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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 19/06/2024 - 00:00

Copom mantém juros devido incertezas econômicas

O Copom deve manter os juros na reunião de hoje devido à resiliência da economia americana e incertezas fiscais no Brasil. Pressão para interromper os cortes aumenta, refletindo em dólar valorizado e fuga de investimentos estrangeiros.

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve decidir pelo encerramento dos cortes na Selic, a taxa básica de juros brasileira, nesta quarta-feira, 19. É o que apontam as previsões de 123 casas de investimentos ouvidas pelo Valor e também a mediana das expectativas do Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira pelo Banco Central.

A reunião do Copom que se encerra hoje ganhou um componente adicional: um novo ataque do presidente Lula ao líder do colegiado e da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, em entrevista à rádio CBN.

A decisão, que sai após o fechamento do mercado, deve indicar uma pausa no mesmo patamar atual, de 10,5% ao ano, repetindo um movimento visto pela última vez em junho de 2023. Naquela reunião, a decisão pela manutenção em 13,75% permanecia pela nona vez seguida. Mas, a partir dali, o ciclo de cortes começou. Uma semana antes daquela decisão, o mercado precificava uma Selic de 9,5% no fim de 2024.

No decorrer das reuniões do Copom seguintes, os ventos mudaram. Dois fatores fundamentais para que o ciclo de cortes seguisse acabou jogando um balde de água fria naquelas expectativas.

Expectativas do mercado pioraram ao longo de 2024 — Foto: Editoria de Arte
Expectativas do mercado pioraram ao longo de 2024 — Foto: Editoria de Arte

A resiliência da economia americana e a indefinição sobre o equilíbrio das contas públicas no Brasil são, de acordo com agentes do mercado financeiro ouvidos pela reportagem, motivos que impedem a continuidade do corte dos juros.

— Há uma pressão grande para parar de cortar (os juros). É um momento adverso. Parte por conta das expectativas de inflação e cenário externo, por conta dos juros nos EUA. E a situação está assim desde que a meta fiscal dos próximos anos foi revista — diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, sobre a revisão do déficit nas contas públicas.

Em abril, o governo Lula anunciou que fixou como zero o resultado de receitas e despesas em 2025, e de 0,25% do PIB para 2026. Antes, o arcabouço fiscal apresentado pelo governo havia definido como meta um superávit de 0,5% do PIB para o ano que vem e 1% do PIB para 2026.

Contas públicas

Na terceira semana do ano, o Boletim Focus revelava que os operadores esperavam que a Selic atingiria 9% no fim do ano — redução de 2,75 pontos percentuais, à época. Mas, após dados de resiliência da economia americana do primeiro trimestre e da revisão do déficit fiscal para 2025, em abril, o jogo começou a virar.

No quarto mês do ano, logo após o anúncio da revisão pelo governo, os agentes aumentaram as apostas de que a taxa básica encerraria o ano em 9,5%. Naquele momento, com a taxa a 11,75%, a perspectiva de redução caiu para 1,25 pontos até o fim do ano.

Só que a escalada das questões acerca do controle fiscal, com tentativa do governo de fechar as contas através de aumento de arrrecadação sem corte de gastos, fez o mercado pisar ainda mais o pé no freio, desconfiando da situação.

— Há uma série de falta de fatores de esperança para recuperação. Quando falamos de questões locais, é quase só a situação fiscal que preocupa o mercado. Acredito que o BC deve atuar com perpetuidade em níveis altos (da Selic) para conter os níveis de inflação — diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Exemplo do impacto da condução fiscal também é refletida na cotação do dólar. A moeda americana fechou as negociações de ontem, terça-feira, cotada a R$ 5,43. Em 2024, a divisa apresenta valorização de quase 12% e, desde o fim de março, está sendo negociada acima do patamar de cinco reais.

A depreciação do real na comparação com a moeda americana, além do aumento do preço das commodities, é lida pela XP como motivos para pressionar o índice de preços de bens no segundo semestre deste ano, mantendo a Selic em patamar alto:

"Acreditamos que os principais vetores sugerem aumento da inflação nos próximos trimestres, afastando-se ainda mais da meta do Banco Central”, diz trecho do relatório assinado pelos economistas Caio Megale, Rodolfo Margato e Alexandre Maluf.

Para os analistas do Itaú, a preocupação com o aumento de preços é semelhante: “A taxa de câmbio e as expectativas de inflação seguem em tendência de alta em meio à deterioração do cenário interno, embora o pano de fundo externo tenha apresentado substancial melhora”, diz Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa do banco, em relatório.

EUA influencia economia global. E a do Brasil

Sede do Fed, o banco central americano, em Washington D.C. — Foto: Samuel Corum / Bloomberg
Sede do Fed, o banco central americano, em Washington D.C. — Foto: Samuel Corum / Bloomberg

No início do ano, o otimismo também era aguardado no cenário internacional. Os operadores esperavam que o Federal Reserve, o banco central americano, realizasse até seis cortes na taxa básica por lá em 2024.

No início de janeiro, a pesquisa FedWatch apontava que 40% dos agentes esperavam seis cortes na taxa, situação que foi mudando diante dos dados de inflação e emprego que foram sendo apresentados posteriormente. Hoje, 43% dos agentes esperam, no máximo, dois cortes até a reunião de dezembro do comitê americano (Fomc, na sigla em inglês).

Apesar do patamar alto da taxa básica — os juros americanos não alcançavam este nível desde 2001 —, a economia americana demonstrou, no início do ano, um fôlego persistente, com o aumento médio de preços ao consumidor vindo alto e as taxas de desemprego apresentando níveis baixos.

A taxa de juros serve como balizador, para manter a economia aquecida com inflação controlada. Com a população empregada e os preços em crescimento, a taxa deve corresponder à atividade econômica para não deixar os preços encarecerem demais sem que isso comprometa os setores produtivos e o crescimento do país. Por lá, a meta do índice é de 2%.

Para Cruz, as decisões da autoridade monetária por lá vão também contribuir para ditar os próximos passos na condução do Copom por aqui:

— Vamos ver se eles vão se sentir mais a vontade com os dados no segundo semestre, abrindo espaço pra cá. Se eles demoram (com os cortes), se começar só em dezembro, isso vai causar, para o mundo inteiro, juros maiores.

Fluxo negativo na Bolsa

Mas por que a decisão americana é refletida no Brasil?

Os títulos do Tesouro americano são considerados os investimentos mais seguros do mundo, afinal, o país nunca deu um calote em seus credores. Eles dão menos dor de cabeça do que ativos de risco, como ações de empresas listadas em bolsa. Esses papéis podem até dar um retorno maior do que a taxa básica, mas a probabilidade disso acontecer é analisada de perto pelos agentes.

Quando a taxa brasileira está num patamar alto, há um movimento de entrada de investidores internacionais buscando os títulos do país. Só que o Banco Central vem reduzindo a taxa básica por aqui desde agosto de 2023, fazendo com que a diferença entre a nossa e a americana - o chamado de diferencial de juros - diminuir.

Essa decisão torna o ambiente por aqui menos atraente. Com menos dólares fazendo um caminho de entrada ao país, a moeda americana se valoriza, e também leva embora investimentos internacionais que estavam aqui. Exemplo disso é a fuga de dólares da bolsa brasileira.

Dados divulgados pela B3 e compilados pelo Valor Econômico mostram que o fluxo negativo de investimentos estrangeiros em 2024 já ultrapassou os R$ 43 bilhões até junho.

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