Envolvente e de boa conversa, o técnico de informática Lourival Correa Netto Fadiga se tornou amigo, há três anos, da família da advogada e estudante de Psicologia Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 55. Apontado pela polícia como o mentor do desaparecimento da vítima, vista pela última vez ao sair de um shopping, em Petrópolis, na Região Serrana, no dia 29 de fevereiro, o suspeito ganhou a confiança da família ao se apresentar como policial federal. O argumento serviu para que Lourival se tornasse responsável pela segurança pessoal do grupo familiar, chegando, inclusive, a acompanhar a advogada e Benjamim Cordeiro Herdy, de 78, marido de Anic, em algumas viagens.
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Nesta quarta-feira, a Polícia Federal informou que Lourival não é policial e que nunca sequer integrou a corporação. Esta não foi a única farsa montada pelo suspeito de ser o mentor do desaparecimento da advogada e um dos quatro presos preventivamente pelo crime. Entre outras coisas, ele chegou a enviar mensagens de um número telefônico, que a família da vítima usava apenas em viagens, para entrar em contato e exigir dinheiro de resgate. "As mensagens dos supostos sequestradores partiram do telefone celular, cadastrado em nome de Benjamin. Restou demonstrado nas investigações que o referido chip estava com Lourival", diz um trecho do relatório de investigação da 105ª DP (Petrópolis).
Mais de oito horas após Anic desaparecer, Benjamim recebeu em seu telefone uma mensagem de texto, enviada por um aplicativo, onde uma pessoa dizia estar com a estudante em seu poder. O autor do comunicado dizia inda que estaria monitorando em tempo real a casa onde Benjamim estava." Benjamim, estamos com sua mulher. Ela está bem. Nada vai acontecer com ela. Só depende de você... Não fale com ninguém nem envolva a polícia. Providencie R$ 4,6 milhões. Sei que você vai precisar de um prazo para sacar este valor. Só para te lembrar. Estou vendo sua casa pelas câmeras do celular dela (de Anic)", dizia parte do texto da mensagem enviada. Segundo a polícia, o autor das mensagens seria o próprio Lourival. Além disto, o suspeito também chegou a instalar as câmeras de segurança na residência da família, as mesmas mencionadas no aviso dado por quem alegava estar com a vítima seu poder.
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A farsa de Lourival não parou por aí. Segundo relatório de investigação, o suspeito foi o responsável por pressionar Benjamim a protelar o registro do caso em uma delegacia. Assim, no dia 11 de março, após novos contatos feitos por aplicativo de mensagens, o marido de Anic foi instruído a levar o dinheiro do resgate em uma mochila até um shopping, na Zona Oeste do Rio. O autor do aviso pedia ainda que Gordo, apelido de Lourival, deveria ser acompanhar Benjamim. No meio do caminho, no entanto, o suspeito alegou ter recebido um novo comunicado em seu telefone, determinando que ele próprio deveria levar a mochila com a quantia exigida para ser colocada em uma cesta de lixo do terreirão, no Recreio dos Bandeirantes.
Enquanto isso, Benjamim deveria aguardar no shopping pela mulher, que seria libertada. Nenhuma das duas coisas aconteceram. Segundo a polícia, Lourival nunca foi ao Terreirão. Na verdade, ele levou amochila até uma concessionária da Barra da Tijuca, onde comprou uma picape por R$ 500 mil, pagando em espécie. Ele também foi a outra loja onde comprou uma motocicleta, no valor de R$ 30 mil. Apesar do pagamento do resgate, Anic não voltou e continua desaparecida.
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A filha de Benjamim e Anic soube do desaparecimento da mãe e procurou a polícia, no dia 14 de março, três dias após o resgate ser pago. No dia 20 do mesmo mês, o técnico de informática foi preso e a farsa começou ser descoberta. Além dele também estão presos outras três pessoas: dois filhos de Lourival e uma ex-namorada. Todos são suspeitos de ajudarem de alguma maneira ao suspeito a executar a trama que acabou com o desaparecimento de Anic. Segundo a polícia, após ser flagrada pela última por uma câmera, no Centro de Petrópolis, ela teria entrado em um carro dirigido por Lourival.
Segundo um depoimento de uma testemunha, os dois mantinham um relacionamento amoroso. A Polícia Civil trabalha com a hipótese da advogada tenha sido assassinada. Um novo inquérito foi instaurado na 105ª DP para tentar apurar o que aconteceu com Anic.
Advogada desaparecida:
- A advogada e estudante de Psicologia Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos, está desaparecida desde o dia 29 de fevereiro de 2024.
- Quatro pessoas suspeitas do desaparecimento compraram um veículo de luxo no valor de R$ 500 mil, uma motocicleta e 950 telefones celulares um dia após a família dela pagar uma quantia em dinheiro exigida para libertação da vítima, segundo a denúncia feita pela Promotoria de Investigação Penal de Petrópolis. Eles estão presos.
- Lourival Correa Netto Fatiga, amigo da família, é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) como mentor do desaparecimento. Ele nega envolvimento no crime.
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