Morta na manhã desta terça-feira quando aguardava um ônibus em Bonsucesso, na Zona Norte do Rio, Deborah Vilas Boas Pires da Silva, de 27 anos, havia realizado um sonho há 7 meses: ser mãe. Ela deixou uma filha. Deborah foi atingida por uma bala perdida durante um confronto entre bandidos que tentaram roubar uma moto e policiais militares na Linha Amarela. Na ocasião, o passageiro de um coletivo que passava pela via expressa também foi atingido. José Carlos da Silva Miranda, de 64, morreu na hora.
As duas vítimas estavam a caminho do trabalho e foram mortas por balas perdidas no tiroteio. Tudo começou por volta das 5h quando quatro bandidos, em um carro (HRV), abordam um homem e uma mulher, que são colegas de trabalho e estava em uma moto na saída 6 da Linha Amarela, para roubar o veículo. Um policial, que estava no local, percebeu a ação e tentou impedi-la. Segundo a Polícia Civil, os assaltantes reagiram e houve confronto.
Na fuga, os criminosos atiraram também contra o ponto de ônibus, onde estava Deborah. Um dos disparos atingiu ainda o coletivo da Viação Tinguá, no qual estava José Carlos. Um foi suspeito baleado e preso. Identificado como Alexsandro de Andrade Venâncio, de 24 anos, ele está internado em unidade hospitalar sob custódia.
Uma equipe da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi ao local, realizou perícia e iniciou as investigações para identificar os suspeitos e a autoria dos disparos que atingiram as vítimas. Duas armas que pertenciam aos bandidos foram apreendidas e serão periciadas. A do policial foi recolhida com a mesma finalidade, segundo a Polícia Civil.
'Mesversários' e fases da gravidez
O marido da Deborah, Wallace Souza, esteve no local do crime no começo da manhã e de lá foi direto para o Instituto Médico Legal (IML), na Avenida Francisco Bicalho, no Centro, cuidar da liberação do corpo, que será sepultado nesta quarta-feira no Cemitério Jardim da Saudade, em Suacap. Muito abalado e chorando, era amparado o tempo todo por familiares e não quis falar com a imprensa.
O casal estava junto há cerca de dois anos e vivia um bom momento pessoal. Os dois tinham terminado de construir a casa, onde moravam na Vila da Penha e tiveram a filha. Em seu perfil no Instagram, Deborah costumava postar fotos das comemorações de "merversários" da menina. Ela também compartilhou diferentes fases da gravidez e imagens de seu chá revelação.
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Deborah era filha única. Ela trabalhava no departamento financeiro de uma clínica médica na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, para onde se dirigia no momento em que foi atingida.
'Um amor de menina'
Waldir Souza Guimarães, tio de Wallace descreveu Deborah como uma pessoa doce, "um amor de menina", nas suas palavras. Ele lamentou a morte da jovem, a caminho do trabalho, criticou a violência da cidade.
— Débora é um amor de menina, 27 anos, com uma filha de 7 meses. Saindo de casa para ir trabalhar. E aí, de repente, um tiroteio no meio da rua. A gente não pode mais andar no Rio de Janeiro, não pode sair de casa. Ou se sai, não sabe se vai voltar.
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O tio do viúvo, que falou rapidamente pela família com a imprensa, disse que Deborah era uma pessoa especial e quando entrou para a família do sobrinho foi adotada por todos.
— Na realidade eu sou tio do esposo dela, mas era uma pessoa tão especial que a família toda adotou e está aqui. Porque ela é da família. Os dois estavam começando uma vida e ceifaram a vida dela. E acabaram a do meu sobrinho também. Com a família dele e com a nossa também — lamentou.
'Uma simpatia'
A ambulante Regina Lúcia Gomes, de 68 anos, que há 27 vende café e balas perto do ponto do ônibus onde morreu Deborah contou que a jovem era sua cliente há pelo menos seis anos. A mulher, que costuma chegar ao local por volta das 4h, disse que sente vontade de ir embora do Rio, mas lamenta que a violência hoje está por toda parte. Ela contou como era sua relação com a vítima:
— Era uma cliente que eu não tenho palavras para descrever. Uma simpatia. Uma pessoa muito boa. Passava por aqui todo dia e costumava comprar um cafezinho com leite, principalmente quando estava grávida.
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Nessa terça, Deborah passou pela banca, mas não parou para falar com a "tia do café". Quando soube dos baleados no tiroteio, dona Regina disse que não acreditou que uma das vítimas fosse sua cliente habitual, quando soube do crime.
— É tanta Deborah. Podia ser outra. É muito triste. A ficha ainda não caiu. Foi tiro para tudo quanto é lado. Me escondi e não vi mais nada — contou a ambulante, que conversava com um PM, também cliente habitual, quando o crime aconteceu, pouco depois das 5h.
A mulher, que mora perto do local onde monta sua banca de 4h ao meio-dia, disse que o bairro já foi mais tranquilo. Hoje está muito violento. O ponto, que costuma ter bastante movimento fica na esquina das avenidas dos Democráticos e Além Paraíba, altura da saída 7 da Linha Amarela.
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