Quando pararemos de romantizar a exaustão materna?
Por baixo da fantasia de guerreira estão ombros sobrecarregados, pele ferida, corpo dolorido. Está a ansiedade que precisa ser cada vez mais medicada pra que se consiga alguma funcionalidade.
Por trás do “Não sei como você consegue” está a solidão, a ausência de apoio, a desconfiança com as nossas capacidades e competências.
Manter um razoável equilíbrio entre a vida profissional e pessoal não deveria ser uma missão impossível, mas algo perfeitamente comum, acessível a todos os gêneros, raças e classes sociais. Importante dizer que não acredito no equilíbrio como algo estático, um ponto perfeitamente justo e igualitário, mas uma dança, um movimento constante que nos impulsiona a andar pela corda bamba da vida sem despenar para nenhum dos extremos, um ajuste constante do passo, ritmo e destino.
Mas cada vez que nos chocamos com o que uma mulher “dá conta” estamos assumindo que, nesta busca por equilíbrio, ela está só, fazendo malabarismo com pratos pesados e desiguais.
Como a sua empresa vê as colaboradoras? Oferta apoio ou apenas joga pesos insuportáveis?
Entende a manutenção da vida como uma responsabilidade social ou reafirma o violento ditado de “Quem pariu Matheus que o embale”?
Ainda acredita que a licença maternidade é um problema a ser evitado ou entendeu que, após a chegada de um filho, há uma potencialização das capacidades de uma mulher?
O exercício do cuidado nos transforma, homens e mulheres. As competências que desenvolvemos ao cuidar de uma criança não ficam restritas à essa relação, mas ampliam as nossas capacidades de empatia, gestão de crise, escuta e criatividade em todos os âmbitos da vida. Nos faz melhores, em casa e no mercado de trabalho. Eu sei que vocês gostam de jargões em inglês, então, lá vai, o cuidado é um curso intensivo de aprimoramento das nossas soft skills.
De nada adianta uma bela festa de dia das mães, uma palestra motivacional emotiva, um buquê de rosas, se não vierem acompanhados de ações que duram todo o ano. Se não vierem de mãos dadas com escuta atenta, disposição para mudança e coragem para lidar com os incômodos que certamente surgirão pelo caminho.
Entre escolher ser uma boa mãe e uma profissional competente, eu fico com os dois.
E tenho certeza que a maioria das mães que você conhece gostaria de poder fazer essa escolha também.
