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A opinião do GLOBO.

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Soa como oportunismo eleitoral o empenho do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), pré-candidato à reeleição, para erguer o novo estádio do Flamengo no terreno que abrigou o antigo gasômetro, na região portuária. Um decreto do Executivo permitiu desapropriar o imóvel, abrindo caminho ao projeto rubro-negro.

O Flamengo pretende construir lá uma arena para 80 mil torcedores. O projeto não decolava por impasses na negociação com o fundo administrado pela Caixa para investir na revitalização da área. Em ano eleitoral, Paes decidiu agradar à maior torcida do Rio. Ele alega que o empreendimento não erguerá apenas o estádio, mas também espaço de entretenimento e centro de convenções. A bem-vinda recuperação da Zona Portuária não implica, porém, a construção de outro estádio no Rio.

A despeito de interesses clubísticos e eleitorais, a cidade não carece de novo estádio, ainda mais a apenas 3 quilômetros do Maracanã. Está bem servida com os que tem. Palco das Copas de 1950 e 2014, dos Jogos Pan-Americanos de 2007 e da Olimpíada de 2016, o Maracanã passou por uma reforma de mais de R$ 1 bilhão para se adaptar ao padrão Fifa. Hoje comporta 80 mil torcedores. O Nilton Santos (Engenhão), administrado pelo Botafogo, recebeu obras de R$ 52 milhões para se tornar um estádio olímpico para 45 mil pessoas. Há ainda São Januário, que, pelo plano do Vasco, deverá ser reformado.

Com mais um estádio, o maior impacto recairá sobre o Maracanã, um dos mais tradicionais do mundo. Propriedade do governo estadual, ele hoje é administrado por Flamengo e Fluminense em regime de concessão. O Flamengo tem dito que não o abandonará, mesmo com a nova casa. Mas é improvável que erga uma estrutura orçada em R$ 2 bilhões para jogar apenas de vez em quando. Dificilmente um único clube teria condições de manter o Maracanã sozinho.

Como mostrou reportagem do GLOBO, a manutenção do complexo é cara. Um dos principais desafios da concessão tem sido torná-la economicamente viável diante das limitações comerciais e do pagamento de outorga ao estado. O custo de uma partida absorve até 60% da bilheteria. Pelo contrato, Flamengo e Fluminense terão de desembolsar R$ 400 milhões em obras de recuperação do Maracanã e do Maracanãzinho, além de construir um novo museu. Hoje o modelo de concessão dificulta o uso para entretenimento.

Em vez de erguer um novo estádio, o melhor seria o governo rever as regras da concessão do Maracanã — que acaba de ser renovada por 20 anos —, a fim de corrigir os problemas e de torná-lo um bom negócio para os clubes. Seria péssimo para a cidade e para o país se o Maracanã se tornasse mais um elefante branco, como acontece com estádios construídos ou reformados para a Copa de 2014, que passam a maior parte do tempo às moscas. Um dos melhores e mais populares estádios do mundo não pode ser palco apenas de jogos ou shows eventuais. Com queda no público, a conta da manutenção sobrará para o estado. Para todas as torcidas, portanto.

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