos em janeiro, que ainda é inverno (nos EUA). Para ela, o tempo é água e temperatura. Isso me faz pensar no que de fato é o tempo.

Como o colapso climático afeta nossa experiência do tempo?

Foi o colonialismo quem criou essa noção de tempo linear, de tempo como um recurso que você explora, que pode ser comprado e vendido. Essa mentalidade extrativista levou à crise climática. Essa sensação estranha de que temos que seguir trabalhando enquanto tudo parece acabar tem a ver com uma aparente falta de imprevisibilidade, como se existisse um caminho reto entre nós e o fim. Mas o relevo do tempo é acidentado, não é uma planície, ou seja, dá para encontrar outros caminhos. Longe de mim dizer que as coisas não vão piorar, porque a ciência diz que vão. Mas não há pior momento para desistir do que agora.

Por quê?

Seria assegurar que tudo só vai piorar mesmo. Nem o pessimismo nem o tecno-otimismo são opções. Minha geração tem a sensação de ter nascido na pior época possível, no fim da festa, que a partir de agora é só ladeira abaixo. Mas precisamos olhar tudo com realismo, sem se desesperar, dar um passo para trás e usar nossa criatividade para descobrir como responder coletivamente a essa situação. Por que as empresas de energia, responsáveis pela crise, insistem que é inevitável continuar usando combustíveis fósseis e vendem soluções individuais, como cada um calcular sua própria pegada de carbono. Elas continuam controlando a conversa.

Qual foi o pior conselho de gestão de tempo que já ouviu?

Vou dar um exemplo que não está no livro, mas que todo mundo me manda. Tem um vídeo no TikTok de um homem que é o estereótipo do “cara da produtividade”, todo musculoso, com o rosto avermelhado. Ele diz que aprendeu a condensar e manipular o tempo e agora consegue ter três dias em um, 21 dias por semana. O primeiro dia vai das 6h às 12h, o segundo das 12h às 18h e o terceiro vai das 18h à meia-noite. Ele leva ao extremo a lógica de espremer e enlatar o tempo! Falei com meu companheiro sobre esse vídeo e ele disse: “Esse cara está falando de trabalhar mais?” Exato! Mas para ele isso é manipular a própria estrutura do tempo.

Para você, o discurso dos “caras da produtividade” é um meio e não um fim, é isso?

O problema é quando esse discurso se torna punitivo, quando você internaliza o gerente da fábrica e acha que nunca está fazendo o suficiente, fica ansioso e tenta espremer ainda mais o tempo. Como se estar ocupado fosse moralmente bom. Essa ideia não apenas tem origens históricas muito específicas como pode torturar uma pessoa, o que é totalmente desnecessário.

Como gerencia o seu tempo?

Não tenho truques ou macetes para ensinar. Acontece que minha relação com o tempo e o trabalho mudou. Não penso no tempo quantitativamente. É como se eu fosse um navegador que quer chegar a um destino. Vejo o tempo como a oportunidade de chegar lá. Tempo é oportunidade. Será que este é o tempo para fazer tal coisa? Talvez não, talvez eu tenha que esperar. Não divido meu dia em horas produtivas. A não ser que eu precise fazer isso primeiro para depois desfrutar do tempo como uma oportunidade.

Serviço:

‘Em defesa do tempo’

Autora: Jenny Odell. Tradução: Lígia Azevedo. Editora: Fontanar. Páginas: 496. Preço: R$ 99,90.

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