Os drones americanos que sobrevoam o Mar Negro aumentam significativamente o “risco de confronto direto” da Rússia com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, advertiu nesta sexta-feira o Ministério da Defesa russo. O órgão alertou, em comunicado, que “esses voos aumentam a probabilidade de incidentes no espaço aéreo com aviões das forças russas, o que por sua vez eleva o risco de um embate direto”.
“Os países da Otan seriam os responsáveis”, continuou. A nota foi emitida cinco dias após o Kremlin acusar Washington de ser responsável por um ataque ucraniano com mísseis fornecidos pelos EUA contra a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, que deixou quatro mortos. Na ocasião, o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov, disse que “a participação direta” dos americanos nos combates, levando à morte de cidadãos russos, “tem que ter consequências”.
O Ministério da Defesa russo afirmou ter observado um aumento no número de “veículos aéreos estratégicos não tripulados americanos sobre as águas do Mar Negro” e acusou Washington de usar esses voos para ajudar a Ucrânia a atacar alvos russos.
Veja ataque russo com drones a Kiev
Em reunião com a mídia internacional no início do mês, o presidente russo, Vladimir Putin, criticou o envio de armas de longo alcance para a Ucrânia pelas potências ocidentais. Ele argumentou que se tratava de um “passo perigoso”, e que Moscou poderia fornecer armas semelhantes a outros países. Putin disse, ainda, que a ação dos aliados de Kiev poderá minar ainda mais a segurança internacional, embora tenha declarado que não tem intenção de atacar países da Otan.
— Se alguém acha que é possível fornecer tais armas a uma zona de guerra para atacar o nosso território e criar problemas para nós, por que não temos o direito de fornecer armas do mesmo tipo para algumas regiões do mundo onde possam ser usadas para lançar ataques contra instalações sensíveis dos países que fazem isso com a Rússia? — disse Putin numa entrevista coletiva com meios de comunicação estrangeiros.
Em maio, o presidente dos EUA, Joe Biden, suspendeu as restrições para que a Ucrânia usasse armas fornecidas por Washington contra alvos em território russo, mas apenas para defender a região de Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana e que está sob intensos ataques. As autoridades ucranianas, por sua vez, dizem que querem usar armas fabricadas nos Estados Unidos para atacar aeronaves russas no espaço aéreo russo e bases aéreas dentro da Rússia.
O ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, deu instruções ao Exército “para que apresentem propostas para uma resposta operacional às provocações”, informou o ministério no comunicado emitido nesta sexta-feira. Os Estados Unidos, por sua vez, afirmam que os voos com drones que realizam sobre o Mar Negro são feitos em um espaço aéreo neutro e de acordo com o direito internacional.
Em março de 2023, a Rússia interceptou um drone americano MQ-9 Reaper sobre o Mar Negro, o que fez temer um confronto direto entre as duas potências nucleares num momento de crescente tensão pelo conflito na Ucrânia, que teve início em fevereiro de 2022.
'Diplomacia europeia'
Também nesta sexta-feira, o Kremlin afirmou que a renovação do mandato de Ursula von der Leyen à frente da Comissão Europeia e a nomeação da estoniana Kaja Kallas como chefe da diplomacia do bloco são “ruins” para as relações da União Europeia (UE) com a Rússia. Peskov, o porta-voz da Presidência, disse que Von der Leyen “não é partidária de uma normalização das relações entre a UE e a Rússia, e Kallas é “conhecida” por declarações “russofóbicas”.
— As perspectivas das relações entre Moscou e Bruxelas, portanto são ruins, e não achamos que a diplomacia europeia pode atuar para normalizar as relações — acrescentou.
Ursula von der Leyen teve seu mandato no cargo, que ocupa desde 2019, renovado em uma cúpula da UE em Bruxelas. Os chefes de Estado e de Governo da UE também decidiram nomear a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, uma das vozes mais enérgicas contra a ofensiva militar russa na Ucrânia, como chefe da diplomacia do bloco. Ela sucede o espanhol Josep Borrell no cargo. (Com AFP)