Desde que comecei a trabalhar na mídia estrangeira, passei a enxergar o jornalismo brasileiro de uma forma diferente. Sempre ouvimos falar que a mídia tem seus vieses, mas a situação está tomando proporções preocupantes. O que deveria ser uma profissão pautada pela imparcialidade, busca incansável de respostas e defesa da liberdade de expressão, se tornou uma guerra de pontos de vista pessoais, afetando diretamente a credibilidade da profissão.
Ainda na faculdade, já era possível sentir essa polarização durante as aulas. Em vez de focarmos nas ferramentas que fazem de um jornalista um bom profissional, grande parte das discussões girava em torno das opiniões pessoais de professores e colegas. Claro, todos têm o direito de ter um ponto de vista, mas quando se está ali para ensinar ou aprender uma profissão, o foco deveria ser outro, não acha?
O que vejo hoje é uma geração de jornalistas que confundem suas convicções com a verdade absoluta. Não buscam apenas informar, mas criar narrativas. Isso não se restringe à política ou esporte, mas abrange praticamente qualquer tema. A imparcialidade está sendo deixada de lado.
Isso não ocorre apenas no Brasil. Outros países democráticos também enfrentam esse fenômeno, mas aqui parece ter tomado proporções desmedidas. Uma sociedade que não pode confiar na imprensa para se informar se perde no mar da desinformação, e o Brasil já está à deriva nesse mar há tempos.
Outro ponto que me incomoda é como a liberdade de expressão se tornou algo seletivo. Quando conveniente, ela é exaltada, mas, dependendo do envolvido, essa liberdade parece encolher, se moldando às narrativas. Isso desvirtua o papel do jornalismo, que não deveria ser guardião de convicções, mas dos fatos, por mais incômodos que sejam.
E as perguntas? Ao invés de perguntar para entender, muitos jornalistas as fazem para afirmar suas crenças. A pergunta já vem carregada de julgamento, como se só existisse uma forma de pensar e uma única resposta certa.
Claro que isso não se aplica ao jornalismo opinativo, onde é natural expressar opiniões. Porém, até nesse campo, falta disposição para o diálogo. Vejo jornalistas se fechando em suas bolhas, sem abrir espaço para o contraditório.
Não estou generalizando. Existem muitos jornalistas bons, que levam a sério a ética e a imparcialidade, correndo atrás da informação sem medo de serem contrariados. Mas esses jornalistas estão se tornando minoria, o que é alarmante.
O que me preocupa é o efeito disso na sociedade. Quanto mais polarizados estão os jornalistas, mais dividida fica a população. O jornalismo deveria ser uma ponte entre os fatos e as pessoas, não um muro onde cada um escreve o que bem entende.
Nós, jornalistas, somos intermediários dos fatos. Se quisermos resgatar a confiança do público, precisamos voltar às raízes da nossa profissão. Afinal, quando o jornalista se torna o dono da verdade, o público se perde na mentira.