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Em meio a uma das maiores séries recentes de protestos em universidades americanas, centrados na guerra em Gaza e no apoio político e militar dos EUA a Israel, uma palavra é quase uma unanimidade: “desinvestimento”. Na teoria, um pedido para que suas instituições deixem de investir em empresas ligadas a uma determinada questão, crise ou país — no caso, Israel. Na prática, um objetivo espinhoso, por vezes custoso e cuja eficácia nem sempre é garantida.

Nas últimas semanas, a Universidade Columbia recebeu demandas para se livrar de todos os investimentos em empresas que estariam lucrando com a guerra em Gaza. Isso inclui ações de companhias do setor de tecnologia, como a Alphabet, controladora do Google, de hospedagem, como a Airbnb, e dos setores aeroespacial, armamentista e de maquinário pesado.

De acordo com a Columbia Investment Management Company, responsável por gerir as finanças da universidade, a instituição hoje soma US$ 13,64 bilhões (R$ 70,81 bilhões) em bens, incluindo investimentos em papéis das empresas citadas pelos manifestantes. Até o momento, a administração rejeita os apelos.

A Universidade Yale, que tem o terceiro maior fundo patrimonial das instituições nos EUA — US$ 40,74 bilhões (R$ 211,49 bilhões), segundo a Associação Nacional de Funcionários de Negócios de Faculdades e Universidades —, também é pressionada a se livrar de ações do setor armamentista. Na semana passada, 60 pessoas foram presas em um ato próximo ao campus principal, em Connecticut, onde os pedidos pelo 'desinvestimento' foram a palavra de ordem, ao lado de “cessar-fogo”.

Em 2018, Yale tomou uma decisão histórica: eliminou investimentos em fabricantes de armas pesadas, como fuzis de assalto, direcionadas para venda a civis, decisão ligada à onda de ataques envolvendo esse tipo de armamento nos EUA. Os ativistas querem agora que a decisão seja ampliada para todas as empresas do setor, mas a comissão responsável por gerir os bens de Yale declarou que companhias que vendem para forças de segurança — incluindo exércitos — não se enquadram na cláusula de “grave risco social”, que levaria ao corte de investimentos

O Sistema de Universidades do Texas — que inclui a Universidade do Texas em Austin, onde ocorreram dezenas de prisões e agressões de professores pelas forças de segurança — tem, segundo associações de estudantes, investimentos em empresas como a Lockheed-Martin, Boeing, Northrop Grumman e Raytheon. Todas têm negócios com o governo de Israel, e fornecem desde itens de radar até os avançados caças F-35, usados na guerra em Gaza. A Associação Nacional de Funcionários de Negócios de Faculdades e Universidades afirma que o fundo patrimonial da Universidade do Texas é o segundo maior dos EUA, e chega a US$ 45 bilhões (R$ 233,60 bilhões).

Apartheid, prisões e crise climática

O “desinvestimento” é um velho conhecido nos campi americanos. Em 1985, a Universidade Columbia viu longos protestos em defesa da retirada de investimentos em empresas que fizessem negócios com a África do Sul, durante o regime do Apartheid. Foram três semanas até que a administração aceitasse ouvir os apelos do corpo acadêmico, e mais alguns meses até que fosse tomada a decisão de vender ações de companhias como American Express, Chevron, Coca-Cola, Ford, General Motors, IBM e Mobil.

Segundo reportagem do New York Times da época, o valor da operação foi de US$ 39 milhões (US$ 113.205.836,43, ou R$ 587.674.138,08, em valores atualizados). Nos meses seguintes, cerca de 110 universidades e faculdades se juntaram à iniciativa. O regime do apartheid terminou no começo dos anos 1990.

Em 2015, em mais uma vitória do corpo estudantil de Columbia, o conselho da universidade concordou em retirar seus investimentos em empresas que administram o sistema prisional dos EUA, como a G4S, argumentando que as prisões americanas são um ambiente “violento e racista”, e voltadas só para o lucro. Seis anos depois, em 2021, Columbia anunciou que não investiria em empresas cujo negócio principal fosse “a exploração e produção de combustíveis fósseis”. Nos dois casos, universidades de todo o país seguiram a iniciativa.

Na terça-feira, a pressão dos estudantes fez a direção da Universidade Brown, em Rhode Island, concordar em realizar uma votação sobre o corte de investimentos ligados a empresas que mantenham laços com Israel. A decisão veio após negociação com um grupo de estudantes acampado no campus principal desde a semana passada — com o anúncio, os alunos começaram a desmontar as barracas. Além da votação, marcada para outubro, o grupo exigia a retirada das acusações contra 41 estudantes presos em uma ocupação em dezembro do ano passado, mas essa demanda não será atendida neste momento, informou a reitoria.

Ao mesmo tempo em que o “desinvestimento” leva o discurso político para o lado financeiro, colocar os planos em prática nem sempre é simples. A começar pela composição dos fundos patrimoniais: segundo especialistas, os gestores destinam uma pequena parcela a investimentos diretos, como compras específicas de papéis de uma companhia, e preferem investir em fundos onde nem sempre podem escolher as ações que compõem suas carteiras. E mesmo nos casos em que o "desinvestimento" ocorreu, ele produziu poucos efeitos sobre os lucros das companhias, e raramente alterou os preços das ações negociadas.

— A economia é tão global hoje que mesmo se uma universidade decidir que vai orientar seus grupos de gestão para retirarem os investimentos ligados a Israel, seria algo quase impossível de fazer — disse à CNN Nicholas Dirks, ex-reitor da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Mexer em temas sensíveis, como a guerra Israel x Hamas, traz riscos ao próprio financiamento das instituições. Nos últimos sete meses, empresários cortaram doações alegando que as universidades não agiram para “controlar” a situação nos campi e para “combater o antissemitismo”. E esse é um dinheiro impossível de deixar de lado: em 2022, a Universidade Harvard, a mais rica dos EUA, disse que 45% de seu orçamento anual foi composto por doações. Uma decisão mais aguda, como vender ações de companhias como Boeing ou Google sob alegação de que elas mantêm negócios com Israel, pode servir de pretexto para que mais ex-alunos deixem de assinar cheques.

Já á os defensores do “desinvestimento” questionam a suposta ineficácia da estratégia, e apontam para um caso que consideram ser de sucesso. Desde 2005, uma coalizão de organizações pró-Palestina defende uma política chamada "BDS", sigla para “Boicote, Desinvestimento, Sanções”: ela prega que, enquanto não houver um Estado palestino, com liberdades aos civis, o direito à autodeterminação e à segurança, Israel deve pagar um preço econômico, acadêmico e político.

Desde então, o movimento liderou boicotes, pressionou lideranças empresariais e causou alguns bilhões de dólares em prejuízos — após o início da guerra, gigantes globais como McDonalds e Starbucks enfrentaram protestos e quedas nas vendas por serem acusadas de “apoiar” o conflito em Gaza. Em resposta, vários países, a começar por Israel, aprovaram “leis anti-BDS”, e em 2019 a Alemanha declarou o movimento “uma entidade antissemita”.

O relativo sucesso do BDS e de campanhas similares no passado reforçam o argumento de que, embora não tenham grandes impactos econômicos, o discurso e a exposição das empresas citadas já incitam um debate público, e que pode pressionar lideranças locais e globais, além dos próprios empresários, por mudanças de rota.

— As pessoas criticaram [esses movimentos] por usarem o objetivo do “desinvestimento” porque é um objetivo simbólico, e se a universidade deixa de investir em algo, haverá alguém que comprará as mesmas ações — disse à CNN Savannah Pearson, que participou de uma greve de fome em 2019, ligada aos protestos contra os investimentos em empresas de combustíveis fósseis. — [Mas] símbolos têm muito poder, e podem inspirar outras escolas a fazerem o mesmo.

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