Cultura
PUBLICIDADE
Por — Rio de Janeiro

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 22/06/2024 - 03:30

Angela Davis no Festival LED: Liberdade, Educação e Direitos das Mulheres.

Angela Davis fala sobre liberdade, educação e direitos das mulheres no Festival LED no Rio. Destaca a importância de proteger conquistas como o direito ao aborto e a justiça reprodutiva. Aborda a luta contra o racismo, o feminismo e o abolicionismo penal. Mostra-se esperançosa com a mobilização da juventude e critica a criminalização do aborto, enfatizando a necessidade de proteger as vitórias alcançadas.

Desde os anos 1960, quando passou a militar no movimento negro nos Estados Unidos, Angela Davis viu seu nome e seu rosto se tornarem símbolos de liberdade e coerência política. Hoje, quando os próprios conceitos de liberdade e coerência parecem ter sido esticados ao limite, ela segue reverenciada por persistir, como se fosse inquebrantável, na longa defesa das causas que a mobilizam há mais de 60 anos: o anticapitalismo, a luta contra o racismo, o feminismo para todas e todes, o abolicionismo penal, a solidariedade ao povo palestino, a justiça reprodutiva para mulheres e pessoas que gestam e os projetos de educação emancipatórios.

Filósofa marxista, aluna dileta de Herbert Marcuse, professora emérita da Universidade da Califórnia e autora dos clássicos do pensamento interseccional “Mulheres, raça e classe” e “Mulheres, cultura e política” (ambos editados no Brasil pela Boitempo), Davis, de 80 anos, participou na sexta (21) do Festival LED — Luz na Educação, quando conversou com a jornalista e apresentadora da GloboNews Aline Midlej sobre o tema “Educação como caminho para a liberdade”. Foi ovacionada ao entrar na sala, mesmo antes de ser apresentada. Na saída, jovens mulheres, sobretudo negras, a acompanharam até o carro em um misto de respeito, admiração e busca por autógrafos e selfies. “Sempre saio do Brasil esperançosa”, disse ela.

Davis falou ao GLOBO logo após sua participação no festival, ao lado da companheira, Gina Dent, também professora da Universidade da Califórnia e uma autoridade em Estudos Feministas e Literatura Afro-Diaspórica. As duas são autoras de “Abolicionismo. Feminismo. Já.” (Companhia das Letras). O Festival LED — Luz na Educação, que começou na sexta e continua neste sábado (22) no Museu do Amanhã e no Museu de Arte do Rio (MAR), é realizado pela Globo e pela Fundação Roberto Marinho, em parceria com a Editora Globo, e tem apoio da Prefeitura do Rio, da Secretaria Municipal de Educação e da Fundação Bradesco.

Confira a seguir trechos da conversa com Angela Davis.

Angela Davis no Festival LED, no Museu do Amanhã — Foto: Márcio Alves
Angela Davis no Festival LED, no Museu do Amanhã — Foto: Márcio Alves

Você acabou de falar sobre educação e liberdade, mas em meio à ascensão da extrema direita a própria ideia de liberdade está em disputa. De que liberdade você fala?

Falo da liberdade criada quando pensamos coletivamente o que significa ser livre. É uma liberdade que envolve vitórias sobre o racismo e o patriarcado e que é contrária à exploração de classe. Enfim, uma liberdade que é criada na prática cotidiana quando nos organizamos coletivamente. (Nesse momento, Gina complementa a ideia de Davis: “Não é ‘minha liberdade para ter armas’ ou ‘para fazer o que eu quiser quando eu quiser’. Como os ativistas do movimento negro sabem, liberdade trata de também libertar os outros. Não é uma liberdade que nos absolve das obrigações, mas que permite que floresçamos.”)

Como deve ser um projeto educacional emancipatório visando a essa liberdade, quando escolas e universidades têm orçamentos insuficientes e intelectuais estão sob ataque?

Primeiro, a educação tem que ser de graça e oferecida pelo Estado a todos. Ela não pode ser um produto do capital, não pode jamais ser submetida aos mesmos caprichos que qualquer commodity. E, é claro, nós temos que pensar em como transformar a estrutura do sistema educacional ou, como diz o movimento abolicionista penal, pensar a educação como uma alternativa ao encarceramento. Ataques a instituições educacionais são um fenômeno global. Há uma tentativa de bloquear o acesso daqueles que agora estão nas universidades, como acontece no Brasil desde 2012, quando vocês garantiram o acesso igualitário à educação superior para pessoas negras.

A educação tem que ser de graça e oferecida pelo Estado a todos
— Angela Davis

No Brasil e nos EUA, ultraconservadores tentam banir os direitos reprodutivos de meninas, mulheres e de pessoas trans que gestam. O que isso significa?

Mulheres com dinheiro sempre fizeram abortos. São as pessoas pobres, negras e indígenas que sofrem com a criminalização. A grande lição da derrubada de Roe v. Wade (decisão da Suprema Corte que garantiu o direito ao aborto nos EUA, em 1973) é que temos que proteger as nossas vitórias. Pensávamos que nossos direitos reprodutivos, ou ao menos o direito ao aborto, estavam assegurados, mas tudo foi desfeito. Agora, temos que lutar por Justiça reprodutiva, que inclui o direito ao aborto, mas também a certeza de que ninguém será esterilizada contra sua vontade por ser pobre. Não podemos cometer os erros de 50 anos atrás (Gina acrescenta: “As pessoas precisam entender que mesmo que aparentemente não diga respeito a elas, ampliar criminalizações é sempre uma ameaça. Quando dizemos que prisões são lugares onde a sociedade coloca quem pode ser descartado, o mesmo vale para a criminalização do aborto. Quem terá seus direitos reprodutivos negados, quem corre risco de vida? Os descartáveis. Está escrito que a lei é para todos, mas não é. Ela vale para os mais vulneráveis.”) Sempre foi assim, é da natureza da democracia capitalista. Aliás, democracia e capitalismo é uma contradição em termos.

Você completou 80 anos em janeiro. Estamos hoje onde pensou que estaríamos?

Não, de jeito nenhum! (Angela cai na gargalhada). Estava convencida de que o planeta teria derrotado o capitalismo. Mas, sabe, conquistamos coisas que eu nunca teria imaginado. Nunca pensei que a luta em torno das questões de gênero transformaria a maneira como nós consideramos o que é normal e o que não é, com o movimento das pessoas transgênero afetando tantos aspectos das nossas vidas. Eu certamente não imaginei que levaria tanto tempo para nós efetivamente desafiarmos o capitalismo nem que conseguiríamos falar tanto sobre abolicionismo penal como fazemos hoje.

E se a sua geração tivesse feito a revolução?

Costumo dizer que eu tinha muita esperança de que faríamos a revolução rapidamente. Mas, em retrospecto, não acho que sabíamos o suficiente naquela época para realmente produzir uma revolução que traria mudanças para as nossas vidas. É só diante das consequências da luta que nos tornamos conscientes do que precisa ser mudado.

É só diante das consequências da luta que nos tornamos conscientes do que precisa ser mudado
— Angela Davis

Há mais de 60 anos você tem sido uma aliada da causa palestina. Como vê o movimento nos campi universitários?

Quando me envolvi com a solidariedade aos palestinos no início dos 1960, percebi que não conseguíamos pôr a Palestina na agenda de justiça social global, mesmo sendo um tema tão importante quanto a luta contra o racismo. Estou triste com essa guerra genocida que já tirou tantas vidas, mas ao mesmo tempo fico contente por ver que as pessoas finalmente estão acordando. Os palestinos são importantes para o mundo porque são um exemplo de povo que nunca desiste. E é apenas esse tipo de energia que nos levará a uma transformação revolucionária. Já que falamos de educação, é importante dizer que os ataques à universidade de Gaza e aos arquivos palestinos são estratégicos. Isso destrói uma sociedade. Estivemos na Palestina anos atrás e ficamos impressionadas com a valorização do conhecimento e o tanto que eles sabem sobre a luta dos negros nas Américas e o antirracismo.

Mais recente Próxima Lúcia Veríssimo cuida da mãe acidentada e calcula destruição de 192.000 m² em incêndio na fazenda
Mais do Globo

Judi Dench e Siân Phillips foram aceitas após campanha contra a regra considerada arcaica e símbolo da supremacia masculina em lugares de poder e influência

Atrizes britânicas são primeiras mulheres admitidas em clube de Londres reservado aos homens

Empresa diz que medida trava inovação e que pode atrasar benefícios do uso de inteligência artificial no Brasil

Meta diz que decisão do governo de suspender uso de dados para treinar IA é 'retrocesso'

A ex-BBB apontou falas de Renata Meins, consultora de 'imagem pessoal' sobre mulheres transsexuais como desrespeitosas e cruéis

'Transfobia': Ariadna Arantes se revolta com 'coach' que afirma não atender mulheres trans em curso de visagismo

Governo determinou que empresa suspenda prática no Brasil. Na Europa, uso de informações para treinamento de IA foi adiado

Veja como a Meta coleta dados de Facebook e Instagram para treinar seus robôs de IA

Crescimento de Vojvoda e Artur Jorge, e saídas de Cuca e Diniz colocam estrangeiros entre os cinco primeiros

Ranking de Técnicos: na ponta, Tite, do Flamengo, é único brasileiro no top-5 recheado de estrangeiros

Resultado do Festival de Parintins 2024 foi divulgado nesta segund-feira (1); campeão deste ano é o Boi Caprichoso

Quem ganhou o Festival de Parintins 2024?

Com alta do dólar e do petróleo, diferença entre o valor cobrado no Brasil e no exterior é o maior desde meados de abril

Defasagem no preço da gasolina praticado pela Petrobras já chega a 19%

Influenciadora compartilhou clique com a sertaneja nas redes e ganhou comentário da mãe

Lauana Prado surge em nova foto com Tati Dias, recebe apoio da sogra e a elogia: 'A melhor do mundo'
  翻译: