Publicação de João Victor Chiquito de Carvalho

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Advogado graduado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Sobre a especialização do Direito. Eu tenho certa descrença na especialização do conhecimento, como já escrevi em um artigo, que também deixei publicado aqui nesta rede. Quando se trata do Direito, vejo que a especialização é mais prejudicial ainda. A uma, porque o Direito, enquanto disciplina que regula as relações sociais, não deve ser complexificado a ponto de gerar tamanha insegurança e desconhecimento nos jurisdicionados: os destinatários da norma não são os especialistas e memorizadores de textos legais, são os cidadãos comuns. E também porque o bom direito não deve ser descolado da ética e dos princípios gerais, como a boa-fé e a razoabilidade. O bom Direito não se faz pela criação de infindáveis normas específicas, que sancionam o cidadão que pisa fora das estreitas linhas estabelecidas pelo ordenamento. O bom direito se faz com fito nos príncipios, na lógica, naquela palavra já desgastada e fora de moda: a justiça. E esse desiderato, nem de longe, será atingido pelo engessamento social, por meio de leis e outras modalidades infralegais de norma. Já trabalhei com alguns magistrados, uma minoria "boca da lei", outros mais sensíveis à justiça no caso concreto. Posso afirmar, de olhos fehados, que os que sopesavam a situação real, para depois traduzir na linguagem normativa, produziam decisões melhores. "Sentença" vem do verbo latino "sentire", que denota que o julgador ouviu, sentindo os argumentos das partes. “Acórdão”também tem significado similar, tem a mesma raiz eimológica de "coração", transmitindo que o julgamento deve ser sentido. Apesar de poder parecer, não estou aqui defendendo que o direito deve ser substituído pelo puro sentimento dos juízes. Apenas defendo que o direito não deve ser complexificado a ponto de, em vão, tentar disciplinar a vida. Além de indesejável, porque cria uma sociedade amedrontada e engessada, produz injustiça e é ineficaz, porque a necessidade sempre buscará formas para contornar a norma. Um bom jurista faz Direito com base na lógica jurídica, na ética e nos princípios gerais, e consegue revelar a justiça mesmo quando ela está em oposição ao texto da lei. E isso se faz não conhecendo texto de portarias, decretos, e outros, isso se faz pelo estudo da Filosofia, pelo exercício do pensamento crítico e pelo conhecimento dos fundamentos do Direito.

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