Museu de Amsterdã devolve Matisse a família judia forçada a vendê-lo durante a Segunda Guerra Mundial

A tela ‘Odalisca’ foi pintada pelo artista francês em 1920

Por El País — Haia, Holanda


'Odalisca' (1920-21), de Henri Matisse STEDELIJK MUSEUM AMSTERDAM

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GERADO EM: 27/06/2024 - 20:31

Museu de Amsterdã devolve obras de arte saqueadas

Museu de Amsterdã devolve pintura de Matisse a família judia vítima do nazismo, seguindo recomendação do Comitê de Restituição. Outra obra, de Kandinsky, também foi devolvida aos herdeiros após investigação sobre arte saqueada na Segunda Guerra Mundial.

A obra ‘Odalisca’, pintada pelo artista francês Henri Matisse em 1920, será devolvida aos descendentes da família do empresário têxtil judeu alemão, Albert Stern, que precisou vendê-la durante a Segunda Guerra Mundial. O quadro foi adquirido em 1941 pelo museu de arte moderna e contemporânea de Amsterdã, Stedelijk.

A direção do espaço confirmou nesta terça-feira 925) que a obra seria devolvida aos herdeiros por recomendação do Comitê de Restituição. Esse é um órgão consultivo do governo e considera plausível que a obra tenha sido usada para pagar a tentativa de fuga dos Sterns da perseguição nazista. Assim, ela se enquadra na categoria de “perda involuntária” para este tipo de retorno.

A chegada do quadro ao museu Stedelijk está documentada, e o vendedor foi o representante holandês da empresa têxtil de Albert Stern. Este último, escapou para Holanda em 1937, junto com sua esposa, Marie Ebstein, de Berlim. Era de origem judaica e estava fugindo do assédio das políticas racistas da Alemanha nacional-socialista, mas a tranquilidade durou pouco.

As tropas alemãs invadiram a Holanda em maio de 1940 e a ocuparam durante toda a guerra, até 1945. Precisando de dinheiro para evitar mais perseguições, Stern colocou "Odalisca" à venda e o Stedelijk a comprou por cerca de 5 mil florins na época, cerca de 229 mil reais atualmente. A tentativa de fuga fracassou e os Sterns foram deportados: Albert morreu em 1945; Marie sobreviveu e imigrou para o Reino Unido. Eles tiveram um casal de filhos.

A obra faz parte da coleção do museu desde 1941, e as dúvidas sobre sua procedência são constantes desde 2013. Este ano, o próprio museu publicou uma investigação sobre a origem das peças que chegaram durante a Segunda Guerra Mundial. Embora Matisse tenha pintado outras odaliscas entre 1917 e 1930, essa foi uma das reivindicações do Stedelijk, que agora admite“ a triste história que ela representa devido a sua relação oriunda de sofrimento indescritível causado a essa família”.

Essas são as palavras de Rein Wolfs, seu diretor, que descreveu como um “passo à frente” o fato de ter conseguido levar “junto com os herdeiros, esse caso ao Comitê de Restituição”. Esse órgão, criado em 2011, segue os chamados princípios de Washington sobre arte confiscada pelos nazistas, adotados em 1998 por 44 países. Embora não seja obrigatório, eles ajudam a reunir diferentes sistemas jurídicos nacionais em tais casos.

O Conselho Municipal de Amsterdã é o proprietário da coleção Stedelijk, e Touria Melani, conselheiro de arte e cultura, lembrou que “devolver obras de arte, como a Odalisca, pode significar muito para as vítimas”. “Como cidade, temos uma responsabilidade e um papel a desempenhar nessa questão”. Em 2009, a Associação Holandesa de Museus pediu aos seus membros que investigassem a origem de suas coleções, para elaborar um inventário das obras com circunstâncias suspeitas desde 1933 até o final da Segunda Guerra Mundial.

'Pintura com casas' de Wassily Kandinsky (1909), que foi devolvida para família Lewenstein — Foto: Reprodução

Se concentra apenas em objetos de arte e rituais judaicos em museus nacionais, e os resultados têm sido publicados desde 2013 em um site específico que permite consultar a história de cada peça. No momento, o banco de dados contém 172 objetos suspeitos de terem sido roubados, confiscados ou vendidos à força. Dos quase 15 mil arquivos de obras perdidas nessas condições, 470 foram devolvidos, conforme o site.

Nem todos os objetos recebem a atenção da pintura de Matisse. Mas um outro, intitulado "Pintura com casas" (1909) e assinado pelo expressionista russo Vasili Kandinsky, também na coleção permanente do Museu Stedelijk, foi devolvido em 2022 aos herdeiros do colecionador holandês Emmanuel Lewenstein, cujo filho precisou fugir dos nazistas em 1940, para a França.

O pai era um fabricante de máquinas de costura de origem judaica, que havia comprado a obra em 1923, por 500 florins. O Conselho Municipal de Amsterdã a adquiriu em um leilão, em 1940, por 160 florins, quando os Lewensteins já haviam fugido. Esse caso teve várias reviravoltas antes de ser resolvido, pois não foi possível provar a perda não intencional da obra por seu proprietário. O comitê de Restituição declarou, em 2018, que a família já tinha problemas antes da Segunda Guerra Mundial e os descendentes“ não demonstraram um vínculo emocional com a pintura”. Pelo contrário, a obra era “essencial para o museu” e não deveria ser devolvida. Em 2020, os herdeiros processaram o município e o Stedelijk, e perderam o caso.

No mesmo ano, a chamada Comissão Kohnstamm, encarregada de investigar a abordagem da Holanda em relação ao problema da arte saqueada pelos nazistas, concluiu que cerca de 3.800 peças em posse do Estado tiveram origem na situação criada durante a guerra e minimizou a importância dos interesses dos museus. O conselho da cidade endossou esses argumentos e, em 2021, a devolução da pintura de Kandinsky foi acordada. Ela foi entregue em 2022 aos descendentes da família Lewenstein.

Em fevereiro de 2023, o jornal holandês NRC anunciou que ela havia sido comprada por um colecionador particular por 60 milhões de euros, aproximadamente R$ 353,3 milhões. A transação foi intermediada por uma casa de leilões.

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