Lançado há três semanas, o canal de Jude Bellingham no YouTube já ultrapassou 700 mil inscritos. Não atente-se ao número isolado, mas para o contexto: a marca é superior ao total acumulado de inscrições no perfil de 12 dos 20 clubes da Premier League na plataforma de vídeos.
O dado compartilhado por Steve Price em artigo publicado na Forbes reforça a tese do insider de que o documentário que narra a primeira temporada do jogador inglês no Real Madrid indica como será o futuro do conteúdo criado por jogadores.
“Out of the Floodlights” é uma amostragem de como os atletas podem estabelecer suas próprias marcas de mídia, e confirma a ascensão dos astros como criadores concentradores de audiências que superam o apelo das próprias equipes e organizações esportivas.
"A dinâmica de poder entre clubes e jogadores está mudando para dar aos atletas mais controle sobre seus direitos de mídia e imagem."
O então controle da narrativa por parte do jogador sugerido por Price reforça a colocação de Anthony McGuire sobre a iniciativa da sensação inglesa de apenas 21 anos: Bellingham preteriu lançar o produto na Netflix ou Prime Video para iniciar seu canal proprietário.
E acrescento: o jovem meio-campista escolheu o lugar que monopoliza a atenção de uma nova geração cujo consumo de esportes não é necessariamente ao vivo e se dá a partir de um formato multitelas.
A boa repercussão do case Bellingham também é conveniente para mostrar o quanto a oportunidade do YouTube ainda é desperdiçada pelos esportes.
Este ponto já havia sido levantado por Reed Duchscher em um artigo de maio, quando não havia qualquer indício das estreias de Cristiano Ronaldo e Bellingham na plataforma.
"Se você estiver assistindo a um jogo da NBA no YouTube, provavelmente verá vídeos sugeridos por Jesser quando terminar. O esporte é subvalorizado e deveria ser o foco dos criadores."
Jesser é o criador de esportes número 1 do YouTube. No ano passado, ele contratou o ex-líder de estratégias de podcasting de vídeo e de creators no Spotify para impulsionar o seu negócio digital nascido em 2013 como um canal de desafios e basquete.
Em novembro, contei sobre como o 'Bucketsquad' tornava-se uma alavanca para transformar Jesser no líder da próxima geração em mídia esportiva.
Tenho contado aqui como o golfe absorveu a cultura próspera dos vídeos sociais, e abraçou o movimento capitaneado por praticantes da modalidade que tornaram-se criadores, contribuindo para que o esporte fure a bolha.
A percepção de que o negócio do esporte engordou com o princípio da exclusividade nos leva a entender uma inversão da lógica tradicional. Em meio ao cortejo das grandes ligas esportivas pelos creators, agora, torna-se comum eles produzirem seus próprios programas cujos direitos de transmissão ficam 100% sob sua posse.
Lembra-se quando Price fala sobre o controle da propriedade intelectual por parte do criador? Este é o cenário que se delineia.