Economia
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Por — Brasília

Apesar do racha na decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) concordou de forma unânime que a conjuntura mais incerta tanto internamente quanto no exterior demanda uma política monetária mais contracionista, ou seja, um patamar de juros mais elevado para segurar a inflação. O comitê ainda reforçou o "firme compromisso" com a convergência da inflação para a meta de 3,0%.

As informações consta, na Ata que explica a decisão do Copom, na semana passada, de reduzir o ritmo de corte da taxa Selic – que caiu 0,25 ponto percentual, de 10,75% para 10,50% ao ano.

A ata explicou que a divergência na decisão, que foi definida por 5 votos a 4, se deu em torno do ritmo a ser adotado na semana passada em função de um possível risco de credibilidade ao alterar a indicação que havia sido dada na reunião anterior, em março.

"Todos os membros concordaram que a adoção de uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicações futuras sobre os próximos movimentos mostrava-se mais apropriada diante do cenário global incerto e do cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas", disse o Copom na ata.

Na decisão de corte de juros, surpreendeu a divisão na votação, por 5 votos a 4, entre os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aqueles que já estavam na instituição na gestão Jair Bolsonaro. Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti, Ailton Aquino e Rodrigo Teixeira queriam um corte mais forte, de 0,50 ponto porcentual, como havia sido indicado na reunião anterior, em março.

O documento divulgado hoje mostrou que os membros dissidentes debateram sobre "o custo de oportunidade de não seguir o guidance (sinalização) vis-à-vis a mudança de cenário no período". Em março, o comitê havia indicado que reduziria a Selic em 0,50 ponto porcentual este mês. Mas, em meados de abril, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou, em evento em Washington (EUA), que o aumento da nebulosidade no cenário poderia levar à redução do ritmo.

A declaração foi dada em um momento de pânico do mercado financeiro, que repercutia a perspectiva de juros mais elevados nos Estados Unidos e a mudança da meta fiscal no Brasil, que foi de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para zero.

"Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê", explicou a ata.

"Para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o guidance, mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal para que o objetivo precípuo do Comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado.

Os indicados de Lula também consideraram que as projeções de inflação eram mais afetadas pela taxa de juros no fim do ciclo de queda do que pelo ritmo a ser adotado na reunião da semana passada. Assim, a manutenção do corte de 0,50pp ainda manteria a política monetária "suficientemente contracionista".

Além disso, enfatizaram que as reuniões seguintes, a partir de junho, demandariam mais flexibilidade "o que permitiria, à luz de novo conjunto de informação, calibrar a trajetória do instrumento de política monetária da forma apropriada". Foi a primeira vez desde agosto, quando começou o ciclo de queda, que o BC não sinalizou o que pretende fazer na reunião seguinte.

Cenário não se confirmou

Por outro lado, a corrente de cinco diretores que definiu o corte de 0,25pp considerou que cenário esperado em março, quando foi sinalizada a queda de 0,50pp, não se confirmou e que o novo ritmo era mais apropriado para o alcance da meta de inflação de 3,0% em 2025. Eles citaram a desancoragem adicional das expectativas de inflação, a elevação das projeções de inflação, o cenário internacional mais adverso e a atividade econômica mais dinâmica do que esperado.

"Para tais membros, o forward guidance (sinalização futura) indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário em relação ao que se esperava. Tais membros ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um guidance, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas", explicou a ata.

Na semana passada, chamou a atenção do mercado financeiro o racha no comitê na votação, embora a avaliação mais cautelosa do cenário foi acordada por todos os diretores, considerando que só consta do comunicado o que foi consenso no colegiado. Na avaliação de parte do mercado financeiro, essa divisão poderia indicar que o comitê pode ser mais leniente com o controle da inflação no próximo ano, quando os indicados de Lula serão maioria.

Isso porque o petista, desde o começo do seu terceiro mandato, tem feito críticas diretas ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, e ao patamar dos juros, que considera elevado. O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro, assim como os de Carolina Barros e Otávio Damaso. O mais cotado para assumir a liderança do BC é Gabriel Galípolo.

No comunicado, o Copom afirmou que o cenário externo mostra-se “mais adverso” atualmente devido à incerteza em relação à condução dos juros nos Estados Unidos e a velocidade do processo de desinflação global. Também avaliou que a economia doméstica tem apresentado maior dinamismo do que o esperado, o que, na prática, pode significa uma pressão adicional sobre a inflação. Além disso, disse que acompanhou os eventos na política fiscal e alertou que é importante manter a credibilidade para evitar impactos sobre a inflação e a política monetária.

Em relação às projeções oficiais do BC para o IPCA - índice oficial de inflação -, houve aumento ante março, de 3,5% para 3,8% em 2024 e de 3,2% para 3,3% em 2025, ano em que o BC está focado para colocar a inflação na meta. O alvo a ser perseguido é de 3,0%.

Próximo teste

Segundo o ex-diretor do BC Tony Volpon, além da discussão sobre a conveniência ou não de cortar a Selic de acordo com a sinalização dada em março, o que chamou a atenção na ata foi o fato de o grupo minoritário não ter traçado um cenário alternativo para justificar cortes adicionais da Selic. Dessa maneira, o economista afirma que a próxima reunião do Copom, em junho, será o "próximo teste de credibilidade" dos de diretores indicados por Lula. Caso a divergência tenha sido apenas o que foi descrito na ata, Volpon afirma que deve haver consenso pela manutenção dos juros em 10,50%.


— Não havendo algum fator positivo entre agora e a próxima reunião, não tem como o comitê como um todo votar por cortes adicionais da Selic. Essa aparente concordância sobre o diagnóstico e o compromisso em comum com a meta e ancoragem de expectativas indica que grupo de 0,50pp deve votar com a maioria para manter a Selic estável até que as condições melhorem --- disse Volpon.

— Vai ser o grande teste desse grupo. Tem que passar das palavras para ação. Só na próxima reunião que vamos ver se foi só a discussão da ata mesmo — completou.

Volpon, que hoje é professor da Georgetown University, em Washington (EUA), afirma que, em termos de avaliação sobre o cenário econômico, a ata não trouxe nenhum alento ou "luz no fim do túnel". Ele citou as considerações feitas sobre a incerteza no exterior, as expectativas de inflação, e o mercado de trabalho, todas mais negativas em relação à missão de colocar a inflação na meta. Além disso, desde a reunião da semana passada, o Boletim Focus trouxe nova piora na projeção para o IPCA de 2025, que subiu de 3,64% para 3,66%.

--- Com o diagnóstico oferecido e piora da Focus, não vejo espaço para cortes adicionais. Expectativa seria de uma pausa temporária, até a situação melhorar, não necessariamente de manter a Selic em 10,50% por tempo indeterminado --- avaliou Volpon, que considera que os dissidentes poderiam ter argumentado que a taxa de juros ainda está muito elevada e restritiva.

Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, o Copom "se prendeu" mais às expecativas de inflação do que à dinâmica da inflação corrente, cuja avaliação foi de que os dados mais recentes foram mais favoráveis. Nesse caso, a economista espera uma nova redução de 0,25pp em junho, mas avalia que os próximos passos da política monetária podem ficar condicionados a uma revisão positiva das expectativas. "E vemos o risco de já haver uma pausa em junho", disse, em relatório enviado a clientes.

Reputação

Já a economista-chefe e fundadora da consultoria Buysidebrazil, Andrea Damico, acredita que o Copom deve optar, de forma unânime, por um corte de 0,25 ponto porcentual em junho, levando a Selic a 10,25%. Seria, no entanto, a última queda do ciclo, que foi iniciado em agosto do ano passado, quando os juros estavam em 13,75%. Para ela, a ata mostrou explicitamente a tentativa do colegiado de mostrar que não há leniência com a inflação.

– (Os dissidentes) caminharam para uma justificativa mais técnica e concordam com a política monetária mais contracionista e com a retirada da sinalização futura. A impressão que dá é que devem votar por 0,25pp na próxima reunião. Deve ter consenso por 0,25pp.

Segundo a economista, a ata foi bastante dura em relação às avaliações sobre o cenário externo, a atividade econômica e o recado para a política fiscal. O Copom observou que houve piora na percepção sobre a situação das contas públicas por parte de agentes econômicos depois da mudança da meta fiscal de 2025 (de superávit de 0,5% do PIB para zero).

Marcelo Fonseca, economista-chefe da REAG Investimentos, por sua vez, considera que a ata não foi capaz de explicar a divergência na votação do Copom. Segundo ele, após as declarações de Campos Neto em Washington, não havia mais "custo reputacional" de abandonar a sinalização dada em março. Desse modo, avalia que o documento divulgado nesta terça-feira não desfaz a desconfiança com o grupo de diretores indicados pelo governo atual.

--- Do ponto de vista técnico, o cenário recomendava maior cautela. Não faz sentido utilizar o argumento da reputação da comunicação quando o cenário se alterou da forma como se deu.

Fonseca acredita que o Copom deve optar por pausar o ciclo de queda em junho, mas a expectativa é de que o "racha" entre os diretores continue.

--- O grupo a favor do 0,50pp ainda está se pautando pela inflação corrente temporariamente muito baixa e o patamar dos juros reais, que, para eles, ainda é muito alto.

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