Familiares e amigos do policial militar Rafael Wolfgramm Dias, que morreu na noite deste domingo após ser baleado no abdômen na última terça-feira durante uma operação no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, estiveram no IML, no Centro, para aguardar a liberação do corpo. Muito emocionada, a mãe do PM, que era lotado no Batalhão de Operações Especiais (Bope), falou sobre o filho.
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— É meu filho querido, filho que eu amo, amo muito e vou amar eternamente, nunca vou esquecer meu filho, nunca. Um filho maravilhoso, que ajudava todo mundo, que era amigo de todo mundo. Que era família, sabe? Muito família. Essa recordação vai ficar pra sempre no meu coração, ora sempre mesmo — disse Irenilda Wolfgramm Dias em entrevista ao RJTV, da TV Globo
Irenilda se disse comovida com a solidariedade dos amigos de seu filho, que se mobilizaram para dar apoio à família nos seis dias em que ele esteve internado lutando pela vida no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB):
— Fiquei muito comovida, muito feliz de saber, de ver, porque nem eu imaginava que meu filho era tão querido como ele é, sabe? Sei que era uma boa pessoa, mas na hora a gente nem imagina, mas fiquei muito feliz mesmo de ver a comoção, as pessoas ali ajudando da melhor forma possível, dando apoio, sei que vou continuar tendo o apoio de todo mundo.
De acordo com o primo Juan Pablo Wolfgramm, de 40 anos, Rafael era uma pessoa prestativa, gentil e que pensava sempre no próximo. O oficial sonhava em fazer parte da polícia desde criança.
— Desde a infância ele queria fazer parte da polícia. Lembro de ele falar desde novo ‘vou fazer parte da polícia e ponto’. Ele fez parte dos Bombeiros também, depois foi pro Bope. Fez todos os cursos possíveis para se especializar e ser o melhor no que fazia — disse o primo.
Juan relembrou ainda de momentos que viveu com o primo e da convivência que ele tinha com a família:
— Fui com ele comprar o primeiro carro, lembro disso até hoje. Ele era uma pessoa sensacional. Tinha um grupo só para organizar viagens em família, para conhecermos novos lugares. Na tragédia de Teresópolis organizou para arrecadar cestas básicas para o pessoal. Meu primo sempre quis ajudar a todos, fazia tudo pela esposa e filho.
Rafael iria completar 38 anos na próxima quarta-feira (19). A data comemorativa seria celebrada em um culto, realizado em Itaguaí, com amigos e parentes. Luciano Cerqueira, que passou a infância com o sargento, conta que todos estavam ansiosos para a festa e que até camisas com o rosto do oficial seriam produzidas. No entanto, as peças tiveram de ser alteradas para serem usadas no velório.
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— Ele era um herói para todos nós. Um homem de bem, sempre procurou ajudar a comunidade. Não era aquele cara da ostentação, pelo contrário. Iríamos fazer um culto muito legal para ele na quarta, eu mesmo mandei fazer mais de 100 camisetas. Agora a gente está apressando o pessoal da gráfica para mudar as coisas e poder usar amanhã no velório — explicou.
O velório de Rafael Wolfgramm Dias será realizado nesta segunda, na parte da noite, na Câmara Municipal de Itaguaí. A ideia é que o corpo passe a noite no local e às 12h de terça-feira vá em cortejo com viaturas e ônibus do Bope até o Jardim da Saudade, em Sulacap, onde será realizado o enterro, às 14h30. Ele deixa uma esposa e um filho.
De acordo com colegas de farda, órgãos vitais de Wolfgramm foram comprometidos pelo tiro. Durante o tempo em que ele ficou internado, parentes e amigos fizeram uma campanha pedindo doação de sangue. Neste domingo, a esposa dele, que se identifica como Ro Milesi no Facebook, postou uma convocação para um clamor pelo marido.
A Polícia Militar lamentou a morte do agente. De acordo com a corporação, o sargento Wolfgramm tinha 37 anos e ingressou na corporação em 2008. Ele deixa um filho. O Bope também lamentou a morte e afirmou que ele era muito querido pela tropa.
Segundo PM morto
Wolfgramm foi o segundo agente morto na operação. A outra vítima foi o também sargento do Bope Jorge Henrique Galdino Cruz. Os dois sofreram uma emboscada feita por traficantes de drogas. Um terceiro agente do batalhão que estava com eles ficou levemente ferido. Cinco suspeitos também morreram na ação, de acordo com a PM.
Reação violenta
A operação gerou uma violenta reação por parte dos traficantes da Maré. Um ônibus foi queimado na Avenida Brasil, na pista sentido Zona Oeste, na altura da Fiocruz. Um caminhão foi atravessado na pista. A Linha Vermelha ficou fechada por cerca de dez minutos. Motoristas que passavam pelas vias expressas relataram momentos de terror.
Na quarta-feira, a PM voltou à Maré, mas não houve confrontos. Nesta quinta-feira, por volta das 11h, houve um intenso tiroteio no complexo de favelas na chegada de equipes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que fizeram uma perícia no local onde os PMs foram baleados, no Morro do Timbau.
Durante o último final de semana, a PM manteve o policiamento reforçado no conjunto de favelas, situação que se repete nesta segunda-feira.
Bandido mais procurado do Ceará
A operação de terça-feira visava a prender bandidos que roubam carros na região da Maré. Vinte e três suspeitos foram presos — 11 deles vindos de outros estados. Entre o grupo estava Ismario Wanderson Fernandes da Silva, o Bacurau, um dos criminosos mais procurados do Ceará.
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De acordo com o portal "Mais procurados", da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), Bacurau é chefe de uma organização criminosa que atua em Itaitinga (CE). Investigado também por tráfico de drogas, contra ele havia um mandado de prisão em aberto por homicídio.
* Estagiário sob supervisão de Leila Youssef
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