Esse excelente artigo me deu muita satisfação, pois entendi que tem mais gente, e gente muito fera como o Prof Alexandre Street falando de um assunto que tem me intrigado há algum tempo: a ineficiência do preço spot como precificador (alocador de recursos) da energia elétrica nos mercados ao redor do mundo, assim como no Brasil, onde há excesso de oferta. Essa ineficiência já foi discutida na escassez de oferta, e a criação de mercados de capacidade foi a solução. Agora o ponto é o excesso de oferta.
Me incomoda muito que seja "normal" existirem preços spot negativos, ou zero por muitas horas. Um gerador pagar para gerar é um aparente contrassenso, embora isso seja totalmente consistente com o cenários de oferta e demanda de vários mercados, onde a oferta com custo variável zero disponível é maior do que toda a demanda. Para selecionar então quem vai gerar, a solução é que quem quer gerar tem que pagar, e quem não pagar não gera.
Se entendi direito, o artigo propõe que tenhamos mercados também de atributos como flexibilidade, rampa e outros, para que as usinas detentoras desses atributos possam também ter outras fontes de renda por suas contribuições ao sistema. Eólicas e solares transformaram completamente, em poucos anos, o cenário de oferta de energia do Brasil, para melhor. Se elas não existissem, teríamos tido em 2021 um racionamento ainda mais severo do que foi 2001.
Mas eólicas e solares trouxeram consigo outros custos que ainda não estão sendo cobertos. A intermitência dessas fontes tem sido superada com o apoio das usinas hidrelétricas (UHEs), que não recebem um centavo por isso. As UHEs também tem tido papel fundamental na cobertura da rampa de carga do final da tarde, quando mingua a produção de eólicas e solares. Isso é um serviço ancilar, tem pouco a ver com energia e muito com potência, e também nada é pago às UHEs. O acréscimo de linhas de transmissão à rede também é decorrente dessa nova realidade, onde o excesso de oferta está no Nordeste e essa energia toda precisa poder ser escoada para o resto do país.
Num contexto onde a governança do setor, no sentido de definição de políticas, saiu das entidades setoriais e foi levada pelos lobbies para o Congresso - que não tem formação nem foco adequado para essa função -, difícil crer que esse problema vai ser encaminhado antes de termos alto risco de apagões diários no fim da tarde por falta de potência.
A ver os modelos de contratos do próximo leilão de capacidade: sua formatação será determinante para ver se haverá incentivos econômicos suficientes para mitigar esse risco. Mas será só para novas unidades geradoras, e as atuais também precisam ter seus atributos valorados adequadamente. Estamos usando os leilões de capacidade, que surgiram para resolver a escassez de oferta, como solução (paliativo?) para lidar com o excesso de oferta. Será esse o caminho?
Silvio, acredito muito neste caminho. Sim, o desafio esta na armazenagem de energia, mas a evolução tecnológica neste setor se mostra muito favorável!! Eu ja tenho minha usina e tb backup c baterias!!