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A opinião do GLOBO.

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O aniversário de 30 anos do Plano Real, amanhã, prova que o Brasil, quando unido em torno de uma meta, tem plena capacidade de superar a realidade mais adversa. A comemoração desmente a crença derrotista, popular em alguns círculos, de que os avanços por aqui são de pouca monta. Um exame do passado ensina que o maior dos problemas pode ser vencido se houver clareza de propósito e determinação. É preciso resgatar o espírito que animou o Real para encarar os desafios do futuro, independentemente da dificuldade que aparentem. Seu maior legado é comprovar o poder das ideias e da perseverança.

A nova moeda entrou em circulação em 1º de julho de 1994. Nos 12 meses anteriores, a inflação alcançara inacreditáveis 4.922%. Para as novas gerações, o número — mais de mil vezes o atual — pode soar abstrato. Na época, era bem concreto. A maioria dos assalariados, sem a proteção das aplicações financeiras, corria aos supermercados depois de receber, pois comida e itens básicos estariam mais caros no dia seguinte. Estocar alimentos era uma espécie de poupança. Passado o dia de pagamento, os varejistas ficavam vazios.

Usar cheques era comum depois das 16h. Com os bancos fechados, o desconto só viria no dia seguinte, abrindo espaço para ganhar uma vantagem extra na transação. Motoristas faziam fila em frente a postos de gasolina antes das repetidas remarcações de preço. A falta de referência de valor tornava difícil planejar a compra de imóveis e todo tipo de investimento. Nas empresas, o planejamento era uma abstração. Isso derrubava o crescimento da economia e a geração de empregos. No exterior, brasileiros eram questionados sobre como era viver num lugar com hiperinflação. Éramos uma atração bizarra.

Nada parecia dar conta do problema. Logo depois da redemocratização, o Plano Cruzado apostara numa nova moeda e no congelamento de preços. Fugaz e enganador. Ainda em 1986, foi anunciado o Cruzado 2. Em seguida, viriam os planos Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991). Houve todo tipo de tentativa. Do aumento das taxas de juros ao absurdo de confiscar os depósitos bancários. Em comum, todos deram errado. A sensação de incapacidade para derrotar a alta cotidiana dos preços era indiscriminada. A inflação parecia ser parte inseparável da cultura nacional.

No governo Itamar Franco, economistas escolhidos pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, enfim adotaram a estratégia certa para quebrar esse passado. Antes do lançamento do real, foi criado um sistema de conversão, a Unidade Real de Valor (URV). Enquanto esteve em vigor, foram necessários mais e mais cruzeiros reais para atingir o valor de uma URV, mas esta se mantinha estável, garantindo a ancoragem dos preços. Quando entrou em circulação, um real valia uma URV, ou CR$ 2.750.

Mesmo adotando uma estratégia inovadora, o Plano Real dependeu do Congresso para dar certo. De lá para cá, a moeda erradicou a hiperinflação, passou por altos e baixos, mas se impôs. O principal reflexo positivo foi a melhora no poder de compra dos mais pobres, evidente quando se comparam os indicadores sociais. Olhando para a frente, não faltam problemas que parecem insolúveis. Da crise fiscal à educação, da saúde à segurança pública, é preciso resgatar o espírito inspirador do Plano Real. Se o país venceu a hiperinflação, pode dar conta do resto também.

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