Publicação de Leandro Lemos Alves

Ver perfil de Leandro Lemos Alves, gráfico

Gerente de novos negócios na Syensqo | Química, Desenvolvimento de Produtos

A foto abaixo me traz sentimentos contraditórios. É de uma fazenda de madeiras, em sua maioria composta por eucaliptos. A fazenda é simplesmente gigantesca e era conhecida como Fazenda Sama. Provavelmente, produz madeira há mais de 70 anos. Inúmeros colegas e conhecidos já trabalharam ou ainda trabalham na atividade de extração e transformação de madeiras. É um trabalho duro, com longas horas e muita mecânica envolvida, seja com caminhões ou máquinas, realizado em condições difíceis e com muitos riscos. Mas é um trabalho essencial, diga-se de passagem. Sabemos que o trabalho molda a sociedade, e a falta dele também. A fazenda foi adquirida há alguns anos por um novo dono (ou vários). Decidiram extrair toda a madeira da fazenda em um ritmo muito acelerado para reflorestar com flora nativa, transformando-a em uma área de preservação, provavelmente para obtenção de créditos de carbono. Sinceramente, tenho sentimentos contraditórios em relação a essa transformação da utilidade da fazenda. É claro que traz inúmeros benefícios, como a recomposição da fauna de maneira mais acelerada. A fazenda, mesmo sendo de corte, é lar de alguns animais como a onça-parda, antas e outros. Por outro lado, o ofício de extração de madeira na região se extingue, impactando tanto na vida financeira das famílias quanto na sua cultura. A fazenda, de geradora de valor, passa a ser vista como bolsista na visão de alguns, ou ainda, de exploradora da fauna e flora, passa a retribuir um pouco à natureza depois de tantos anos de serviço. Eu, sinceramente, fico confuso.

  • Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem
Paulo Pavan

Executivo de Inovação | Pesquisa | Sustentabilidade | Sci. Advisor | Membro Open Mind Brazil

5 m

Caro Leandro, muito legal você expor essa ambiguidade. A geração de valor com plantios de florestas comerciais são fartamente demonstados em fatos e dados sempre que se parte de área degradada (por exemplo improdutiva ou pasto). Por outro lado, (e na mesma direção) a regeneração de florestas com espécies nativas e diversas é ainda mais poderosa em benefícios ambientais, fauna e flora. Sobre a geração de valor econômico, estamos entrando em um momento que os serviços ecosistêmicos têm sido cada vez mais reconhecidos e valorizados. Para os não negacionistas, já há muita evidência que o valor de florestas nativas preservadas (incluindo valor econômico) é maior do que aquele obtido com sua exploração “insustentável”, derrubada. A comparação que fiz não é direta, mas nos traz insights. As florestas plantadas, pela força do desenvolvimento econômico, tem sido empurrada para áreas mais marginais, e via de regra avançam sobre área degradada (isso é lógico, terra improdutiva e “desgastada” é mais barata). E ao fazer isso impõe um grande benefício em sustentabilidade. Uma floresta comercial, transformada para nativas vai forçar esse avanço da floresta plantada sobre terras degradadas. Todos ganham com isso!

Entre para ver ou adicionar um comentário

Conferir tópicos