Teatro Carlos Gomes, no Rio, é reinaugurado após dois anos em reforma

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Adquirido pela Prefeitura do Rio em 1988, o teatro recebeu mais de R$ 17 milhões em reformas, passando por uma restauração completa da fachada, recuperação dos salões e foyer, respeitando o estilo art déco que predomina desde a reconstrução após o incêndio de 1929, e pela modernização de toda estrutura técnica e cênica da casa.

Na companhia da atriz Renata Sorrah, o prefeito Eduardo Paes e o secretário municipal de Cultura, Marcelo Calero, apresentam hoje a placa de reinauguração do teatro. Foi nos palcos do Carlos Gomes que Sorrah apresentou montagens clássicas como a premiada “Krum” (2015), de Márcio Abreu, e “Noite de reis” (1997), adaptação de William Shakespeare.

— Sou apaixonada pelo Carlos Gomes, é um dos teatros mais bonitos da cidade. É um palco incrível. Toda vez que uma cidade investe em cultura, é um alívio — conta Sorrah. — Nós precisamos do teatro, do cinema, da música, da dança para contrabalançar todas as coisas difíceis que acontecem na sociedade.

Com ocupação para 650 espectadores, o teatro conta com palco de 15 metros de largura por 6,8 metros de altura em sua janela cênica (espaço visível da plateia). Palco este que já recebeu nomes como Grande Otelo, Eva Todor, Vicente Celestino, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes e Procópio Ferreira, dentre outros ícones do teatro nacional.

— O Carlos Gomes é uma das mais importantes joias cariocas — celebra Eduardo Paes, prefeito do Rio.

Calero também comemora a volta às atividades de um dos mais tradicionais e charmosos teatros da cidade:

— O Carlos Gomes está mais preparado do que nunca para abrigar espetáculos de ponta, com total conforto e segurança para artistas, produtores e público.

Eduardo Barata, presidente da APTR, aponta o retorno do Carlos Gomes como uma possibilidade de revitalização da Praça Tiradentes, que perdeu muito com o fechamento de seus teatros (lá também é localizado o Teatro João Caetano, ainda em reforma).

— Um lugar nobre do Centro da cidade se tornou uma área insegura, virou uma tristeza, e a volta de um monumento histórico como o Carlos Gomes significa muito para a região em termos de movimento e revitalização.

O crítico teatral e pesquisador Daniel Schenker valoriza a perseverança do espaço que se recusa a permanecer com as portas fechadas. Ele lembra que o local foi importante para a popularização do teatro de revista no país, do fim do século XIX a meados do século XX.

— O Carlos Gomes é um espaço de resistência que, com fechamentos e reaberturas, vem sobrevivendo — afirma. — É importante termos exemplos como este em um momento em que a cidade também perde alguns espaços teatrais, mesmo com a volta do público.

Schenker cita o fechamento recente do Maison de France, do Teatro do Leblon e do Serrador, além da inoperância do Teatro Princesa Isabel, como demonstrativos de uma “ameaça permanente” aos espaços teatrais.

Passada a premiação, o Carlos Gomes retoma sua programação regular no próximo dia 25 com a estreia da peça “Bibi, uma vida em musical”, que fica em cartaz até 18 de agosto. Com direção de Tadeu Aguiar e texto de Artur Xexéo e Luanna Guimarães, o musical celebra a vida e o legado de Bibi Ferreira, uma das maiores figuras do teatro no Brasil, e que escreveu, inclusive, seu nome na história do Carlos Gomes. Bibi estava em cartaz no teatro à época de seu segundo incêndio, em 1950.

— Já estamos com a programação quase fechada até o resto do ano. Teremos vários musicais, o Festival Panorama de Dança e espetáculos de grande porte que irão movimentar a cidade — aponta Sérgio Medeiros, gestor do novo Carlos Gomes.

Escolhido para dar o pontapé inicial no novo Teatro Carlos Gomes, o Prêmio APTR completa 18 anos em 2024. A cerimônia, organizada pela Associação dos Produtores de Teatro, contará com apresentação de Deborah Evelyn, Amaury Lorenzo e Luísa Arraes, e distribuirá prêmios em 17 categorias, em que concorrem mais de 90 artistas. “A aforista”, de Marcos Damasceno, e “Furacão”, de Ana Teixeira e Stephane Brodt, lideram o número de indicações, concorrendo cada uma em sete categorias. Na sequência vem “Kafka e a boneca viajante”, de Rafael Primot, com seis indicações. Um dos hits da última temporada, “Beetlejuice, o musical” concorre a quatro prêmios, incluindo melhor ator para Eduardo Sterblitch.

— Me senti honrada com o convite para apresentar o Prêmio APTR, uma premiação tão importante e abrangente, que mostra como o nosso teatro é rico — destaca Evelyn, que volta aos palcos onde se apresentou com “Deus da Carnificina”, em 2013. — Tenho grandes lembranças de chegar ao teatro e entrar no camarim para me arrumar antes de subir naquele palco. Olhar aquela plateia cheia e estar em cima daquele palco histórico... Me sentia como se estivesse ao lado de todos que já tinham encenado ali.

Além da entrega das categorias regulares, o Prêmio APTR contará com homenagens e apresentações especiais. Representado por Angela e Leandra Leal, o Teatro Rival irá receber o Troféu Marília Pêra em reconhecimento pelos 90 anos em atividade. E Chico Buarque, que recém-completou 80 anos, será lembrado em uma apresentação musical que irá revisitar sua trajetória nos palcos com obras como “Roda Viva”, “Calabar”, “Gota d'água”, “Ópera do malandro” e “Os Saltimbancos”. Claudia Ohana, Beth Goulart, Lilian Valeska e Nany People subirão ao palco para relembrar os musicais buarqueanos.

O palco do evento também receberá grandes nomes das artes cênicas brasileiras, como Joanna Fomm, Ney Latorraca e Amir Haddad.