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Por , Em La Nacion — Buenos Aires

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GERADO EM: 19/06/2024 - 16:17

Legado de Sara Facio: Fotógrafa Argentina Falece aos 92 anos

Sara Facio, renomada fotógrafa argentina, faleceu aos 92 anos. Sua contribuição para a fotografia e cultura latino-americana foi imensa, deixando um legado marcante e icônico.

Se a fotografia argentina tivesse que receber um nome de mulher, seria sem dúvida Sara Facio, uma das personalidades que mais contribuiu para o surgimento, desenvolvimento e institucionalização de um ofício ao qual dedicou em quase setenta anos de trabalho. Fotógrafa, curadora, jornalista e editora, conhecida por seus retratos de figuras da cultura latino-americana e por seu trabalho na promoção da fotografia, a artista morreu na tarde desta terça-feira (18), aos 92 anos. O velório será nesta quarta-feira (19), reservado para a família e amigos.

Facio foi casada com a poetisa e escritora María Elena Walsh (1930-2011). Há um mês, a Fundação Walsh-Sara Facio, que cuidava e administrava o legado de Walsh, incorporou também o trabalho de Facio. Durante quarenta anos, elas formaram um casal de intelectuais brilhantes.

A ausência da fotógrafa durante a Feira Internacional do Livro de Buenos Aires chamou a atenção em abril, quando um volume com textos de Walsh sobre feminismo foi apresentado como homenagem à escritora. Ela havia sido hospitalizada por problemas cardíacos. Nesta terça-feira (18), após a notícia de sua morte, a presidente da fundação, Graciela García Romero, disse ao LA NACION que a artista “foi desaparecendo aos poucos, um processo natural da velhice”.

Facio foi fundadora de vários marcos na história da fotografia argentina. Criou a primeira editora especializada do país, La Azotea. Entre 1985 e 1998, dirigiu a Galeria de Fotos do Teatro San Martín, de Buenos Aires, primeiro espaço dedicado exclusivamente à fotografia. Formou o patrimônio nacional, doando o maior acervo de fotos ao Museu Nacional de Belas Artes em 1998, ao qual posteriormente legou também sua biblioteca. Também fundou o Conselho Argentino de Fotografia, em 1979, junto com seus colegas Alicia D'Amico, Eduardo Comesaña, Andy Goldstein, Annemarie Heinrich, María Cristina Orive e Juan Travnik, com o objetivo de divulgar e estudar a fotografia nacional e abrir diálogos com a produção internacional. Junto com D'Amico, criou seções especializadas nos jornais Clarín , La Nacion, e nas revistas Autoclub, Fotomundo e Vigencia. Facio lutou para tirar a fotografia do âmbito dos fotoclubes. O fez, entre outras coisas, escrevendo notas técnicas de divulgação e resenhas de exposições em importantes jornais e revistas nacionais.

Teve um propósito ao longo da vida: o trabalho constante pela legitimação da fotografia no mundo da arte. Agora, pode descansar em paz. "Uma militante! Sempre digo quando me perguntam se não sou ativista: sim, sou ativista na fotografia. Porque, além disso, sou mulher, como você deve ter notado. As mulheres são sempre menos”, disse ela em uma das últimas entrevistas que deu. "Não há dúvida de que Sara Facio é uma das pessoas mais marcantes e complexas da história da fotografia argentina", escreveu seu colega Ataúlfo Pérez Aznar no livro que dedicou ao seu trabalho nas Ediciones Larrivière.

Retrato icônico de Julio Cortázar feito por Sara Facio — Foto: Sara Facio / Divulgação
Retrato icônico de Julio Cortázar feito por Sara Facio — Foto: Sara Facio / Divulgação

Seu currículo enche páginas com mais de 500 exposições em museus e galerias de toda a América, Europa e Ásia. Desde 1968, publicou mais de vinte livros. Suas páginas continuam com todos os prêmios recebidos, as mostras das quais foi curadora e sete pequenas pinturas que viraram selos postais. Foi significativa a quantidade de imagens deixadas pela mulher que soube transformar figuras da cultura argentina e latino-americana em ícones, ao mesmo tempo que mirava nas pessoas comuns. Ela abriu as portas para a explosão da fotografia de autor na Argentina.

Cortázar com o cigarro na boca, Borges na biblioteca, Neruda taciturno em sua casa, os mil e um sorrisos de sua querida María Elena Walsh, os meninos peronistas olhando para a câmera, as crianças escoradas no vidro... São dezenas de imagens que já estão inscritas na memória coletiva.

Sua obra foi revisitada nos últimos anos em exposições como "Perón", no Malba, em 2018, e nas homenagens aos seus noventa anos, em 2022, no Bellas Artes e no Centro Cultural Kirschner. Entre as históricas, destacam-se as que realizou junto com Alicia D'Amico — as únicas argentinas a apresentar uma exposição individual no Centro Pompidou de Paris com a exposição de Escritores Latino-Americanos. O mesmo aconteceu com a exposição "Buenos Aires e sua gente" , que foi a primeira exposição individual de fotógrafos argentinos no Brasil, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Posteriormente, parte dos livros "Buenos Aires, Buenos Aires" e "Humanario" foram expostos na Galeria Tsukada, em Tóquio. As exposições "Humanario" — levantamento realizado em 1966 sobre o estado crítico dos hospitais nacionais —, "O retorno de Perón" e "Funerales de Perón" tiveram que esperar o governo democrático para serem exibidas, em 1985, no contexto de 25 anos de fotografia em Centro Cultural Recoleta.

O começo em Paris

Nascido em San Isidro, em 18 de abril de 1932, Facio começou a estudar arte aos 14 anos no Museu Nacional de Belas Artes. Mas a relação profissional com as Artes Plásticas começou quando abordou a proposta de criar um acervo fotográfico para a instituição, que conta atualmente com mais de 1.500 imagens. Desde a sua criação, em 1998, até 2012, a artista foi responsável por desenvolver o crescimento desta coleção. Nessas décadas, fez ainda outras cinco doações ao museu de peças de sua coleção particular. A última foi em 2014 e deu origem à exposição "América Latina", que também teve curadoria dela. Facio doou 25% de suas fotos ao museu. Em 2022, abandonou a sua biblioteca pessoal, construída ao longo de sessenta anos em que estabeleceu ligações com artistas e instituições de todo o mundo através da sua atividade como fotógrafa, editora e gestora cultural. São mil volumes dedicados à história do meio, coleções especializadas e ensaios fotográficos.

Jorge Luis Borges em foto tirada por Facio em 1965 — Foto: Sara Facio / Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires / Reprodução
Jorge Luis Borges em foto tirada por Facio em 1965 — Foto: Sara Facio / Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires / Reprodução

Facio formou-se em artes plásticas, obteve o título de Professora Nacional de Belas Artes em 1953. Dois anos depois, viajou para Paris para estudar artes visuais com bolsa do governo francês. Foi nessa viagem feita com Alicia D' Amico, outra futura grande fotógrafa, que uma câmera caiu em suas mãos. Ao retornar a Buenos Aires, o pai de Alicia, fotógrafo profissional, as incentivou a se aprofundarem nessa arte. Em 1957, começou a praticar fotografia no estúdio de Luis D'Amico. Com a ajuda do National Endowment for the Arts, Facio conseguiu comprar sua primeira câmera profissional. Sob a orientação de Annemarie Heinrich, mergulhou no fotojornalismo, ao qual se dedicou durante muitos anos.

Entre 1960 e 1985, dividiu estúdio com Alicia D'Amico. Juntas, decidiram tirar fotos de Buenos Aires, que percorreram em seu Fiat 600. "Buenos Aires, Buenos Aires", publicado em 1968, marca um antes e um depois em sua carreira e na fotografia argentina. A exposição de 30 obras originais como enquadramento para a apresentação do livro, que seria inaugurado na Avenida Corrientes, sede do Museu de Arte Moderna, em 1968, foi suspensa e foi a primeira exposição fotográfica censurada na Argentina, provavelmente por causa do texto de Julio Cortázar, que algum tempo antes havia criticado a ditadura militar da época. A editora Sul-Americana publicou o livro com uma condição: que Julio Cortázar escrevesse o texto. E escreveu: Sara e Alicia fotografaram Buenos Aires com uma rejeição soberana aos temas monumentais e aos itinerários pitorescos ou inusitados. As suas imagens nascem de algo que em torno da carícia, da reclamação, do apelo, da cumplicidade, da denúncia amarga, todos os gestos interiores de uma sensibilidade coincidente com a razão estética para que cada abertura sobre a cidade tenha algo do véu de Verónica, de linho enxugando um rosto molhado de vida.

“Dois ou três dias depois daquele primeiro encontro, como eu estava convencida de que as fotos não iam sair, ele me disse: vamos à UNESCO para você tirar algumas fotos. Ele trabalhava como tradutor e foi lá que tirei aquela foto dele que ele gostou tanto e que me disse que deveria ser a foto oficial dele”, lembrou Facio. Trata-se da famosa foto de Cortazar fumando, com a testa quase franzida. Icônica.

— Sara pretendia, através da inserção e desenvolvimento do seu trabalho no seu tempo, promover a compreensão da evolução da fotografia como meio de expressão no país e das suas contribuições, não apenas a partir de imagens próprias, mas como autora, mais tarde como editora, curadora e crítica — disse Pérez Aznar, estudioso e testemunha de sua vida e obra.

Sara recebeu inúmeros prêmios, entre outros, o concedido pela Federação Internacional de Arte Fotográfica da Suíça, o Platinum Konex (1992), como Melhor Fotógrafo Argentino da década. Em 2011, foi nomeada Cidadã Ilustre de Buenos Aires e, em 2019, recebeu o Prêmio Nacional de Carreira Artística, concedido pelo Ministério da Cultura daquele país. É também autora de um livro sobre a história de sua disciplina: "Fotografia na Argentina: de 1840 aos dias atuais".

As suas obras fazem parte das coleções do Museu Nacional de Belas Artes, do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, de Madri, na Espanha, bem como de prestigiadas coleções privadas.

As nove décadas

Sara completou 90 anos em 2022 e ganhou um bolo de três andares no Belas Artes, e depois outro no hall do Teatro San Martín. “Não sei se todos sabem como a vida de nós, fotógrafos, foi impactada com a mudança de Sara para o San Martín e para o MNBA”, disse Julie Weisz na primeira comemoração. Posteriormente, Facio viu seu trabalho projetado nas telas dos teatros da Avenida Corrientes e do Obelisco, e realizou o antigo desejo de uma exposição de rua com imagens em vias públicas de quatro bairros, Recoleta, San Telmo, Congreso e Microcentro. “Nenhuma homenagem seria verdadeiramente suficiente para destacar tantos anos dedicados à fotografia. Ou seja, é impensável não viver num estado de gratidão permanente para com a sua figura. Seria possível a existência de uma feira especializada em fotografia sem o trabalho institucional que Sara realizou ao longo dos anos 1990? Que museus comprariam fotografias se ela não tivesse lutado tanto para incorporar este meio nas suas coleções?“, escreveu o curador Francisco Medial quando lhe foi prestada homenagem na Pinta BAPhoto , e foram expostas placas de negativos e uma das suas séries menos vistas, as "Autopaisajes", uma representação fragmentária de si mesmo e da natureza.

Sara dividia seus dias entre sua casa e seu ateliê, que continuou mantendo na Rua Paraguai, dedicando com paixão a cuidar do legado de seu companheira de vida na Fundação María Elena Walsh. Havia parado de tirar fotos há muito tempo. Certa vez, escreveu uma espécie de epitáfio: “O que faço na fotografia é garantir que no dia em que eu morrer não digam que morreu uma vaca, mas que morreu uma pessoa que viu aquilo. E o que vi está nas minhas fotos. Como se dissesse: 'esta é a minha cidade, o meu povo, aquele que admiro, aquele de quem gosto'. Esse é o meu cânone". Morreu uma pessoa que viu a vida passar diante de seus olhos.

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