DESESTATIZAÇÃO
SABESP NEGOCIADA
A Companhia de Saneamento e Abastecimento do Estado de São Paulo (SABESP), considerada exemplo de gestão pública, agora será comandada pela iniciativa privada. O governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), consolidou assim a imagem de bom gestor para demonstrar nas eleições de 2026 o seu compromisso com a redução da máquina pública. Os números são superlativos. Com 28,4 milhões de clientes em 375 municípios, a Sabesp é uma das maiores empresas do mundo do setor. A venda de 32,3% de suas ações, liquidada hoje, 22), arrecadou R$ 14,8 bilhões, e a procura por ações foi superior à da abertura do capital da Companhia Petróleo do Brasil (Petrobras S/A), ocorrida anda no final dos anos 1990, no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2022).
A desestabilização de companhias publicas de saneamento ganhou força com a aprovação, há quatro anos, do Marco do Saneamento, que busca elevar mega investimentos privados no setor e definiu a meta de levar água encanada a 99% da população e coleta de esgoto a 90% até 2033.
O Marco do Saneamento atrai recursos para construir redes de esgoto nas regiões negligenciadas por décadas, que sofrem com as doenças associadas à falta de saneamento básico. A SABESP tem ações negociadas em bolsa de valores desde 1997, e em 2023 registrou lucro líquido de R$ 3,5 bilhões. Na sua área de cobertura, 98% da população tem abastecimento de água e 93%, coleta de esgoto. E a companhia desfruta de boa imagem entre os cidadãos paulistas.
Técnico de formação altamente qualificado, o Governador Tarcísio de Freitas já havia comandado processos de desratizaçoes e concessões como ministro de Estado da Infraestrutura no governo Jair Messias Bolsonaro (2019-2022). No governo de São Paulo Freitas optou por não vender completamente a SABESP, mas transmitir sua gestão a uma acionista de referência, que terá 15% das ações, e pulverizar outros 17,3% das ações no mercado. Com isso, o Estado de São Paulo reduziu sua participação na companhia de 50,3% para 18%. E no leilão na B3 (bolsa de valores) apenas uma empresa manifestou interesse, a Equador, que tem experiência consolidada no setor de distribuição de energia. Os controladores da Equador pagaram R$ 6,9 bilhões pelas ações, a um preço unitário de R$ 67.
No modelo adotado, o mesmo valor por ação pago pelo acionista de referência foi aplicado na venda pulverizada, que rendeu R$ 7,9 bilhões – a maior parte comprada por fundos nacionais e internacionais. O valor de R$ 67 por ação foi 18,3% menor do que o preço das ações negociadas em bolsa na última quinta-feira, quando foi confirmada a venda pulverizada. O contrato.assinado pela Equador prevê entre as obrigações da nova SABESP universalizar o saneamento até 2029, quatro anos antes do prazo, além de investimentos de R$ 68 bilhões na rede. O processo também destina 30% do valor líquido arrecadado com a desestatização a um fundo para obras de saneamento e subsídios tarifários.