Da rubrica: Pensamentos soltos
Tenho tido conversas recorrentes em torno de um mesmo tópico em encontros de família e decidi vir aqui partilhar e sair um pouco da bolha.
A premissa inicial é como a inteligência artificial vem substituir os empregos das pessoas, principalmente na educação, uma vez que a IA será detentora de todo o conhecimento e as pessoas já não precisarão de professores para aprender.
Ora, eu sou da opinião que a inteligência artificial traz muitos benefícios (claro que há vários "tipos" de IA), nomeadamente ao nível de automatismos de tarefas, potenciando a eficiência das pessoas a realizar certas funções. No entanto, é preciso uma reestruturação e adaptação dessas funções, bem como capacitar as pessoas para o uso responsável e ético de ferramentas de IA, reduzindo a sua perceção de ameaça. Claro que a questão é bem mais complexa do que isto, existem diversos fatores a pesar desde a própria conceção dos modelos de IA até ao impacto que isso pode ter em termos de monitorização de comportamentos de consumidor e exposição a conteúdos enviesados e potencialmente falaciosos.
Mas o ponto principal que quero trazer e que para mim, nestes encontros de família, é mais interessante discutir do que se “os robots vão governar o mundo” é:
Antes o foco de preocupação estava no facto de as principais funções humanas que seriam substituídas seriam aquelas mais mecanicistas, nomeadamente mecânicos, eletricistas, et cetera (talvez ainda devido a sequelas da revolução industrial). Agora, a ameaça parece ser mais relativa a uma função que sempre foi motivo do ser humano se orgulhar e pregar a sua superioridade em relação a outros animais: a inteligência humana, a cognição, a capacidade cognitiva (o que lhe quiserem chamar).
Não deixa de ser interessante que a perceção de ameaça está afinal na capacidade da IA substituir competências humanas cognitivamente exigentes, como escrever revisões de literatura, resumir longos textos, explicar trechos de texto complexo, e muitas outras em diversas áreas. Será que isto afeta a nossa perceção do tipo de ameaça que a IA representa? Ou continuamos vinculados a cenários estilo “iRobot” que Hollywood tão bem sabe vender?
A discussão sobre o impacto da IA no futuro do trabalho é complexa. É importante que continuemos a debatê-la de forma transparente, informada e responsável. O futuro do trabalho será moldado pela tecnologia, mas mais ainda pelas escolhas que fazemos como sociedade.