A ORIGEM DAS MÁS AUDITORIAS DE CERTIFICAÇÃO
Por mais que muitos defendam heroicamente os serviços de certificação ISO 9001, ainda tentando encontrar entregas de valor, é mais do que patente que o nível decresce a passos largos.
Há muitas causas que podem ser exploradas e discutidas de forma a entender o porquê disto.
Excluindo os aspectos relativos à imparcialidade, conflito de interesses, desvio de propósito, orientações equivocadas etc., não há como ignorar o nível técnico, experiência, enfim, a expertise dos auditores.
Quando penso já ter escutado e visto de tudo, eis que surge mais uma pérola que corrobora com o que escrevi acima.
Ontem recebi o testemunho de um profissional que atua na conhecida "área da qualidade", o qual acabou de fazer um curso de Formação de Auditor Líder de SGQ ministrado por um conhecido organismo de treinamento, o qual também é um braço, parceiro, sócio oculto de um organismo de certificação.
Vejamos o que esse profissional me relatou indignado:
"Fiz a seguinte pergunta ao instrutor: Professor[sic], se a norma ISO 9001:2015 tem quase metade de seus requisitos direcionados exclusivamente à Alta Direção, quanto tempo da agenda deveria estar disponibilizado para auditar o executivo principal?"
Resposta do instrutor:
" Deve ser uma hora no máximo, logo depois da reunião de abertura, pois a maioria dos diretores não gosta de ser "questionado" por muito tempo. Eu reconheço que as normas possuem itens relacionados com a Alta Direção, mas eu não arrisco a ter problemas deste tipo em auditoria. Recomendo ainda que o plano de auditoria tenha somente uma hora de agenda para a diretoria."
Vamos tentar decifrar essa abordagem, a qual me leva a entender que:
a) O instrutor está transmitindo um limitado conhecimento;
b) O instrutor está querendo dar legitimidade às auditorias de certificação e consequentemente a seus colegas auditores que cumprem o mesmo expediente, isto é, não demandam mais de 1 hora para analisar 50% dos requisitos da Norma em juízo;
c) O certificador, por intermédio de seus auditores, perdeu totalmente sua independência de avaliação, pois não importa mais o quê e como auditará, desde que isso não incomode o cliente avaliado;
d) Ao declarar que um auditor (mormente os de certificação, pois representa um e age como) não deve se arriscar a auditar a Alta Direção, a qual não gosta[sic] de ser questionada, ele mesmo instrui seus alunos que as auditorias não devem assumir seu caráter intrínseco;
Se este fato relatado não é a demonstração explícita da degeneração das auditorias de certificação, dos treinamentos correlatos e serviços congêneres, não sei mais o que é.
Mal preciso criticá-los, pois a cada dia se autoflagelam. Esse tipo de assunto desvia o meu foco de escrever para ajudar, passar conhecimento, criar valor para as pessoas e organizações, mas não posso deixar passar em branco, pois enquanto poucos tentam remar para longe do rodamoinho, há uma multidão remando em sua direção.
Sapere aude!
Biomédica - Habilitada e especialista em Análises Clínicas, Especialista em Qualidade Analítica Laboratorial, Master in Bussiness Administration em Gestão da qualidade e processos. Auditora Interna DICQ e Avaliadora ONA.
8 mAlguma instituição a recomendar?