Cultura
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‘Artista que é artista morre em cena”, afirma Divina Valéria. Uma das transformistas mais importantes do país, a cantora e atriz é a única das retratadas no doc “Divinas Divas” (de Leandra Leal, 2015) que continua na ativa artisticamente. E deseja estar em cena até o fim.

— Acho bonito morrer no palco — filosofa ela.

A julgar pela saúde (e o corpão) de Valéria, a despedida ainda está longe. No dia desta entrevista, era o seu aniversário de 80 anos. Como está “sempre metida em festa”, quis passar longe de badalação. “Católica fervorosa”, foi à missa “agradecer o privilégio de chegar a essa idade”.

— Não sinto os 80 anos. Não sou de fazer exercício nem de cuidar da alimentação — diz, respondendo “sim” e “sim” quando a repórter pergunta se bebe e fuma. — Sou desleixada. Mas, como não sinto nada, vou levando. Sou uma mulher que não tem idade, tenho é juventude acumulada.

Completar oito décadas é um baita de um feito se pensarmos que a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil, segundo a Associação de Travestis e Transexuais (Antra), é de 35 anos. São dados duros da realidade atual, mas há também o lado positivo destes tempos. Como o fato de uma travesti como ela estrelar a campanha publicitária de uma marca de beleza e estar no elenco de três filmes inéditos: “Nada somos”, “Alice número 2” e “Cavalo Marinho”.

O dia de Antonio Banderas

Dona de Kikito no Festival de Gramado 2018 pela atuação em “Marie”, Valéria celebra o momento do jeito que mais gosta: no palco. Domingo, faz o show “Divina Valéria — A arte de existir” encerrando a semana LGBTQIA+ do Teatro Rival Petrobras.

— Olhar pra Divina Valéria é dizer não à morte, à censura, ao preconceito e ao retrocesso — diz o curador do evento, Pedro Henrique França. — Num país tão violento às existências LGBTQIA+, especialmente trans e travestis, encerrar a programação que exalta a cultura e os artistas da nossa comunidade e afirma nosso orgulho é celebrar a vida.

No repertório, 12 músicas que ela “ama cantar” e cujos títulos dialogam com sua trajetória: “Sangrando”, “Escândalo”, “Por falar em saudade”, “La vie en rose”, “Rien de rien”, “Falando sério”, “Prudência” e outras. Xodó é “Sonho proibido” — e ela explica o motivo:

—Eu cantava essa música numa temporada em Buenos Aires, nos anos 1990, quando, numa noite, Antonio Banderas apareceu. Me fez repetir a canção três vezes, dizendo que era a música de que ele mais gostava.

No show, Valéria conta um pouco de sua vida. Filha de espanhol com brasileira, nasceu no bairro carioca da Piedade sob o nome de Valter Fernandes Gonzales. Aos 14 anos se vestia de mulher escondido dos pais. Lembra de sentir desejo sexual por homens “desde sempre”. Aos 16, saiu de casa para levar a vida que queria:

— Fazer show de travesti, ser a mulher que eu sou. Assumi e fui em frente. Nem teve intromissão dos meus pais, porque logo eles começaram a ver fotos minhas prestigiadas por personalidades como Juscelino Kubitschek e Roberto Carlos.

Até aí, o caminho foi tortuoso. Era 1964 quando começou a carreira profissional e enfrentou a repressão da ditadura militar. Se desse as caras na esquina vestida de mulher, perigava ir parar no xadrez. A transformação ficava restrita ao escurinho do teatro.

— Não precisava fazer quase nada para a polícia pegar, bastava dar pinta. Então, buscávamos ser discretas. Eu frequentava a Cinelândia com Rogéria (com quem contracenou no lendário espetáculo “Les Girls”). Era como se fosse a Broadway, com cinemas, bomniéres, famílias, animado. Como éramos pintosas, a gente ainda não ia de mulher. Ainda éramos meninos de família, bem-educados.

Valéria foi encontrar a liberdade em Paris, onde pôde “ser mulher em tempo integral”. Estava lá quando estourou a epidemia de Aids. Recebia telefonemas quase diários com a notícia de que um amigo havia sucumbido:

— Fui fazer o teste morrendo de medo. Porque, sexualmente, sobretudo na Europa, já tinha feito de tudo. Mas deu negativo.

Ao voltar para o Brasil, surpreendeu as companheiras, que esperavam ver um homem saindo do avião.

— Elas achavam que eu não ia poder entrar no país de mulher, o que eu já era 24 horas por dia. Passei diante da polícia com plumas, peles, maquiagem e malas imensas (risos). Fui direto para o Hotel Glória, botei minhas joias e dólares no cofre e fiquei morando lá.

Foi quando, vizinho dali, o pintor Di Cavalcanti propôs que ela posasse para ele.

— Ia para o ateliê dele todos os dias, tomávamos muito champanhe. Ele pediu que ficasse nua por baixo, com a capa de leopardo por cima e um seio à mostra — lembra ela, descrevendo o célebre quadro. — Hoje, fazem muitas transformações no corpo, peito postiço... Na minha época, éramos naturais. Nunca tive coragem de colocar nada artificial. Fico feliz em olhar meu corpo hoje, muita gente que colocou silicone passa por problemas.

Valéria diz que não tem do que reclamar. Prefere ver o copo meio cheio:

— A realidade do Brasil todo mundo conhece: é de muita dificuldade. Mas acho que hoje existe mais homofobia porque a população cresceu. E, no meio dela, há os ignorantes. Passei por tudo tranquilamente. Como vivi só para a minha arte, não tive problema. Mas fui privilegiada: cantei onde queria, do Theatro Municipal do Rio ao Olympia de Paris. Viajei o mundo sempre botando a plateia de pé.

É justamente a característica de “artista do mundo” que Leandra Leal destaca:

— A alma da Valéria é a de uma artista que transita pelo mundo através de sua arte. É lindo e raro, neste país, ver uma artista da qualidade dela chegar aos 80 anos em atividade. Isso deve ser muito celebrado.

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