Está farto de spam? Prepare-se: chegou a era do slop

Slop é um termo amplo que ganhou força em referência a conteúdo gerado por IA de má qualidade ou indesejado e que aparece em mídias sociais, cada vez mais, em resultados de pesquisa.

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Por exemplo, quando o Google sugeriu que o usuário poderia usar cola, quando alguém perguntou como fazer para o queijo grudar na pizza, isso é slop.

Uma oferta que aparece para você de um livro digital incrível mas que, quando você clica, não é bem assim. Isso é slop. Ou aquelas publicações que insistem em poluir seu feed do Facebook e que parecem ter surgido do nada? Elas também são slop.

O termo se tornou mais predominante no mês passado, quando o Google tornou padrão a busca por inteligência artificial em seus resultados de pesquisa nos EUA. A opção também está disponível no Brasil, para quem já se cadastrou no serviço.

Em vez de direcionar os usuários para links, o serviço apresenta a resposta a uma consulta diretamente com a ferramenta AI Overviews. Trata-se de um texto curto na parte superior da tela de resultados, que usa o Gemini, a IA do Google, para resumir as respostas possíveis para a busca.

O Google correu para introduzir a tecnologia após a Microsoft — que é parceira da OpenAI, do ChatGPT — ter incorporado a IA no seu buscador Bing e ver a sua ferramenta de buscas rapidamente saltar em popularidade.

E, agora, com Google, Bing e provavelmente outras ferramentas de busca tendo feito da IA uma prioridade, grandes quantidades de informações geradas por máquinas, em vez de curadoria humana, serão uma parcela cada vez maior da jornada dos usuários na internet.

Daí o termo slop — literalmente, lavagem, ou seja, os restos de comida usados para alimentar animais.

Kristian Hammond, diretor do Centro para Segurança Avançada de Inteligência de Máquina da Universidade Northwestern, vê como ponto crítico o fato de o texto elaborado pelo AI Overviews ser apresentado como uma resposta definitiva, e não como um ponto de partida para pesquisar determinado assunto.

— Antes você procurava algo e recebia de volta o que precisava para pensar sobre o tema — disse Hammond. — Agora, essa integração com os modelos de linguagem (como são chamados a nova geração de IA) é algo que não o incentiva a pensar. O incentiva a aceitar. E isso, na minha opinião, é perigoso.

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Para resolver um problema, dar-lhe um nome pode ser útil. E, embora slop seja uma opção, ainda é uma questão em aberto saber se este termo vai pegar ou se cairá na lixeira de gírias efêmeras.

Adam Aleksic, linguista e criador de conteúdo que usa o apelido etymologynerd nas mídias sociais, acredita que slop — que, segundo ele, ainda não chegou a um público mais amplo — é promissor.

—Acho que esse é um ótimo exemplo de uma palavra discreta no momento, porque é uma palavra com a qual todos nós estamos familiarizados. É uma palavra que parece ser naturalmente aplicável a essa situação. Portanto, ela é menos óbvia — afirmou Aleksic.

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O uso de slop para descrever conteúdo de IA de baixa qualidade aparentemente surgiu quando apareceram os primeiros geradores de imagens e infografias por inteligência artificial, em 2022. Alguns identificaram Simon Willison, um desenvolvedor, como um dos primeiros a adotar o termo — mas Willison afirma que ele já estava em uso muito antes.

"Acho que, na verdade, talvez eu tenha chegado bem tarde à festa!", disse ele em um e-mail.

O termo surgiu no 4chan, no Hacker News e nos comentários do YouTube, onde usuários anônimos às vezes expõem suas supostas proficiências em assuntos complexos.

— O que sempre vemos com qualquer gíria é que ela começa em uma comunidade de nicho e depois se espalha — disse Aleksic. — O fato de ser descolada é um fator que ajuda, mas nem sempre. Por exemplo, muitas palavras se espalharam a partir de um grupo de nerds de programação, certo? Veja a palavra "spam". Normalmente, a palavra é criada porque há um grupo específico com interesses em comum, com uma necessidade em comum de inventar palavras.

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No curto prazo, o efeito da IA nos mecanismos de busca e na internet em geral pode ser menos extremo do que alguns temem.

As organizações de notícias têm se preocupado com a diminuição do público on-line à medida que as pessoas confiam mais nas respostas geradas por IA, e os dados da Chartbeat, uma empresa que pesquisa o tráfego da internet, indicam que houve uma queda imediata nas referências do Google Discover para sites nos primeiros dias em que o "resumo gerado com IA" entrou em funcionamento nos EUA.

Essa queda, no entanto, se reverteu desde então e, nas três primeiras semanas desde a adoção da IA pela busca do Google, o tráfego geral de pesquisa para mais de 2 mil sites importantes nos EUA de fato aumentou, de acordo com a Chartbeat.

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Mas, à medida que as pessoas se acostumam com o papel cada vez maior da IA no funcionamento da internet, Willison, que se identifica como um otimista em relação à essa tecnologia quando ela é usada corretamente, acredita que slop pode se tornar o termo de referência para as conteúdos menos relevantes gerados por máquina.

— A sociedade precisa de maneiras concisas para falar sobre a IA moderna, tanto os aspectos positivos quanto os negativos. 'Ignore aquele e-mail; é spam' e 'Ignore aquele artigo; é lixo' são comandos úteis — ressaltou.